Segundo prefeito negro da história de Curitiba, Herivelto Oliveira compara situação com série ‘Designated Survivor’

Brasil de Fato

Um cenário inusitado elevou Herivelto Oliveira (Cidadania) – jornalista, ex-apresentador de televisão e vereador em segundo mandato – ao cargo de prefeito interino da capital paranaense.

Décimo na linha sucessória, Oliveira assumiu a prefeitura após o prefeito Rafael Greca (PSD) e o vice Eduardo Pimentel (PSD) viajarem. De acordo com a lei orgânica do município, em caso de ausência ou impedimento do prefeito e do vice, o primeiro a ser convocado é o presidente da Câmara Municipal, seguido do primeiro e do segundo vice-presidente. Porém, todos da mesa diretora da CMC se declararam impedidos, assim como os outros na linha de sucessão, devido à legislação eleitoral, que proíbe candidatos de ocuparem cargos executivos em ano eleitoral.

Sua ascensão inesperada foi comparada pelo próprio Oliveira, agora prefeito interino de Curitiba, com a trama da série Designated Survivor, da Netflix, durante entrevista à reportagem do Brasil de Fato Paraná no gabinete da prefeitura.

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Na série, um funcionário secundário da administração federal dos Estados Unidos, interpretado por Kiefer Sutherland, é inesperadamente alçado à presidência após um ataque catastrófico eliminar todos os seus superiores imediatos. Como “sobrevivente designado”, ele enfrenta o desafio de liderar uma nação em crise, navegando por intrigas políticas, ameaças de segurança e questões pessoais, enquanto tenta restabelecer a ordem e a confiança no governo.

Com uma missão bem menos trágica que o personagem da série hollywoodiana, Herivelto assumiu a prefeitura de Curitiba sem maiores turbulências. Sobre a decisão de não concorrer ao pleito de outubro, Oliveira afirmou que dois mandatos foram suficientes para ele. “Esses anos para mim de certa maneira foram suficientes. Se eu disputasse mais uma eleição e vencesse, eu ficaria dez anos na Câmara, acho que é muito tempo para mim”, afirmou.

Oliveira ainda mencionou que pretende, futuramente, candidatar-se a um cargo executivo. “Não é uma obsessão que eu tenho, mas possuo uma cabeça mais executiva do que legislativa. Mais para frente, quem sabe”, disse.

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Representatividade

Apesar de estar na base do prefeito Rafael Greca, o parlamentar tem trânsito nas mais diversas correntes políticas da cidade. Assim que assumiu o executivo paranaense, Herivelto recebeu representantes das comunidades negra, indígena, cigana e de religiões de matriz africana, que celebraram a representatividade em torno da chegada do segundo negro na prefeitura de Curitiba, apesar do pouco tempo, no caso, até o próximo sábado com a volta de Greca.

Nesse meio tempo, como prefeito, em sinalização importante, Herivelto visitou comunidades muitas vezes abandonadas pelo poder público, caso da Vila Leão, no bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, que sofre com o problema ainda das cheias.

Sobre a pauta antirracista, o prefeito em exercício pondera que nunca se envolveu diretamente com a pauta, mas destaca o apoio da comunidade negra. “Nunca me envolvi diretamente com a pauta, mas com o mandato me aproximei do Conselho de Igualdade Racial e pudemos desenvolver vários projetos. Meu gabinete hoje tem cinco pessoas negras de dez. Eu não sou engajado na luta, mas sempre auxiliando quem está na luta”, afirmou.

Jornalista por 27 anos na RPC e por curto período na RICTV, o vereador ainda relembra um estudo que desenvolveu sobre a quantidade de pessoas negras entrevistadas pelo Jornal Nacional. A análise apontou que cerca de apenas 14% das fontes ouvidas pelo noticiário da empresa carioca, em mais de 8 mil entrevistas, eram negras.

Herivelto é o segundo prefeito negro a comandar a capital paranaense. Antes dele, apenas o médico Antenor Pamphilo dos Santos chegou a comandar a cidade, também de maneira interina, em 1948.

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Bandeiras

Membro do partido Cidadania, partido que já foi PPS e PCB, o jornalista, ao ser perguntado sobre sua posição ideológica, visto sua proximidade com a pauta antirracista, mas na base de uma prefeitura com viés mais à direita, se declarou ser de centro.

“Tenho um pouco dos dois, muito por conta também da nossa prática jornalística de sempre estar ouvindo vários pontos de vista”, diz.

Sobre os desafios do próximo prefeito, Herivelto destaca como os principais, parte de suas próprias bandeiras, a questão da população em situação de rua e os imóveis abandonados no centro.

“É preciso pensar na legislação também para ajudar a equacionar a situação da população em situação de rua e também a quantidade de imóveis abandonados no centro da cidade. É preciso uma política do próximo prefeito de retomar o centro. São projetos bem grandes”, diz. Atualmente, Curitiba tem cerca de 194 mil domicílios abandonados e cerca de 3.400 pessoas em situação de rua, de acordo com dados do último censo.

Herivelto deixa a prefeitura no sábado (8), com o retorno de Greca e Pimentel de suas viagens ao exterior.

Da Redação