Descontrole das queimadas deixa para população prejuízo na saúde; saiba como se proteger

Brasil de Fato

A nuvem de fumaça que encobriu parte do Brasil na semana passada lançou um alerta para a população sobre as consequências que a poluição do ar pode causar à saúde.  

Autoridades, profissionais do setor, veículos de comunicação e até influenciadores das redes sociais se apressaram em abordar o tema para tentar orientar as pessoas quanto aos cuidados necessários em meio ao cenário de caos climático

Embora sejam extremamente necessárias, as recomendações esbarram em um debate mais amplo: se a raiz do problema está nas práticas do agronegócio e na fiscalização insuficiente, por que o prejuízo final sobra para a população? 

Pesam na discussão, ainda, os dados que mostram que as populações mais fragilizadas socialmente são as que mais sofrem as consequências dos desastres causados pela crise no clima no mundo todo. 

Segundo o relatório A Anatomia de uma Crise Silenciosa, produzido pelo Fórum Humanitário Global, as alterações climáticas causam a morte de mais de 300 mil pessoas por ano no planeta, 99% delas nos países em desenvolvimento. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, o pesquisador Guilherme Franco afirmou que os maiores riscos são impostos a pessoas grávidas, idosos e idosas, bebês e crianças. “Há uma competição entre o ar bom e o ar ruim dentro do nosso pulmão. Esses gases tóxicos entram no nosso organismo e causam uma série de reações que podem levar a determinadas doenças.”

O cenário de queimadas que afetou São Paulo na semana passada ilustra a gravidade da situação. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado registrou  mais de 1,8 mil focos de fogo em 23 de agosto. A escalada em relação ao ano passado é superior a 800%.  

Os prejuízos não se limitam à saúde da população. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) do estado de São Paulo estima que as perdas na agropecuária paulista ultrapassam R$ 1 bilhão, afetando principalmente os setores de pecuária, cana-de-açúcar, fruticultura, heveicultura e apicultura. 

Guilherme Franco afirma que a conta final é o resultado de práticas de ocupação do solo, que são consequência da concentração de terra, da monocultura e da desigualdade. “O Brasil, dos países continentais, é o único que nunca realizou uma reforma agrária”, ressalta ele. 

“Essa concentração de terras na mão de poucos produz aquilo que reverte muito pouco para a sociedade brasileira. Para colaborarmos com o compromisso que o Brasil tem com a agenda de mudança do clima, precisamos rever exatamente como é feito o uso da terra no Brasil, e isso é extremamente complexo”, completa. 

Na conversa, o pesquisador – que atua no Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e coordena a Agenda Saúde, Ambiente e Sustentabilidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – também falou sobre os cuidados que a população pode ter em momentos de crise. 

Entre as medidas possíveis estão uso de máscaras, permanência em ambientes internos, suspensão de atividades e atenção especial aos grupos vulneráveis.  

“O desafio é juntar o enfrentamento das crises ambientais e da crise climática com o enfrentamento à iniquidade, e dar prioridade para esse grupo populacional mais vulnerável. O SUS tem essa orientação de oferecer mais para quem tem menos. Isso é um elemento fundamental, um princípio fundamental que devemos sempre ter em mente para fazer com que a população sofra um pouco menos do que vem sofrendo.” 

Ouça a entrevista na íntegra no tocador de áudio abaixo do título desta matéria. 
 

Da Redação