Cresce pressão para responsabilizar Elon Musk por interferências na política mundial com uso do X
Brasil de Fato
O bilionário conservador Elon Musk aumentou na última semana o número de desafetos devido a provocações e interferências políticas que faz por meio da rede social X, da qual é proprietário.
Em artigo publicado no jornal britânico The Guardian na segunda-feira (12), Bruce Daisley, ex-vice-presidente do Twitter para a Europa, Oriente Médio e África, defende que Musk deveria enfrentar “sanções pessoais” e até mesmo a ameaça de um “mandado de prisão” se estiver provocando desordem pública em sua plataforma de mídia social.
“Ele não fez absolutamente nada para combater as notícias falsas ou para tentar impedir que o X fosse usado como mecanismo para convocar protestos fascistas. Muitos líderes políticos no Reino Unido expressaram que ele deveria ser responsabilizado por esses fortes protestos que ocorreram” aponta Luigino Bracci, formado em Ciência da Computação pela Universidade Central da Venezuela (UCV).
Dias antes, em 5 de agosto o bilionário entrou em rota de colizão com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, ao afirmar que “a guerra civil é inevitável” no país, que enfrenta os piores tumultos em 13 anos, com ataques xenófobos e racistas a mesquitas e centros de migrantes.
Os disturbios foram provocados pela disseminação – pelo X – de fake news, por “influenciadores” de extrema direita, dizendo que o autor de um crime que vitimou três crianças seria solicitante de asilo muçulmano.
Alex Carvalho, cineasta brasileiro que mora em Londres há mais de 20 anos, classifica a declaração de Musk como “irresponsável e perigosa”. “Comentários como esse, vindos de figuras influentes, aumentam as tensões e podem provocar violência real. O governo britânico precisa levar essas declarações a sério e agir para mitigar seu impacto. No Brasil, também enfrentamos desafios semelhantes, onde discursos inflamados e polarizadores têm o potencial de gerar violência e instabilidade social.”
Na quinta-feira (8), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, suspendeu a rede social por 10 dias, e acusou Musk de “incitação ao ódio e ao fascismo”.
Bracci aponta que Musk se alinhou publicamente a líderes de extrema direita na América Latina como os presidentes de El Salvador, Nabil Bukele e da Argentina, Javier Milei, e que seu interesse na região está voltado para a extração do lítio e outros recursos naturais utilizados por suas empresas.
“Ele não pensa em ajudar esses países a saírem da pobreza, a estarem no mesmo nível dos países do primeiro mundo. Ele não pensa em nada disso, ele só pensa em nós em termos de obter os recursos de que precisa da forma mais barata possível.”
Coleta ilegal de dados
Além das interferências políticas promovidas por Musk, a rede social X enfrenta queixas em oito países europeus por uso “ilegal” de dados pessoais dos internautas para alimentar sua tecnologia de Inteligência Artificial (IA) sem o consentimento das pessoas, informou na segunda-feira (12) o Centro Europeu de Direitos Digitais, que tem sede em Viena, Áustria.
A organização, também denominada Noyb (“None Of Your Business” ou “não é da sua conta”, em tradução livre) afirma que a rede X “nunca informou aos usuários de maneira proativa que seus dados pessoais eram usados para treinar sua tecnologia de IA Grok”.
A Noyb apresentou ações na Áustria, Bélgica, Espanha, França, Grécia, Irlanda, Itália e Países Baixos, onde solicita um “procedimento urgente” contra o X para permitir a intervenção das autoridades de proteção de dados nesses oito países europeus. “Queremos garantir que o Twitter (agora X) cumpra plenamente a lei da UE que, no mínimo, exige a solicitação do consentimento das pessoas”, disse Schrems, que citou o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD).
O RGPD pretende facilitar o controle das pessoas sobre como as empresas utilizam suas informações pessoais. Segundo a Noyb, a rede social começou recentemente a alimentar com os dados de mais de 60 milhões de usuários europeus a sua tecnologia de IA Grok, “sem nunca informá-los ou pedir seu consentimento”.
A organização apresentou as ações depois que a Comissão de Proteção de Dados (DPC) da Irlanda adotou medidas legais contra o X por suas práticas de coleta de informações para treinar a IA. A DPC afirmou na semana passada que o X concordou em suspender o questionado processamento de dados pessoais dos usuários para sua IA.
Porém, Max Schrems, fundador da Noyb, afirma em comunicado que a DPC “não questionou a legalidade” do atual processamento, ao que parece adotando ações nas margens, não no centro do problema”.A organização também alertou que ainda não está claro o que aconteceu com os dados já incorporados.
*Com AFP