Programa do MST busca recuperar áreas atingidas pelo rompimento da barragem em Mariana (MG)
Brasil de Fato
Com a efetivação do Programa Popular de Agroecologia na Bacia do Rio Doce, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de Minas Gerais deu início a uma resposta ao crime da Vale/Samarco/BH Billiton em Mariana. A ideia é revitalizar os assentamentos da reforma agrária que foram impactados, direta e indiretamente, pelo rompimento da barragem das mineradoras em 2015.
A iniciativa se divide em três projetos principais que, de forma integrada, promovem a restauração florestal, a educação territorial e o fortalecimento da cadeia produtiva da fruticultura. Além disso, o programa visa a conscientização e o empoderamento dos assentados por meio da transição para práticas agroecológicas.
“O programa é de grande importância, porque ele traz perspectivas concretas de mudança na vida das pessoas, principalmente assentados e acampados que foram atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão. O movimento entendeu que era importante pensar ações concretas, que trouxessem perspectivas para as famílias, seja na área da formação, seja na mudança do modelo de produção”, explica Fátima Vieira, coordenadora da iniciativa.
No sábado (21), quando foi comemorado o Dia da Árvore, o MST iniciou o plantio de 2 mil hectares na região. A ação aconteceu em áreas de reserva legal e de Preservação Permanente (APP). A restauração florestal deve impactar positivamente os municípios de Periquito, Santa Maria do Suaçuí, Jampruca, Campanário, Resplendor e Governador Valadares.
Educação e capacitação
Com a meta de formar lideranças locais, o programa já capacitou mais de 1,2 mil pessoas em diversos temas, desde sistemas agroflorestais até políticas públicas voltadas para o campo.
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Oficinas, seminários e atividades culturais têm sido as principais ferramentas para disseminar o conhecimento. Outro destaque é o curso técnico subsequente em agropecuária com ênfase em agroecologia, que já formou 39 novos técnicos, prontos para liderar a transição agroecológica.
A segunda fase, prestes a começar, promete expandir ainda mais o alcance das ações, com foco em formação continuada, inclusão digital e ampliação da produção agroecológica. Mais de mil cursistas serão atendidos, beneficiando diretamente cerca de 428 famílias.
“Não se constrói um programa de agroecologia sem a elevação do nível de consciência e das capacidades técnicas das pessoas. Envolvemos mais de 3 mil pessoas dos assentamentos dos territórios de reforma agrária em torno de uma ação efetiva de educação e também em torno de uma questão que, para nós, é fundamental, a ambiental”, reforça Silvio Netto, dirigente do MST.
Resultados concretos
O programa já construiu 150 “barraginhas”, uma tecnologia para captar água da chuva para abastecer o lençol freático, e 59 biodigestores, que é um equipamento que garante o tratamento de esgoto nas áreas rurais. A iniciativa acontece junto a ações nacionais do MST, que irá plantar 100 milhões de árvores até 2030.
Fátima Vieira observa que, atualmente, o cenário na região é impactante, com áreas desmatadas e degradadas e com grandes erosões, além da seca prolongada, queimadas, água com alto índice de contaminação de metais pesados pela ação das mineradoras e racionamento no abastecimento.
“Há também um governo estadual totalmente inoperante frente às demandas sociais e totalmente comprometido com as grandes empresas. Até o momento, não foram desenvolvidas ações que realmente apontem soluções ou que ao menos amenizem os impactos dos crimes ambientais na vida da população. As empresas responsáveis por esses crimes continuam atuando e obtendo altos lucros”, lamenta.
O Programa Popular de Agroecologia, de acordo com ela, tem sido a única referência de ação concreta e de iniciativas coletivas, com perspectivas para a transformação do território, que precisa ser fortalecido.