Em debate sem Nunes, Boulos acena a eleitores de Marçal e Tabata e diz ser a mudança para SP
Brasil de Fato
O candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (Psol), fez um aceno ao eleitorado do influencer Pablo Marçal (PRTB), que ficou de fora do segundo turno da eleição municipal.
O deputado federal disse que, se eleito, quer incluir projetos do ex-coach no seu plano de governo, como as escolas olímpicas, com atividades educacionais e físicas, e o tema o empreendedorismo.
Ele falou sobre o assunto em entrevista aos jornais O GLOBO e Valor Econômico junto à rádio CBN, na manhã desta quinta-feira (10). A princípio, o encontro seria o primeiro debate antes do segundo turno entre Boulos e Ricardo Nunes (MDB). O atual prefeito, no entanto, declinou do convite, e o debate foi transformado em uma sabatina com o psolita.
No início da semana, a campanha de Nunes pediu aos veículos de comunicação a realização de um pool, quando as empresas se juntam para promover debates conjuntos, a fim de diminuir a quantidade de encontros. Foi sugerida realização de três eventos, o que está no limite de debates realizados entre o primeiro e o segundo turnos em São Paulo desde 1992. “É impossível atender às solicitações de sabatinas, entrevistas individuais, demandas de mídia e as ações diárias do período eleitoral”, disse Nunes em nota enviada à imprensa.
Boulos aproveitou a ausência de Nunes para criticá-lo e fazer acusações, mas sem apresentar provas. “Eu queria lamentar que o atual prefeito e o candidato Ricardo Nunes tenha fugido do debate. Isso é ruim para a democracia. Embora isso seja um desrespeito e lamentável com os eleitores de São Paulo, não me surpreendeu, porque o mesmo candidato que agora foge de responder à sociedade e debater ideias foi o prefeito que durante três anos e meio fugiu de duas responsabilidades”, disse Boulos.
O candidato também fez ilações contra Ricardo Nunes ao sugerir a existência de caixa dois na campanha do prefeito. “Olha na rua de São Paulo, pergunte para qualquer um qual é a campanha mais cara. A diferença é que eu não uso caixa dois. Essa é a grande diferença. A minha campanha é totalmente transparente. Denúncia pública, com documentos comprovados, mas eu não tenho”, disse Boulos ao ser questionado sobre ter a campanha mais cara na eleição à Prefeitura, cerca de R$ 65 milhões, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nunes gastou, até o momento, R$ 44 milhões.
Guilherme Boulos também acenou ao público de Marçal ao se colocar como o candidato que não representa a política tradicional paulistana, apresentando-se como o nome da mudança, que foi uma das imagens mais trabalhadas por Pablo Marçal. Para isso, destacou o apoio de Jair Bolsonaro (PL) a Nunes e disse que, se eleito, governará com as portas do gabinete abertas. “Quais secretários o Bolsonaro vai indicar em uma [possível] nova gestão [de Nunes]?”, questionou Boulos.
Recentemente, o prefeito já falou que o ex-presidente pode ser consultado para a formação de um novo secretariado caso seja reeleito. Bolsonaro é o presidente de honra do Partido Liberal, que compõe, junto com outras 11 siglas, a coligação da candidatura de Nunes, e que indicou o nome à vice da chapa, o coronel Ricardo Mello Araújo.
Parte do eleitorado que votou em Marçal já se mostrou avesso aos políticos que estão no poder ou àqueles novatos, mas que estabeleceram alianças com nomes tradicionais. Uma parcela desses eleitores é a mesma que votou em Jair Bolsonaro em 2022, que, a despeito de ter uma trajetória longeva na política brasileira, se vendeu como um outsider. De acordo com a pesquisa Quaest divulgada na véspera do primeiro turno, 48% daqueles que votaram em Bolsonaro no segundo turno em 2022 tinham a intenção de votar em Marçal em 6 de outubro, 13% a mais do que o registrado para Nunes.
Boulos também procurou fazer um gesto de promessa ao eleitorado de Tabata Amaral (PSB) ao se comprometer a incluir três propostas da deputada federal em seu plano de governo: a criação de um programa de crédito a jovens de 18 a 29 anos para empreender e outro de suporte para as mães de crianças autistas, bem como a construção de um centro de inovação na região, envolvendo universidades e empresas na pesquisa e geração de empregos. Com 9,91% dos votos, a candidata ficou em quarto lugar no primeiro turno.
Logo após o resultado do último domingo (6), Amaral declarou apoio e disse que se trata de “um voto de coragem”. “Eu vou votar em Guilherme Boulos [no segundo turno], porque eu não consigo e não conseguiria jamais colocar o meu voto em um projeto liderado por Ricardo Nunes. Mas saibam, eu e Guilherme Boulos representamos projetos absolutamente diferentes para São Paulo e para o Brasil”, afirmou a deputada federal.
Com 100% das urnas apuradas, Ricardo Nunes teve 1.801.139 votos (29,48%) e Boulos, 1.776.127 votos (29,07%). O segundo turno será realizado em 27 de outubro.