Assim como a Terra, a China é redonda
Brasil de Fato
A China realiza a Primeira Mesa Redonda China-Estados Latino-Americanos e Caribenhos sobre Direitos Humanos, nesta terça-feira, 10 de setembro, no Rio de Janeiro. O objetivo é botar em ação a iniciativa da Civilização Global para aprofundar “os intercâmbios e a aprendizagem mútua entre as civilizações chinesa e latino-americana e caribenha”, e assim seguir “construindo consenso através do diálogo, trabalhando em conjunto para promover o desenvolvimento diversificado da humanidade e dos direitos entre as civilizações no progresso da modernização”.
O encontro é promoção conjunta do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade do Povo da China (RDCY) e da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (FD-UFF). O tema central é “A Diversidade da Civilização e a Escolha do Caminho para Realizar os Direitos Humanos”, em torno do qual serão apresentados e debatidos três tópicos: Contribuições da China e da América Latina para a Civilização dos Direitos Humanos, Realização do Direito ao Desenvolvimento e Usufruto dos Direitos Fundamentais, e Desafios e soluções atuais para a governança global dos direitos humanos.
O evento faz parte dos muitos que celebram os 50 anos do que o delicado modo chinês de tratar assuntos espinhosos chama “estabelecimento”, a rigor o restabelecimento das relações diplomáticas que o Brasil rompeu em 1949 quando a China se fundou como República Popular da China. Em 1974, efetivou-se o “pragmatismo responsável” defendido pelo então chanceler Azeredo da Silveira cumprindo a trajetória soberana da diplomacia brasileira.
O Brasil reconheceu uma única China, fechou o consulado em Taiwan, estabeleceu embaixada em Pequim, tudo formalizado no comunicado assinado pelos dois países: “O Governo da República Federativa do Brasil e o governo da República Popular da China, em conformidade com os interesses e os desejos dos dois povos, decidem estabelecer relações diplomáticas em nível de embaixadas, a partir desta data. O Governo da República Federativa do Brasil reconhece que o governo da República Popular da China é o único governo legal da China. o governo chinês reafirma que Taiwan é parte inalienável do território da República Popular da China.
O governo brasileiro toma nota dessa posição do governo chinês. Os dois governos concordam em desenvolver as relações amistosas entre os dois países com base nos princípios de respeito recíproco à soberania e à integridade territorial, não-agressão, não-intervenção nos assuntos internos de um dos países por parte do outro, igualmente e vantagens mútuas e coexistência pacífica.O governo da República Federativa do Brasil e o governo da República Popular da China concordam em trocar embaixadores dentro do mais breve prazo possível e em prestar um ao outro toda a assistência necessária para a instalação e funcionamento das embaixadas em suas respectivas capitais.”
A mesa redonda também comemora os 10 anos do 1º Fórum China-Celac realizado em Pequim, em 2015, um ano depois do giro do presidente Xi Jinping pela América Latina e Caribe quando, então, visitou a Venezuela e assinou acordos com o presidente Nicolas Maduro. Na ocasião, o presidente Xi Jinping declarou “Um mais um é maior do que dois”. O Fórum China-Celac foi criado para promover o desenvolvimento compartilhado caracterizado pela igualdade e pelo benefício mutuo por meio de uma agenda conjunta baseada na confiança e no respeito.
Festejar o Fórum não é um gesto qualquer. É aceno que fortalece o empenho da Venezuela em manter viva a CELAC. Na reunião da ALBA-TCP, Tratado de Comercio dos Povos da Aliança Bolivariana para os povos da Nossa América, Maduro denunciou o bombardeio do imperialismo estadunidense contra a instituição por meio do lançamento massivo dos muitos mísseis narrativos-midiáticos somados às sanções econômicas terroristas praticadas contra a república bolivariana democrática de protagonismo popular. Um República de protagonismo popular assentada sobre 300 bilhões de barris de petróleo, maior reserva estratégica do planeta. Inaceitável para a democracia liberal autoritária e autocentrada que edificou uma sociedade sobre os recursos que não tem porque certa de que o mundo seria o seu espaço vital, conquistado por afinidades ou mantido sob constante ameaça e instabilidade pela violência da máquina de guerra que desenvolveu ao longo de sua história.
O mundo gira e a rotação da China segue sua viagem de circuntransformação, trazendo a memória de ter sido uma nação invadida, retalhada e extraterritorializada, e na bagagem a firmeza de que nunca mais será uma terra de ninguém. Movimento soberano e popular que a Venezuela vem fazendo desde quando refundada como República bolivariana.
Falando em rotação e movimento, o movimento de rotação que a Terra realiza sobre si mesma, não deixando dúvidas sobre sua ‘redondura’, e é responsável pela sucessão dos dias e das noites em cada um dos seus quatro hemisférios, é a inspiração para a maior festa chinesa só equivalente ao Ano Novo local. Sempre conectada com os fenômenos da natureza, ainda neste mês de setembro a China comemora o Festival da Lua.
Também conhecido como Festival de Meio de Outono, o acontecimento celebra o fim da colheita que assegura o alimento das famílias durante os três meses do rigoroso inverno chinês, que tem início oficial em dezembro, mas desde novembro começa a dizer a que vem com temperaturas médias em torno de 7 graus no máximo e mínimas que chegam a menos de 40 graus. O Festival da Lua é a festa da reunião da família que se encontra quando o calendário lunar informa o dia em que a lua estará no seu momento mais formoso, cheio e brilhante.
Sob o plenilúnio, os afetos familiares e eletivos se juntam para apreciar e agradecer a beleza da abundância e da união iluminada pela generosa luz do luar e repartir o delicioso Bolo da Lua, prato principal da noite carregada de votos de Paz, Felicidade e Alegria. Así es.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.