Fortalecer a cena e combater o racismo: encontro hip-hop começa nesta sexta (7) em João Pessoa

Brasil de Fato

O mês de junho chega com toda energia para a cena hip-hop na Paraíba. O clima  traz consigo as tradicionais festas juninas, mas também uma programação inédita no estado, com as expressões da black music e da cultura hip-hop.

Nos dias 7 a 9 de junho, a Estação Ciências Cultura e Artes, em João Pessoa (PB), será o palco do 4º Encontro Paraibano de Hip-Hop, sob o tema “Hip-Hop Unido, Preservando a Cultura, Combatendo o Racismo, Celebrando a Diversidade”. Três dias repletos de expressão artística, workshops, batalha de rimas, shows, breaking & cyphers, grafite, discotecagem e palestras, compartilhamento conhecimentos sobre essa cultura que tem influenciado milhares de jovens ao redor do mundo. O encontro não apenas promove a troca de experiências entre os ativistas do hip-hop, mas também celebra os 50 anos de história desse movimento cultural global.

Identificado como um estilo de vida e como uma filosofia que abrange a expressão criativa das populações historicamente marginalizadas, o hip-hop engloba não apenas o rap – gênero musical que reúne DJ’s e MC’s – mas também a arte e a dança de rua.

Mister Só, coordenador da Associação Coletiva de Hip-Hop Paraibana (ACH2PB), ressalta a importância desse evento para revitalizar a cena no estado. Ele destaca que desde 2007 a associação existe, mas ficou inativa por 11 anos devido à falta de incentivo econômico e apoio do governo estadual. A retomada só foi possível após uma mobilização intensa da comunidade hip-hop, que viu sua história sendo apagada em meio a uma nova geração de artistas e apropriadores culturais.

:: Os 50 anos da cultura hip hop por Thaíde, Linn da Quebrada e Rincon Sapiência ::

“A velha guarda não tinha incentivo por questões econômicas – nunca houve na verdade – nunca houve incentivo do governo do estado para com o hip-hop, e foi necessário uma plenária de todo o movimento para que voltássemos, porque muita gente que faz parte estava tendo praticamente sua história apagada por vários novos personagens e por apropriadores culturais das universidades. E eles têm uma facilidade muito grande de absorver a cultura, mas não assimilar qual é a forma real da cultura e da coletividade”, comenta o coordenador.

O encontro não vai  se restringir apenas ao âmbito local; espera-se que atraia participantes de todo o país, dada a tradição da Paraíba em promover um intercâmbio cultural significativo com outros estados. Segundo Mister Só, a Paraíba se destaca por sua organização e participação ativa em encontros e eventos regionais e internacionais de hip-hop.

No entanto, a falta de estrutura e apoio levou muitos artistas a abandonarem sua expressão artística por necessidade de sobrevivência. Neste sentido, a plenária decidiu que o evento deveria durar três dias, com o intuito de resgatar a autoestima desses artistas e proporcionar uma estrutura adequada para workshops, formações e apresentações.

Além disso, foram criados grupos específicos, como o de mulheres e diversidade, e um Espaço Kids, demonstrando o compromisso do movimento hip-hop paraibano com a inclusão e a diversidade.
 
O objetivo do encontro vai além do entretenimento: é um chamado às autoridades e à sociedade para reconhecerem a cultura hip-hop como uma força inclusiva, revolucionária e transformadora. “O hip-hop não é apenas uma expressão artística, mas também uma ferramenta que resgata da cidadania e desenvolve políticas públicas. É hora de reconhecer e apoiar verdadeiramente esse movimento, em vez de marginalizá-lo ou apropriar-se dele como um modismo passageiro”, destaca a organização.

Nesses três dias de celebração e reflexão, a cultura black mostra sua força e vitalidade, reafirmando sua relevância como um movimento cultural que transcende fronteiras e transforma vidas. 

“A nossa intenção com esse encontro, que é gratuito, e sem patrocínio ou financiamento, é justamente chamar a atenção das autoridades e da sociedade para uma cultura inclusiva e revolucionário, que salva vidas, que desenvolve política pública. Quantas pessoas tiveram sua cidadania resgatada pelo hip-hop? O problema é que as pessoas marginalizam o hip-hop e se apropriam da cultura, e fica bem difícil porque as pessoas que são do real hip-hop não conseguem avançar, mas os que se apropriam como modismo conseguem dar passos, e isso traz um problema gigante para o movimento.”

Da Redação