Eleições municipais no PR: conheça candidaturas a vereador que focam na questão ambiental
Brasil de Fato
Chuvas torrenciais, alagamentos, inundações, deslizamentos, ondas de calor e doenças epidêmicas passaram a fazer parte das preocupações cotidianas da população brasileira e têm impacto nas cidades.
A pauta ambiental ainda é tratada de forma tímida nos parlamentos, porém avança com candidaturas que colocam como prioridade e bandeira de luta a defesa do meio ambiente.
Nesta semana em que o período eleitoral começa oficialmente, o Brasil de Fato Paraná conversou com candidatos e candidatas a vereador que têm como objetivo levar para as câmaras municipais projetos que tragam mais qualidade de vida para as pessoas e soluções ambientais.
Representação do povo indígena
A representação dos povos indígenas é um dos objetivos de Kretã Kaingan, candidato a vereador por uma chapa coletiva do Psol do município de Piraquara, na região metropolitana. Cacique da Terra Indígena Tupã Nhe’e Kretã, no Paraná, ele é um dos fundadores do Acampamento Terra Livre (ATL) e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil/Sul, da qual é coordenador executivo.
O envolvimento na política tem raiz na família: é filho do primeiro vereador indígena do Brasil, Ângelo Kretã. Por isso, o atual candidato quer prosseguir com o legado da família e lutar pelo seu povo, pela preservação das florestas e proteção das matas nascentes.
“Decidi me candidatar porque precisamos ter representantes indígenas nas câmaras municipais e a pauta ambiental é a minha vida”, diz Kretã. Importante destacar que nas eleições de 2020 houve um aumento de vereadores indígenas eleitos; os prefeitos indígenas passaram de seis para oito, na comparação com as eleições de 2016. Já os vereadores aumentaram de 168 para 179.
Acesso à alimentação saudável
Já para Vanessa Calmon, candidata a vereadora pelo Psol de Curitiba, a destruição da natureza, a emergência climática e o acesso à alimentação saudável são alguns dos motivos que a levaram se decidir a concorrer às eleições de 2024.
“Meu ponto de virada para olhar as questões do meio ambiente foi quando em 2016 fiquei internada na UTI ao contrair uma infecção generalizada. Esse evento me fez buscar por melhor qualidade de vida e comecei pela alimentação macrobiótica. Então, percebi que o acesso a estes alimentos é restrito, as feiras orgânicas não estão na periferia, a agricultura familiar luta para resistir e os agrotóxicos são liberados aos montes e descaradamente”, diz.
Se eleita, Vanessa diz que a sua candidatura terá como objetivo mobilizar pessoas para regenerar coletivamente o meio ambiente, a sociedade e também a política. E, entre as propostas, quer criar programas de educação para a população a fim de implantar e manter as hortas orgânicas comunitárias sobre as diretrizes da agroecologia, criação do banco de sementes municipal e uma política de distribuição de cestas orgânicas para a população em vulnerabilidade, com foco nas periferias, garantindo a compra de produtores agroecológicos, escoando os produtos e propiciando segurança alimentar para as famílias.
Verdejar a cidade e combater as desigualdades sociais
Foi pensando nas desigualdades de acesso a uma cidade com qualidade de vida para todos que João Paulo Mehl, candidato a vereador pelo PT de Curitiba, resolveu se candidatar.
“A gente tem o bairro Água Verde, com parâmetros de vida similares ao da Noruega, em termos de IDH, e a região do bairro Parolin, esse mesmo índice de desenvolvimento humano é no mesmo patamar de Honduras, e a distância entre eles é de três quilômetros. Isso me faz pensar porque que em um lugar na mesma cidade, muito próximo, pode ter uma ótima qualidade de vida, enquanto outras famílias ainda perdem tudo na enchente, como é o caso do Parolin. Sou candidato para ajudar a recuperar o protagonismo que Curitiba já teve. E, dessa vez, a gente tem que virar referência sem deixar ninguém para trás”, diz
Seu envolvimento com a pauta do meio ambiente tem como referência um projeto já concretizado. “Rodei o Brasil e a América Latina construindo soluções para o comum e foi quando eu comecei a sonhar o Terraço Verde, com a criação efetiva dele em 2018, que consolidou o meu trabalho na questão ambiental. O Terraço Verde acabou se tornando uma referência nacional no desenvolvimento de soluções urbanas inovadoras e sustentáveis e, hoje funciona como um laboratório de políticas públicas e na construção de soluções urbanas sustentáveis”, diz.
