‘Oposição da Venezuela é como Milei’, diz sociólogo argentino Claudio Katz, que lança livro no Brasil

Brasil de Fato

As investidas contra a Venezuela por parte dos Estados Unidos e da União Europeia após a reeleição de Nicolas Maduro representam o “conflito central” vivido hoje na América Latina. A análise é do sociólogo argentino Claudio Katz, que lançou na quinta-feira (26) na livraria da Expressão Popular em São Paulo (SP) o livro América Latina na encruzilhada (Expressão Popular, 2024).

“Novamente a Venezuela foi colocada no lugar dominante e o que acontecer lá vai defefinir o curso para todos os lados. Isso se deve a que a Venezuela segue sendo estratégica para os Estados Unidos, basicamente pelo petróleo”, disse ao Brasil de Fato.

Por meio do apoio financeiro aos governos de Volodymyr Zelenski na Ucrânia e de Benjamin Netanyahu, a participação dos Estados Unidos às guerras em curso na Ucrânia e na Faixa de Gaza contribuem para que o país esteja cada vez mais debilitado, ressalta o sociólogo. 

“As guerras que está fazendo não estão dando resultados e necessitam do petróleo da Venezuela. Por isso há uma nova agressão ao país, eles querem implantar um governo como [Javier] Milei, Corina Machado é Milei”. 

Katz aponta que os ataques dos EUA tem o objetivo de impedir um eixo regional dos governos radicais e dos governos progressistas contra a direita na América Latina, evitando uma união entre a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), a Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos (Celac) e a Aliança Bolivariana das Américas (Alba). 

“Portanto o ataque à Venezuela tem objetivos estratégicos. Recomeçou uma ofensiva econômica, militar, de sanções muito fortes, de complôs e tentativas de assassinato de Maduro.  A direita voltou a ter uma atitude golpista, a última guarimba retomou a violência anterior com assassinatos de chavistas. Há também uma investida diplomática, da Espanha trabalhando com os EUA, e também econômica muito forte, sem falar na guerra da desinformação.” 

O embate entre Estados Unidos e Venezuela ganhou novos contornos com a recusa do governo de Nicolás Maduro em aderir ao Pacto para o Futuro, série de medidas deliberadas pela Assembleia Geral da ONU com o apoio dos EUA nesta semana. 

Em sua fala na quarta-feira (25), no segundo dia do evento, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, afirmou que os Estados Unidos lideram uma série de países que têm como objetivo destruir a ONU por dentro ao não reconhecer a soberania dos Estados.  Segundo Gil, as sanções unilaterais contra a Venezuela violam a Carta das Nações Unidas, documento que rege os deveres e princípios da ONU e voltou a dizer que os Estados Unidos têm um “grande plano de recolonização” para a região.

Katz aponta chama a atenção para a “grande resistência do governo venezuelano” diante dessas investidas e destaca a retomada do crescimento econômico no país e a mobilização popular da base chavistas são os elementos que possibilitam ao governo Maduro resistir em meio às sanções. “A reativação econômica e o poder comunal remodelam um pouco o perfil do chavismo, depois da grande crise dos útlimos anos.”

Por um lado, Katz destaca que a economia venezuelana tem a previsão de crescimento mais alto da América Latina, entre 8 e 10%, devido ao fato de o país ter garantido o auto abastecimento e estar recuperando a exportação de petróleo. “Isso dá à Venezuela um clima de movimento econômico muito intenso”, destaca. Em outra frente, o socipólogo destaca que as comunas voltaram a ocupar um papel de protagonismo na vida social da Venezuela.

Neste novo momento da política venezuelana, Katz aponta que o questionamento da vitória de Maduro nas eleições é apenas um dos fatores que marcam o contexto geopolítico do país. “Esta obsessão com a Venezuela não tem proporção com o comportamento frente a diversidade dos processos eleitorais em todo o mundo. As eleições expressam as relações de força internacionais de cada país. É um absurdo falar de uma ditadura quando a direita atua todos os dias, tem a total liberdade para se desenvolver quanto em qualquer país.”

 

Da Redação