Para eleitores do estado-pêndulo de Nevada, o fator mais importante ‘é a economia’ na hora do voto
Brasil de Fato
Quatro em cada dez habitantes do estado-pêndulo de Nevada dizem que a economia é o problema mais urgente, e concordam em um ponto crucial: a vida está mais cara.
De acordo com uma pesquisa do Emerson College, a ideia dentro do plano econômico de Trump de isentar as gorjetas de impostos em junho repercutiu entre os eleitores de Nevada e fez a população acenar positivamente para o republicano, cujo plano econômico foi rechaçado, inclusive, por ganhadores do prêmio Nobel de Economia.
Foi a tentativa de Trump conquistar os eleitores em Nevada, cujo estado tem o maior número de cassinos e estabelecimentos de jogos de azar e caça-níqueis, e onde Biden venceu em 2020 por apenas 33.500 votos. Nestas eleições, Kamala Harris está tecnicamente empatada com Trump em Nevada.
Na capital Las Vegas, onde 26% dos trabalhadores estão no setor de lazer e hospitalidade, a ideia de isentar impostos pegou rapidamente o eleitorado. Por isso, a ideia também foi adotada pela democrata, um dos poucos pontos em comum entre as duas candidaturas.
“Vivemos de nossas gorjetas”, disse à agência de notícias AFP Spencer Lindsay, que trabalha em um hotel de Las Vegas e votará em Harris. “Portanto, para que qualquer um dos candidatos realmente conquiste Nevada, sim, [é importante] acabar com os impostos sobre as gorjetas.”
Membro do poderoso Sindicato Culinário, que agrupa cerca de 60 mil trabalhadores, Lindsay está fazendo campanha de porta em porta para a democrata, tentando convencer os indecisos.
Desemprego
Las Vegas paralisou completamente durante a pandemia, colocando contra a parede milhares de trabalhadores que dependem das gorjetas que conseguem em restaurantes, cassinos e hotéis.
A cidade reativou toda a máquina com convenções, shows, festas e enormes eventos esportivos, mas seus moradores reclamam da disparada dos preços do aluguel, comida e gasolina. Outros se queixam do desemprego, que em Nevada é de 5,6%, a pior taxa do país.
“Me candidatei em muitos lugares, mas nada, não aparece trabalho”, diz Gallego Pérez, que ficou desempregado há quatro anos.
Desde então, ele tem ficado no estacionamento de uma loja de ferragens com outros homens, esperando ser contratado para trabalhos de construção ou pequenos trabalhos. Dessa forma, ganha cerca de US$ 1.000 por mês (R$ 5.700, aproximadamente).
“Costumávamos ganhar um pouco mais, mas o trabalho diminuiu (…), mais pessoas se juntaram a nós, e você entende, elas também precisam comer, mas temos menos trabalho”, lamenta.
“Dá na mesma”
Embora as dificuldades econômicas empurrem os eleitores para um lado ou para outro do espectro político, para outros, como Pérez, a eleição não importa para o cotidiano dos trabalhadores. “Como isso muda nossas vidas aqui?”, diz ele, com o rosto bronzeado pelo sol escaldante de Las Vegas.
Sam Mitchell, um eletricista que também perdeu o emprego há quatro anos e ficou sem teto, concorda. “Você passa o dia tentando comer e sobreviver, sem se preocupar com a política”, diz Mitchell, que pede dinheiro em um semáforo com uma placa chamativa que imita a placa que antigamente dava as boas-vindas às pessoas na “Fabulosa Las Vegas”.
Mitchell diz que trabalhou a vida inteira, “e tudo o que é preciso é se atrasar por um ou dois dias, o que é muito fácil pegando o ônibus (…) E isso vira uma bola de neve”. No passado, o trabalhador se identificava com os republicanos e via Trump como “um bom homem de negócios”.
“Ele acreditava na ideia de que o governo deveria nos deixar em paz e nos deixar fazer nossas próprias coisas. E o tiro saiu pela culatra, porque agora eu realmente preciso deles”, diz o eletricista.
Bianca Garziola, vendedora de uma loja em Las Vegas, também se diz indiferente às urnas. “No final, é tudo a mesma coisa, então não faz sentido ir [votar] e perder tempo”, acredita ela.
*Com AFP