Portanto, se eleito, diz querer “verdejar” a cidade. “A gente precisa verdejar Curitiba, promover a instalação de terraços verdes em prédios públicos, em prédios privados, concretizar essas tecnologias de cobertura vegetal que ajudam na gestão das águas de chuva, evitando enchentes e inundações”, diz. Além desta proposta, Mehl também quer propor o IPTU Verde, um benefício para o cidadão que adotar práticas sustentáveis, também acredito muito em implementar uma política de lixo zero, que reestrutura a gestão dos resíduos da cidade.
Soluções eficientes e sustentáveis
Para a candidata pelo PDT de Curitiba, a ecodesigner Bernadete Brandão, os legislativos precisam avançar em soluções que transformem a cidade na perspectiva da sustentabilidade. “Vejo a inexperiência no governo local para lidar com os eixos da sustentabilidade, a falta de diretrizes, estratégias e ação, a falta de escuta e ações desconectadas sem articulação de atores potenciais e a participação da população e vejo os interesses particulares”, diz.
E foi nos anos 80, no curso de Design de Produto que começou a pensar e criar soluções e ideias de impacto para melhorar a vida da população.
“No curso, comecei a aplicar raciocínios de economia e ecologia. Trabalhei como marceneira prestadora de serviços para outras indústrias, além de criativa em móveis e objetos feitos ‘de restos’, que é uma matéria-prima igual à outra, com o mesmo potencial e qualidade. Desde então busquei obstinadamente um olhar de projeto e execução que primasse a origem da matéria-prima e evitar abuso de água e química tóxica, evitar combustível fóssil e emissão de CO2, ou ainda substituir materiais não recicláveis e não renováveis”, relata.
Se eleita, quer principalmente propor soluções baseadas na natureza e inovação social. Entre as propostas, destacam-se criar alternativas para diminuir/adaptar o que é preciso no trânsito, modais, criar sistema integrado no lixo, incentivar agroecologia, como solução para saúde das pessoas e da natureza, educação para a paz, incentivar a educação da biomimética para crianças e jovens e criar um prêmio de Inovação e design baseado na natureza para jovens e empresas, etc.
Já para o professor Israel Montesuma, candidato a vereador pelo PDT de Guaratuba, litoral do Paraná, o objetivo é trazer soluções a partir da própria natureza. “Acredito que primeiro pelo estilo e filosofia de vida que me permitiu ter contato pleno com os elementos da natureza, como as águas do mar, rios e cachoeiras, o contato com as florestas, morros e montanhas através das práticas corporais e esportes de aventura. Outro elemento importante está na minha formação acadêmica e profissional, onde me tornei mestre em Geografia e graduado em Economia e Educação Física e por aproximadamente 20 anos de trabalho pude desenvolver diversos trabalhos de educação ambiental através da escola e principalmente pela cultura do surf”, conta.
Israel conta também que junto com a sua companheira são responsáveis por um espaço de bioconstrução em Guaratuba.
“Tem também o convívio e a minha formação familiar com minha companheira, que é doutora em ecologia e embaixadora Lixo Zero e temos um espaço de educação feito com bioconstrução e com manutenção de parte da floresta atlântica. Portanto a bandeira ambiental torna-se ponto central de nossa atuação na cidade de Guaratuba”, diz.
Se eleito, quer concretizar a criação e regulamentação de parques municipais, propor a lei da compostagem municipal, por meio da criação do sistema de compostagem municipal, a regulamentação do Fundo Municipal do Meio Ambiente, destinando parte do recurso para projetos de educação ambiental e regulamentação da lei de incentivo e do Fundo Municipal de Esporte e Cultura, como mecanismo de incentivo a atividades esportivas e culturais que tem a natureza e sua preservação como elemento central.
