Moradores do Grajaú, na zona sul de São Paulo, reclamam de filas para consultas e exames
Brasil de Fato
No Grajaú, distrito da zona sul de São Paulo, a falta de médicos especialistas e o longo tempo de espera nas unidades de saúde de emergência são reclamações frequentes de moradores. Uma delas é feita por Suzete Vieira Boaventura. “Às vezes você consegue marcar uma consulta com uma certa agilidade, mas quando chega na hora dos exames, misericórdia”, lamenta.
As especialidades de ortopedia e de neurologia, segundo ela, estão em falta na região. “Já tive problemas até com a minha filha de ir para consulta e ela precisava de um ortopedista, não tem especialidade. Há uma fila de espera gigantesca. Conseguir um neuro também é muito complicado.”
A zona eleitoral do Grajaú registrou 34,18% de votos em Ricardo Nunes – com 46.648 votos –, enquanto Guilherme Boulos teve 33,49% da votação – 45.697 votos.
Diagnosticada com câncer em 2020, Suzete precisou utilizar a rede municipal de saúde em 2023, foi quando se deparou com dificuldades para fazer um acompanhamento diferenciado, que deveria ser fornecido pelo SUS aos pacientes oncológicos. “O que passa na televisão não condiz com o que a gente vive. Onde que esse [prazo de] 60 dias é atendido?”, indaga ela, se referindo a Lei dos 60 Dias (Lei 12.732/12) que garante o direito de iniciar o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS) neste prazo após o diagnóstico ao paciente com câncer.
Humberto Oliveira dos Santos, integrante do Movimento Popular de Saúde, também critica a morosidade das filas. “Tem casos aqui, por incrível que pareça, de pessoas relatarem que parentes vieram a óbito e não saiu o exame que foi solicitado pela aquela especialidade”, conta.
Em setembro deste ano, mais de 353 mil pessoas estavam na fila para realizar exames na capital. Outros 222.757 pacientes esperam para realizar cirurgias. Jorge Kayano, médico sanitarista e pesquisador do Instituto Pólis, avalia que há falhas na articulação entre os serviços municipais e estaduais de saúde.
“O balanço da ação da saúde nesses últimos anos é extremamente negativo. Não depende do esforço individual, ou até coletivo, dos profissionais de saúde. Eles estão sendo jogados no meio disso e a população sofre com isso também, a gente vive uma situação de ‘não’ SUS”, afirma Kayano. “Por mais que o governador queira reeleger esse prefeito, o sistema não está funcionando de forma adequada”, diz.
Além do orçamento inadequado para o Sistema Único de Saúde (SUS), os sindicatos da saúde destacam que a alta rotatividade de médicos é um problema resultante das condições precárias e da sobrecarga de trabalho. Também criticam a falta de articulação entre as organizações sociais responsáveis pela gestão dos serviços e a prefeitura. É o que diz Augusto Ribeiro Silva, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp). “Então, o que a gente precisa que seja feito e que não tem sido feito é uma organização mais ampla e mais centralizada da rede básica de atenção à saúde e a rede especializada, inclusive a contratação de profissionais num número suficiente e a infraestrutura para esses procedimentos cirúrgicos.”
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade de São Paulo não respondeu o que vem fazendo para diminuir a espera dos pacientes para realizarem exames, cirurgias e consultas. Se houver resposta, o texto será atualizado.