Entenda por que a China fez novos exercícios militares ao redor de Taiwan
Brasil de Fato
Na última segunda-feira (14), O Comando do Teatro Oriental do Exército Libertação Popular (ELP) da China organizou fez o exercício Espada Unida-2024B (联合利剑 ) envolvendo as divisões do Exército, Marinha, Força Aérea e Força de Foguetes em seis áreas diferentes ao redor da ilha de Taiwan.
Os exercícios simularam bloqueios de portos e fizeram diferentes usos das forças. Por exemplo, a Aérea testou a capacidade de romper o sistema de alerta de defesa aérea, de alerta de espaço, confronto e reabastecimento aéreo “em um cenário de combate real”, explica o piloto Wei Cao.
O objetivo foi intensificar a pressão sobre os separatistas da ilha, afirmou o porta-voz o Ministério de Defesa Nacional, Wu Qian. “As ações do ELP serão impulsionadas ainda mais com cada nova provocação dos separatistas de Taiwan até que a questão seja completamente resolvida”, explicou Wu.
“Neste exercício, enriquecemos nosso padrão de operação, incluindo patrulha policial de combate marítimo-aéreo, a contenção de portos e áreas importantes, a tomada conjunta de controle aéreo e marítimo e ataques de precisão de longo alcance em alvos críticos”, disse Zhang Chi, professor da Universidade de Defesa Nacional do ELP.
Os exercícios foram realizados alguns dias após o líder de Taiwan, Lai Ching-te, discursar em comemoração dos 111 anos da data em que a última dinastia da China, a Qing, foi dissolvida. Uma parte de Taiwan se considera República da China, a que foi fundada em 1912 e posteriormente substituída pela República Popular da China em 1949, com o triunfo do ELP sobre as forças do Kuomintang. Com a derrota, seus representantes fugiram para a ilha e fundaram uma espécie de governo no exílio que nunca chegou a ter efetividade.
O discurso de Lai foi criticado na parte continental da China. Nesta quarta (16) Chen Binhua, porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado afirmou que a ilha nunca foi e nunca será um país. Embora não sem razão oficial para os exercícios, desde 2022, o ELP já levou a cabo alguns exercícios militares amplos desse tipo ao redor de Taiwan, sempre após eventos públicos em que a ideia de “independência de Taiwan” foi defendida ou em ocasiões que o princípio de “Uma Só China” foi considerado violado pelo gigante asiático.
O primeiro foi em agosto de 2022, quando a então presidenta da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, viajou à ilha apesar das advertências da China para não fazê-lo. Em abril do ano seguinte, a líder de Taiwan, Tsai Ing-wen, fez uma viagem de “trânsito” passando pelos Estados Unidos. Ambos são gestos diplomáticos, que só são realizados entre nações com relações diplomáticas.
Este ano, as forças chinesas realizaram o Espada Unida-2024A, também após o discurso, de mesmo tom, onde Lai Ching-te assumiu como líder.
Prontidão de batalha
Os exercícios significam que o nível de prontidão de combate do exército chinês é “muito alto”, disse Meng Xiangqing, também professor da Universidade de Defesa Nacional do ELP.
Um grupo de porta-aviões foi utilizado durante os exercícios. A presença de porta-aviões reflete uma melhoria na “capacidade de combate cooperativo e operação conjunta do nosso exército para estar pronto para qualquer situação desse tipo no futuro”, segundo o especialista.
Condena aos EUA
Este ano a Bloomberg mostrou que a RTX (ex-Raytheon), aplicou sobrepreço em vários contratos de mísseis e de defesa, e entre os compradores afetados está Taiwan.
“Os relatórios revelaram é apenas a ponta do iceberg”, disse o porta-voz Wu Qian. Ele afirma que as autoridades do Partido Democrático Progressista (DPP), [o partido de governo] fazem com que o dinheiro dos taiwaneses seja “desperdiçada em pedaços de ferro-velho” que “só beneficiam autoridades corruptas e traficantes de armas”.
Ele afirma que armas comercializadas pelos EUA têm sobrepreço e funções obsoletas. “De coletes à prova de balas mofados à munição vencida e mísseis e radares superfaturados, podemos ver que os estadunidenses só se importam com os interesses dos EUA”, disse Wu.
Especulação sobre mudança Lei Anti-Secessão em seus 20 anos
“Estamos dispostos a lutar pela reunificação pacífica com a maior sinceridade e o máximo esforço, mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força” disse Chen nesta quarta. O governo da República Popular da China e o Partido costumam enfatizar que a mensagem é destinada à interferência de forças externas e a uma minoria de separatistas.
Esta semana a China aplicou medidas de punição a Shen Pao-yang, diretor da Academia Kuma e o empresário Robert Hsing-cheng Tsao, duas figuras que trabalham pela independência.
As punições incluem a proibição de viajar ao continente e as regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau. A Academia Kuma (que promoveria defensores violentos separatistas segundo o governo chinês) e as instituições vinculadas a eles, não poderão cooperar com organizações e indivíduos no continente, nem lucrar.
O porta-voz Chen afirmou que a decisão tem base “factual e legal”. A base legal é dada pela Lei de Anti-Secessão da China. Recentemente, um jornalista do Japão questionou a porta-voz da chancelaria chinesa sobre um documento que o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA, divulgou este mês onde afirma que a China “poderia anunciar anunciar novas interpretações ou adições à legislação”, para supostamente facilitar a reunificação militar com Taiwan.
A porta-voz Mao Ning, se limitou a responder que Taiwan é um assunto interno da China, e que o país não aceita quaisquer interferências estrangeiras.
De todo modo, a lei atual já prevê em seu artigo 8 que o país “poderá adotar meios não pacíficos” no processo de reunificação.