Fiscalização dos processos urbanos de meio ambiente
Olhar para o desenvolvimento urbano e meio ambiente é o desafio colocado por Laís Leão, candidata a vereadora pelo PDT de Curitiba. Ela diz que decidiu se candidatar para levar seu trabalho como urbanista à Câmara Municipal de Curitiba.
“Acredito que Curitiba precisa de uma urbanista na Câmara Municipal para fiscalizar os processos urbanos de meio ambiente, mobilidade e desenvolvimento urbano de maneira técnica, sustentável e eficiente”, diz.
A pauta do meio ambiente é transversal ao seu trabalho. “Obras públicas, transporte, mobilidade ativa, habitação e saneamento são todas pautas que tem uma conexão direta com a pauta ambiental. Discutir estas questões a partir da ótica da sustentabilidade é essencial para pensarmos num futuro viável e verdadeiramente inteligente para nossas cidades”, afirma Laís.
Sendo eleita vereadora, quer fiscalizar de maneira técnica e incisiva as licitações do transporte público e as obras públicas para que priorizem questões de sustentabilidade, preservação das áreas verdes e modelos sustentáveis de desenvolvimento urbano; legislação que incentive a instalação de infraestrutura verde de combate a enchentes e às mudanças climáticas; pacote de legislações urbanísticas mais modernas e inovadoras no fator sustentabilidade, permitindo um desenvolvimento sustentável de verdade
Parcerias e estudos para dar viabilidade às propostas
Para bióloga Valquíria Roberta do Rocio Souza, candidata vereadora pelo PDT Curitiba, é preciso estudar e fazer parcerias para que as propostas saiam da teoria e sejam, de fato, viáveis.
“Acredito que não adianta muita coisa ter pautas interessantíssimas na teoria se não são acessíveis e viáveis na prática. Por isso, defendo parcerias com indústrias, construtoras e empresas de grande porte que tenham conceitos ecologicamente corretos, pois elas podem contribuir para poder colocar em medidas educativas, projetos e obras ambientais e melhorar nossas políticas públicas”, propõe.
Formada em Biologia, já trabalhou junto às secretarias do Meio Ambiente, DNIT, supervisionou BR’s no Brasil, trabalhou no Nordeste com obras de revitalização do saneamento ambienta e com atropelamento de fauna. “Para enfrentar grandes opositores, temos que ter muita experiência para decisões que caibam no consentimento de quem assina e dá o aval para que as pautas sejam realmente concedidas e realizadas” diz.
Se eleita, irá levar também propostas para drenagem do solo a fim de melhorar o escoamento das águas das chuvas e diminuir os problemas causados pelas enchentes, principalmente nos bairros da região Sul de Curitiba.
Candidato pelo PDT de Foz do Iguaçu à reeleição como vereador, Kalito Stoeckl, diz que sua primeira experiência no Legislativo o fez compreender que é preciso trabalhar a partir do tripé meio ambiente, economia e sociedade. “Quando falo de meio ambiente, obrigatoriamente preciso estar atento às questões econômicas também e, por isso, venho me dedicando e estudando há tempos sobre o tema”, diz Kalito.
Ele conta que seu envolvimento com a pauta do meio ambiente aconteceu desde criança ao integrar um grupo de escoteiros. “Desde lá comecei a compreender que a sustentabilidade é formada por um tripé: meio ambiente, economia e sociedade”, diz.
Se reeleito, quer ampliar o trabalho pensando nas causas ambientais relativas à cidade. “Continuarei legislando para uma profissionalização dos serviços públicos e pela qualidade de vida das pessoas através do esporte e da atenção à mobilidade urbana”, conclui.
*A redação do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com as assessorias dos partidos solicitando lista de nomes de candidaturas oriundas de entidades e experiências ligadas à luta ambiental, que estarão concorrendo a vagas nas câmaras municipais do Paraná.