Com candidato de esquerda favorito nas pesquisas, Frente Ampla promete retomar legado progressista no Uruguai

Brasil de Fato

A esquerda perdeu o governo uruguaio em 2020 para a coalizão de centro-direita liderada por Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional. A mudança marcou o fim da “onda rosa” de 15 anos no Uruguai, como foi chamado o período da América Latina com grande ascensão das lideranças de esquerda. Embora o atual governo tenha se afastado de algumas das políticas sociais dos governos anteriores, ele manteve algumas das conquistas alcançadas durante os anos de governos progressistas.

O Uruguai continua sendo um país com um forte compromisso com a democracia, os direitos humanos e a justiça social, e os legados da Frente Ampla ainda influenciam o debate político no país. Uma prova disso é que para as eleições deste domingo (27), o candidato da sigla, Yamandú Orsi, é favorito dos eleitores em todas as pesquisas divulgadas até aqui.

Bruno Fabricio Alcebino da Silva, bacharel em Ciências e Humanidades e graduando em Ciências Econômicas e Relações Internacionais pela Universidade Federal do ABC, recorda que o Uruguai experimentou uma mudança política significativa com a eleição de Tabaré Vázquez, do partido de esquerda Frente Ampla, em 2004. Essa vitória marcou o fim de décadas de domínio dos partidos tradicionais de centro-direita, o Partido Blanco e o Partido Colorado, e inaugurou um período de governos progressistas que duraria 15 anos.

A eleição de Vázquez ajudou a compor a chamada “onda rosa” na América Latina, um período em que vários países da região elegeram líderes de esquerda que prometiam combater a desigualdade e promover a justiça social. Durante seus dois mandatos (2005-2010 e 2015-2020), Vázquez implementou políticas sociais progressistas, incluindo a expansão do acesso à saúde e à educação e o aumento do salário mínimo.

Em 2010, Vázquez foi sucedido por José “Pepe” Mujica, outro membro da Frente Ampla, que se destacou pela defesa da agricultura sustentável, da legalização da maconha e do aborto durante seu mandato. Mujica deu continuidade a muitas das políticas sociais do antecessor, enquanto promovia uma agenda ambientalista e buscava fortalecer laços do Uruguai com outros países da região.

Os governos de Vázquez e Mujica foram amplamente elogiados pelas políticas sociais e pelo compromisso com a democracia e os direitos humanos. No entanto, eles também enfrentaram críticas de alguns setores da sociedade, que argumentavam que suas políticas eram economicamente insustentáveis e prejudicavam o crescimento econômico, segundo analisa Alcebino da Silva. Com Yamandú, o Uruguai retoma integralmente seu foco em democracia, direitos humanos e meio ambiente. “Não vou me afastar dos ideais da Frente Ampla. Queremos um país cada vez mais equilibrado e igualitário”, disse em discurso de domingo (20).


“Não vou me afastar dos ideais da Frente Ampla. Queremos um país cada vez mais equilibrado e igualitário”, disse Orsi no seu discurso de domingo (20) / Foto: Divulgação

Política externa

A política externa sempre desempenhou um papel crucial na história e na política uruguaia, moldando sua identidade, desenvolvimento econômico e relações com o mundo. Desde a independência, o Uruguai buscou equilibrar sua posição entre seus vizinhos maiores, Argentina e Brasil, e construir uma política externa independente e multilateralista.

O país se tornou um país livre em 25 de agosto de 1825, quando foi assinada a Lei da Independência, proclamada pelo líder político Juan Antonio Lavalleja, com a ajuda de tropas argentinas. A independência do Uruguai foi o resultado de um longo processo de batalhas e tratados. O que antes era a Província Cisplatina foi controlada pelo Brasil por 13 anos. A liberdade foi conquistada graças a um movimento separatista local e formalmente reconhecida em 27 de agosto de 1828, com a assinatura da Convenção Preliminar de Paz entre o Império do Brasil e a República das Províncias Unidas do Prata.

Para Alcebino da Silva, desde então, independentemente da orientação ideológica do governo, a política externa continua sendo um elemento central na construção do futuro do Uruguai. A busca por um equilíbrio entre os interesses nacionais, a integração regional e a inserção global serão um desafio constante para os futuros governos, que precisarão navegar em um cenário internacional cada vez mais complexo e incerto.

A história e a política uruguaia demonstram que a política externa não é apenas um instrumento para alcançar objetivos econômicos ou políticos, mas também uma expressão da identidade e dos valores de um país. 

Da Redação