‘O agronegócio já está lá há muito tempo, chegou a hora de irmos para cima’, diz vereador do MST eleito em Caruaru (PE)
Brasil de Fato
No estado de Pernambuco, o Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra (MST) elegeu quatro vereadores — entre assentados, militantes urbanos e “filhos do movimento” — e mais quatro aliados da organização. Um dos assentados eleitos é Edilson Barbosa, o “Edilson do MST”, que recebeu 3,1 mil votos e garantiu uma cadeira na Câmara Municipal de Caruaru a partir de 2025.
Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, Edilson se mostrou animado com a decisão do movimento de aumentar a importância da disputa eleitoral dentro da estratégia do MST. “Foi muito positiva a decisão de indicar parte dos seus quadros para essa disputa. Já somos credenciados no país, mas precisávamos tomar essa decisão para levar ao parlamento e às prefeituras a força da agricultura camponesa e da luta por reforma agrária”, avalia o militante sem terra.
Edilson Barbosa já defendia a tese há alguns anos, tendo se lançado nas disputas eleitorais em outras duas ocasiões. Em 2016, ele recebeu 1.006 votos na tentativa de ocupar uma cadeira na câmara de vereadores. Em 2020, foram 1,5 mil votos, sendo o mais votado do PT em Caruaru, mas o partido não elegeu vereadores. Em 2024, Edilson do MST recebeu 3,1 mil, sendo novamente o mais votado do PT e o 13º mais votado pelos caruaruenses, assegurando sua vaga entre os 23 vereadores da quinta maior cidade de Pernambuco.
A disputa nas casas legislativas, segundo Barbosa, tem se mostrado mais importante do que num passado recente. “Temos visto nacionalmente as dificuldades de Lula, que tem enfrentado entraves no parlamento”, diz ele.
“Somos a maioria da população, temos a maioria dos votos, mas temos sido massa de manobra de gente que não tem o interesse de desenvolver o país”, diz o trabalhador assentado da reforma agrária. “Enquanto o agronegócio já está lá há muito tempo”, completa.
Esperançoso com as eleições futuras, Edilson do MST convoca os movimentos populares a reagirem diante do avanço conservador. “Vamos para cima com tudo. Temos que fazer bons mandatos de vereadores, para ampliar o nosso espaço nacionalmente. Essa ampliação é muito positiva para o campesinato e para toda a sociedade brasileira”, avalia Barbosa. “Vamos preparar o cenário de 2026 e fazer com que a política seja mais equilibrada, batalhando para que os recursos públicos beneficiem a classe trabalhadora”, diz ele. “E essa disputa começa na base, com os vereadores”, completa.
Edilson cita três fatores fundamentais, de 2020 a 2024, que contribuíram para que sua votação mais que dobrasse: o presidente Lula, a deputada estadual Rosa Amorim (PT) e a articulação na zona rural. “Lula não está mais preso, mas na presidência, mostrando que o nosso partido permanece vivo, trabalhando sério pela inclusão social”, inicia Edilson. “Elegemos uma deputada estadual do MST — e ela é de Caruaru! Rosa mostrou que o MST defende a classe trabalhadora e isso nos credencia”, prossegue o vereador eleito.
Se dizendo “orgulhoso” de ser parte dessa geração do MST que entrou na disputa eleitoral, Edilson Barbosa considera que, apesar de ser o único parlamentar de siglas da esquerda, as relações na Câmara tendem a ser cordiais. “Não vi nenhum dos eleitos adotando discurso fascista e desequilibrado. Então espero um debate propositivo, independentemente das questões ideológicas de cada um”, avalia.
Onze dos 23 vereadores da legislatura 2025-2028 são novatos. “Foi uma renovação de quase 50%. E esses 11 têm base social organizada, o que vai garantir uma representatividade de vários setores na Câmara”, visualiza o militante do MST.