Estudantes kaingang voltam às aulas na aldeia Fàg Nhin, em Porto Alegre (RS)

Brasil de Fato

Fàg Nhin em kaingang significa ‘o pinheiro na lomba’. E é no bairro de nome semelhante, a Lomba do Pinheiro, que fica localizada a escola indígena Fàg Nhin, que atende regularmente 59 alunos de duas aldeias indígenas kaingang.

Na manhã desta quinta-feira (6), as aulas foram retomadas na escola que foi reformada há quatro meses. A volta às aulas foi marcada pela presença da cacica Iracema Gatéh Nascimento, líder Kaingang da Retomada Multiétnica Gãh Rê Xokleng e Kaingang do Morro Santana.

Uma cerimônia que plantou um par de araucárias no terreno em frente a escola marcou o ato de reabertura. O espaço também foi beneficiado com uma emenda parlamentar da deputada federal Fernanda Melchionna (Psol), que prevê recursos para a construção de duas novas salas e a aquisição de equipamentos. 

“A araucária é uma árvore sagrada para o povo kaingang”, conta o diretor da escola, João Maurício Farias. “Na celebração, a cacica vai abençoar o plantio dessas árvores”, explicou.


Na celebração, a cacica Iracema abençoou o plantio das araucárias / Foto: Rafa Dotti

Na aldeia Fàg Nhin vivem 45 famílias e as crianças frequentam a escola, onde aprendem também o idioma kaingang. O respeito pelos mais velhos é muito presente. A história e a cultura kaingang são amplamente transmitidas de forma oral, e um dos principais intuitos da escola é a preservação desses saberes.

Vera Lucia Kaninhka da Rosa é natural de Tenente Portela e mora na aldeia há 16 anos. Graduada em Artes, é professora na escola Fàg Nhih. Ela comenta que a parcela de alunos que fala o idioma nativo é muito pequena, em torno de 10%. “A gente tem convívio da comunidade da escola com os mais velhos da aldeia. É assim que eles vão aprendendo”, explica a educadora.


O espaço também foi beneficiado com uma emenda parlamentar da deputada federal Fernanda Melchionna / Foto: Rafa Dotti

“Hoje a gente convive com a urbanização, com a tecnologia, e isso faz com que as famílias indígenas se envolvam com famílias não-indígenas. Assim, seus filhos acabam escolhendo falar o português, para se comunicar com os não-indígenas. Mas a nossa escola tão sonhada é essa: com a educação diferenciada, sonhada, falando as tradições kaingang”, complementa Vera.


Cozinha comunitária tem servido durante as enchentes como ponto de recolhimento e distribuição de donativos para outras comunidades indígenas / Foto: Rafa Dotti

Ao lado da escola, num galpão, foi montada uma cozinha comunitária que durante as enchentes tem servido como ponto de recolhimento e distribuição de donativos para outras comunidades indígenas (guarani e kaingang). Ali, são recebidas doações de alimentos, roupas e livros que são preparadas e encaminhadas para as comunidades, conforme a necessidade de cada uma.


Um caldo de folhas verdes escuras é preparado no fogo à lenha e servido com farinha e bolo de cinza / Foto: Rafa Dotti

Ainda na manhã desta quinta-feira, diversas mães se reuniram na cozinha comunitária para apurar o preparo do fuá – comida típica kaingang. Um caldo de folhas verdes escuras é preparado no fogo à lenha e servido com farinha e bolo de cinza, uma espécie de pão assado na brasa, para todos os presentes. O feitio dos alimentos é acompanhado pelas crianças, que são estimuladas a observar e aprender. Em volta do fogo, adultos, crianças e idosos se reúnem para a refeição coletiva.


Na aldeia Fàg Nhin vivem 45 famílias e as crianças frequentam a escola, onde aprendem também o idioma kaingang / Foto: Rafa Dotti


O feitio dos alimentos é acompanhado pelas crianças, que são estimuladas a observar e aprender / Foto: Rafa Dotti

Da Redação