A quem interessa diminuir a diplomacia brasileira Embaixadora rechaça defensores de Estado fraco
Brasil de Fato
A quem interessa reduzir a diplomacia brasileira? O Brasil de Fato Entrevista fez essa pergunta à diplomata Irene Vida Gala, subchefe do Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo.
“Interessa a todo mundo que não quer um estado forte. Todo mundo que deseja um estado mínimo em que o Brasil não vai exercitar sua potência”.
A partir do golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, Gala aponta que houve uma redução do espaço diplomático brasileiro, intensificada sob o comando de Ernesto Araújo, ministo das Relações Exteriores durante o governo de Jair Bolsonaro.
“Tirar competências na área industrial, na área de ciência e tecnologia, o que fez o governo Bolsonaro, que reduziu nossas capacidades nacionais. Quem fez a grande redução do espaço diplomático brasileiro foi o Ernesto Araújo”, relembra ela, sobre o perído de atuação do chanceler (2019 – 2021).
Em compensação, ela diz que a retomada ocorrida durante o governo Lula, com iniciativas para assumir protagonismo internacional – como se oferecer para a mediação de conflitos – é sinal da vocação para grandeza que nossa diplomacia sempre teve.
“Me dá muita tristeza ver o papel dos críticos à diplomacia brasileira, que estão fazendo um desserviço à expressão da soberania brasileira.”
Ao longo de sua trajetória profissional, Gala especializou-se nas relações brasileiras com países do continente africano, bem como na temática de gênero nas relações internacionais. Ela aponta que um dos avanços do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no período anterior ao golpe foi a abertura de embaixadas do Brasil em diversos países africanos.
“Ter a representação é muito importante, porque é você mostrar a face. Diplomata informa, negocia e representa. A diplomacia existe quando ela é representada, então estar na embaixada é importante.”
Gala ressalta que o custo operacional das embaixadas abertas nos países africanos tem um custo operacional baixo comparado a outras representações diplomáticas mantidas pelo país, como a embaixada brasileira em Roma, Itália, sediada no Palazzo Pamphilj.
“O que me causa mais dificuldade, e aí falo como corpo dos diplomatas é que as embaixadas foram criadas e logo na sequência veio o governo Dilma, depois Temer e Bolsonaro e elas não tem capacidade estrutural para agir. Então nós estamos lá, mas estamos diminuídos, a diplomacia está sendo afetada por um Estado mínimo que não nos deixa estar presentes onde a gente tem que estar.”
Na entrevista completa (abaixo), Vida Gala fala também sobre os esforços do governo para repatriar cidadãos brasileiros do Líbano, o papel da diplomacia, relações brasileiras com a África e questões envolvendo o Itamaraty como machismo e conservadorismo.