Às vésperas das convenções, esquerda tenta superar divergências internas em João Pessoa

Brasil de Fato

Em João Pessoa (PB), o campo político da esquerda tenta superar divergências internas para disputar as eleições municipais. O Partido dos Trabalhadores (PT) terá candidatura própria após longo impasse interno. O candidato será o deputado estadual Luciano Cartaxo. Ele terá como vice a empresária Amanda Rodrigues, também do PT. A chapa será confirmada na convenção do partido, no dia 28 de julho. 

A escolha por Cartaxo não foi pacificada. Ele concorreu internamente com a também deputada Cida Ramos, após decisão da direção local do partido sobre o critério para a escolha dos candidatos. O comando nacional do PT, porém, interveio no processo e decidiu pelo nome de Cartaxo, causando desconforto em uma ala do partido. Segundo a direção local, o PT nacional tem poder de decisão em municípios com mais de 100 mil eleitores. 

Parte do partido rejeita o nome de Cartaxo por ele ter saído do partido em 2015, no auge da Operação Lava Jato, e se filiado a outras legendas como PSD e PV. Cartaxo retornou ao PT em 2022, quando foi eleito deputado estadual com 22.272 votos. 

O PV e o PCdoB, que formam a Federação Brasil da Esperança com o PT, indicaram que preferem apoiar o atual prefeito, Cícero Lucena, do Progressistas. Apesar desse movimento, o PT deve confirmar a candidatura própria.

“A preço de hoje, é a candidatura que vai representar o partido, que vai ter que fazer esse enfrentamento ao bolsonarismo e à ultradireita. Apesar de ter sido um processo muito desgastante, nós esperamos que o PT possa sair fortalecido desse processo”, explicou Túlio Campos, presidente municipal do PT, em João Pessoa.

O Psol também enfrenta divergências internas. A disputa chegou a ser judicializada. Enquanto um grupo do partido aposta na candidatura própria do jornalista Celso Batista, outra ala prefere a aliança com o PT. Uma decisão da justiça impediu que o diretório do partido deliberasse sobre a candidatura própria e determinou que o tema fosse definido em uma plenária com a militância, que será realizada nesta quinta-feira (25). 

O grupo que prefere a aliança com o PT avalia que esta é a melhor estratégia para eleger os primeiros parlamentares do Psol na cidade e fortalecer o partido para 2026. 

“Essa unidade pode representar, já no primeiro turno, a derrota da extrema-direita aqui e o fortalecimento desse campo, fazendo com que a gente ocupe um lugar no parlamento municipal, que tem a ver com a disputa pelo Congresso Nacional que vem em 2026”, pontuou Tárcio Freitas, vice-presidente da Federação Rede/Psol, na capital paraibana. 

Em junho, o Unidade Popular definiu que Yuri Ezequiel será o representante do partido nas eleições. A escolha foi feita durante plenária na ocupação João Pedro Teixeira. Yuri é advogado e diretor municipal da UP em João Pessoa.

Direita também fragmentada

O atual prefeito, Cícero Lucena (Progressistas) tem liderado as últimas pesquisas de intenção de voto e terá como adversários, além dos nomes progressistas, figuras da extrema-direita na capital.

Lucena é um político tradicional da Paraíba. Ele tem 66 anos, já foi governador do estado, senador e está no terceiro mandato a frente da prefeitura de João Pessoa. Ingressou na vida pública ao ser candidato a vice-governador pelo PMDB de Ronaldo Cunha Lima, em 1990. Governou a cidade por duas vezes seguidas, entre 1997 e 2004.

Atualmente, o candidato à reeleição tem apoio de partidos da centro-direita, dialoga com setores dos movimentos populares e é aliado do atual governador, João Azevedo (PSB). Analistas locais acreditam que ele tem voto também entre eleitores da extrema-direita

Ruy Carneiro, do Podemos, também se coloca como uma opção da direita. Ele tem 54 anos e exerce mandato de deputado federal. Na descrição do Instagram, se define como defensor da causa animal, da luta contra o câncer e da campanha por um transporte de qualidade. 

O bolsonarismo terá um representante direto: o ex-ministro da Saúde de Jair Bolsonaro, Marcelo Queiroga, pelo PL. Queiroga nunca disputou eleições e tem a gestão da saúde marcada pelo negacionismo científico. 

Apesar da popularidade de Lula na Paraíba, a direita teve um bom desempenho nas urnas em 2022, com 49,90% e perdeu para o petista por uma margem pequena na capital paraibana. 

“As forças de esquerda, aqui na capital, estão muito enfraquecidas e divididas, justamente porque não têm perspectiva de poder. As pessoas não enxergam, por exemplo, o atual deputado Luciano Cartaxo, que foi prefeito duas vezes, como aquela força capaz de renovar os sonhos, as esperanças de esquerda e trazer o discurso de Lula para João Pessoa”, analisou Joel Cavalcante, do Movimento Brasil Popular.

Pautas em disputa

A mobilidade urbana será o tema mais abordado nos debates eleitorais, segundo avaliação dos dirigentes partidários. A cidade tem enfrentado problemas crônicos na oferta do serviço e paga a segunda tarifa mais cara do Nordeste, atrás apenas de Salvador.

Saúde, obras de infraestrutura e mais vagas de creche também estarão na agenda da disputa eleitoral deste ano. 
 

Da Redação