Israelense libertada pelo Hamas relata tratamento no cativeiro e critica governo de Israel
Enquanto idosas eram soltas, israelenses matavam mais 700 e provocavam “noite sangrenta”, segundo o grupo palestino
Brasil de Fato | Botucatu (SP)
Enquanto as Forças Armadas de Israel intensificam os ataques em Gaza e o número de vítimas cresce após uma “noite sangrenta”, começam a vir à tona detalhes do que se passou com as pessoas capturadas no ataque surpresa do Hamas no último dia 7, à medida em que os primeiros reféns, de cerca de 200, são autorizados a voltar para casa.
Após 17 dias em cativeiro, duas idosas israelenses, Yocheved Lifshitz, de 85 anos, e Nurit Cooper, 79, foram libertadas na noite desta segunda-feira (23) por “razões de saúde e humanitárias”, afirmou o Hamas, que postou nas redes sociais um vídeo que registra o momento em que elas são entregues a funcionários da Cruz Vermelha.
As duas foram libertadas de Gaza para o Egito e depois transferidas para as Forças de Defesa de Israel, que as levaram para um hospital em Tel Aviv, onde os médicos disseram que estavam bem de saúde. O governo de Israel estima que pelo menos outros 220 reféns, incluindo os maridos das duas mulheres libertadas, ainda estejam sob custódia do Hamas.
Lifshitz concedeu entrevista coletiva do lado de fora do hospital, sentada numa cadeira de rodas. Contou sobre o cativeiro, disse que passou por uma vasta rede de túneis e que foi agredida nos primeiros momentos do sequestro, mas bem tratada depois que chegou ao cativeiro.
“Passamos por um inferno que nunca imaginamos. Eles (sequestradores) devastaram o kibbutz”, disse Lifshitz, que criticou a cerca erguida por Israel na fronteira com Gaza — “não ajudou em nada” —, acusou as Forças de Defesa de Israel de não levar a sério os sinais de que um ataque era iminente e disse que os sequestrados serviram como “bodes expiatórios”.
Segundo o New York Times, pelo menos 180 dos 400 residentes do kibbutz foram mortos ou sequestrados. Até esta segunda, cerca de 25 óbitos tinham sido confirmados pelas autoridades.
A idosa conta que, no início do trajeto, foi colocada sobre uma moto, de atravessado — pernas para um lado do banco, cabeça para o outro —, entre dois sequestradores. E que eles bateram nela com um pedaço de pau. A situação a machucava e dificultava sua respiração. Também retiraram seu relógio e joias.
Em seguida, foi levada à entrada de uma rede de túneis, que descreveu como “uma teia de aranha”, onde sequestrados e sequestradores percorriam “quilômetros” sobre um chão molhado. O relato, feito em hebraico em voz baixa, foi traduzido para o inglês por sua filha, que estava ao seu lado.
Após cerca de duas a três horas, segundo a lembrança dela, o grupo chegou a um grande salão onde cerca de 25 outros reféns estavam reunidos. “Eles nos disseram que acreditam no Alcorão e não nos prejudicariam”, disse Lifshitz sobre os sequestradores.
No mesmo dia, ela e outros reféns foram levados para uma sala separada e atendidos por um médico, que retornou a cada dois dias, e um enfermeiro, que providenciou medicamentos. “O tratamento que recebemos foi bom”, afirmou a idosa, que elogiou as condições sanitárias — “eles limpavam os banheiros” — e afirmou que eles cuidaram de todas as necessidades. “Isso deve ser dito para o crédito deles. Comíamos o que eles comiam”. Segundo a lembrança dela, havia uma refeição diária de pão pita, queijo e pepino.
Questionada sobre conversas com os sequestradores, ela relata que eles falavam sobre todo tipo de coisas, mas que os sequestrados se esquivavam de tecer comentários quando o assunto era política.
As idosas moravam no kibutz Nir Oz, atacado pelo Hamas no último dia 7. O kibutz foi um dos vários vilarejos a poucos quilômetros da Faixa de Gaza atacados pelo grupo terrorista no último dia 7. Sobreviventes que não foram sequestrados afirmam que cerca de um quarto dos 400 residentes do local foram assassinados.
Na última sexta (20), o Hamas havia libertado as primeiras reféns, duas estadunidenses, mãe e filha, após intervenção do Qatar. Na ocasião, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores deste país disse que a libertação ocorreu “após muitos dias de comunicação contínua” e que o diálogo sobre a liberação de outros reféns continuaria.
700 mortos em 24 horas em Gaza
Israel intensificou os ataques de segunda para terça e afirma ter atingido centenas de alvos na Faixa de Gaza, incluindo um campo de refugiados à beira-mar que abriga dezenas de milhares de pessoas deslocadas. O Ministério da Saúde de Gaza diz que os ataques mataram mais de 700 pessoas nas últimas 24 horas, descrevendo o episódio como uma “noite sangrenta”.
As autoridades palestinas dizem que, desde o início do conflito, os ataques israelenses mataram pelo menos 5.791 pessoas em Gaza e feriram mais de 16.297. Israel afirma que mais de 1.400 pessoas foram mortas do seu lado e mais de 5.400 ficaram feridas.
Brasileiro desaparecido
O Ministério de Relações Exteriores do Brasil confirmou nesta segunda que Michel Nisenbaum, brasileiro de 59 anos que mora em Israel e tem cidadania israelense, está desaparecido desde o dia 7. Ele é o único brasileiro considerado nessa condição.
Com informações do Washington Post, The Times of Israel e Folha de S.Paulo.
Edição: Vivian Virissimo