Mudanças climáticas e infâncias: como garantir a cultura de paz em meio à crise ambiental?

Brasil de Fato

O impacto das mudanças climáticas, antes visto como algo distante, já afeta diretamente a vida de milhões de pessoas. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 2023 foi o ano mais quente já registrado no planeta. E, como em tantas outras crises, são as crianças as mais vulneráveis. Em diversas regiões, o acesso à escola está sendo comprometido por secas extremas, calor intenso e falta de água. Queimadas frequentes agravam problemas respiratórios e têm impactos profundos na saúde a longo prazo.

Essa realidade levanta uma pergunta essencial: como promover uma cultura de paz para meninos e meninas diante de um cenário climático tão adverso?

O podcast Aliança pela Infância, em parceria com o Brasil de Fato, trouxe essa reflexão em seu episódio mais recente. Para debater o tema, foram convidados Roberto Mauro, membro da coordenação do Fórum Estadual de Educação Ambiental do Maranhão e professor emérito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e a jovem ativista Mikaelle Farias, que é engenheira de energias renováveis e militante por justiça climática em nível internacional.

A edição, que integra a Semana da Infância e Cultura de Paz 2024, focou no tema “Paz em Movimento”. A iniciativa da Aliança pela Infância destaca a urgência de ações coletivas e educativas em prol da paz e da sustentabilidade, temas que, mais do que nunca, precisam estar em movimento.

Mauro reforça a importância da cultura de paz no contexto da educação ambiental. Para ele, a criança é o futuro no presente e é fundamental trabalhar a ideia de “esperançar”, um termo que evoca a ação coletiva em direção a um futuro mais sustentável.

“Tratar da ecologia é tratar de uma pedagogia do cuidado, e estamos perdendo essa essência. Precisamos ensinar nossas crianças a cuidar do meio ambiente e das pessoas, promovendo a paz em suas relações”, afirma o professor.

Mikaelle, por sua vez, compartilhou sua trajetória de vida e ativismo. Desde cedo, ela compreendeu as consequências da falta de saneamento básico e os impactos ambientais em territórios marginalizados. Para a ativista, a crise climática não se resume ao derretimento das calotas polares. 

“A gente precisa entender o que é isso dentro dos nossos territórios”, destaca. A engenheira ainda lembra que, muitas vezes, o problema relacionado ao meio ambiente está diretamente ligado ao racismo ambiental, que impede o acesso de determinadas populações a recursos básicos, como água limpa e saneamento.

Juventude no protagonismo

A urgência de envolver jovens e crianças nas discussões sobre o clima é uma das bandeiras de Mikaelle, que aponta que sua geração carrega uma responsabilidade “pesada”: “Somos constantemente lembrados de que somos a última geração capaz de resolver a crise climática, e isso nos assusta. Mas também nos dá esperança de ver o poder que a juventude tem”.

Nesse sentido, Mikaelle relata que no caso dela essa perspectiva é ancestral. “Meu ativismo começou muito antes de eu estar aqui, com meus avós ciganos. Desde criança, cresci envolvida em movimentos sociais, convivendo com mulheres em situação de vulnerabilidade.”

A relação entre natureza e humanidade, frequentemente tratada de forma separada, é outra reflexão trazida pela jovem. Para os povos tradicionais, como os de onde ela vem, essa conexão é intrínseca: “Nós somos a natureza se defendendo”, afirma.

Alfabetização ecológica para um futuro sustentável

A discussão do podcast Aliança pela Infância reforça a necessidade de uma alfabetização ecológica, termo que Roberto Mauro explica como um processo pedagógico essencial para que as crianças compreendam sua relação com o meio ambiente e atuem como protagonistas de um futuro mais justo e sustentável.

“Precisamos aproveitar as oportunidades emergentes para promover uma educação que vá além do ensino tradicional, integrando o conhecimento ecológico à realidade das crianças”, afirma Mauro.

Mikaelle encerra enfatizando a importância de incluir a juventude nas tomadas de decisão: “Não é só pela juventude ou pelas crianças. Estamos falando da vida humana e de todo tipo de vida que existe na Terra. Esse problema é de todos nós”.

Os especialistas também lançam um alerta sobre o impacto das decisões políticas no meio ambiente. A ativista lembra que “os mesmos líderes que causaram a crise climática há 30 ou 40 anos ainda ocupam posições de poder, e é fundamental que as vozes dos jovens sejam incluídas nas decisões que afetam o futuro de todos”.

O episódio está disponível no perfil da Aliança pela Infância no Spotify e no site do Brasil de Fato.

Da Redação