‘Não se via desde a ditadura’, diz professora sobre forma como governo do Paraná lidou com greve nas escolas

Brasil de Fato

Integrante do comando da greve de professores e funcionários de escolas estaduais do Paraná, realizada na semana passada, a historiadora e professora Hellen Lima ressalta haver um projeto de privatização da educação pública em curso no governo Ratinho Jr (PSD), iniciado com o ex-secretário Renato Feder, hoje em São Paulo, e que alcançou também um novo patamar de repressão com a sugestão de prisão da presidenta da APP, Walkiria Mazeto, pela Procuradoria Geral do Estado.

Agora, a diretora do núcleo da APP-Sindicato (núcleo Sul) aponta que o desafio é mobilizar na base e no chão da escola:

Agora se abre outra frente de luta nas comunidades escolares, nossa tarefas seguem sendo a denúncia de todos os prejuízos desse projeto nefasto e a organização da resistência em todas as escolas para que barrem a privatização na consulta pública. Sabemos que não será tarefa fácil, pois certamente o estado utilizará de toda sua máquina pública para espalhar mentiras e tentar convencer pais, estudantes e trabalhadores da educação do contrário.

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Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato Paraná: A atual greve demonstrou que o governo Ratinho Jr, desde os tempos do secretário Feder, tem aplicado um laboratório neoliberal na educação no Paraná?

Hellen Lima: Sim, o governo de Ratinho Jr tem implementado uma série de políticas neoliberais, privatizantes e antidemocráticas não só na educação, mas em diversas áreas do interesse público, como a própria venda da Copel. Na educação, logo no início do seu primeiro governo, Ratinho Jr terceirizou os funcionários/as de escola, extinguindo o cargo de Agentes Educacionais I e II, que cumprem funções administrativas e de manutenção dentro das escolas, nas secretarias, bibliotecas, limpeza e merenda, que hoje são contratados por várias empresas com contratos precários e inúmeras denúncias de irregularidades que ferem os direitos trabalhistas. Outra política que vêm afetando a vida das escolas, concebida pelo ex-secretário Renato Feder, e continuada pelo atual Roni Miranda, é a plataformização, a utilização de várias plataformas digitais que têm diminuído a autonomia docente.

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Qual o principal prejuízo de tais plataformas?

Essas plataformas, que também são compradas de empresas privadas, provocam todo um sistema de padronização, fiscalização e pressão em escala, atingindo direções de escola, equipes pedagógicas, professores e estudantes. Além disso, a ampliação das escolas cívico militares em todo fere o princípio democrático da escola pública que conhecemos, acumulando denúncias de exclusão, preconceitos e abusos. Com a recente aprovação da lei que institui o projeto Parceiros da Escola, é o coroamento desse projeto privatista contra a escola pública. Percebemos pela forma como foi aprovada, contra todos os protestos do sindicato, dos estudantes e da sociedade em geral, mesmo passando por cima da própria Constituição Federal, que Ratinho Jr e seus amigos empresários pensam não ter limites para abocanhar o recurso público em benefício próprio.

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Pode-se dizer que, com a detenção de dois manifestantes e com o pedido de prisão da presidenta da APP, Walkiria Mazetto, há um novo patamar de repressão aplicado?

Certamente. É algo que não víamos desde a ditadura, e mesmo em momentos de grande repressão à luta dos professores e funcionários nunca houve o pedido de prisão de uma liderança sindical. Isso demonstra a aliança dos aparatos jurídicos estaduais, que seguem as ordens arbitrárias do governo. Essa ação repressora, bem como as medidas de punição impetradas pela Secretaria de Educação contra os grevistas, escancaram o caráter ao mesmo tempo neoliberal e autoritário deste governo.

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Quais as tarefas agora das educadoras na medida em que o projeto foi aprovado na Alep?

Uma parte da luta foi feita com muita efetividade, nossa greve colocou na boca do povo a pauta da privatização das escolas a nível nacional. Juridicamente também estamos movendo toda a defesa possível para reverter esse projeto inconstitucional. Mas a nossa principal resistência é na rua. Agora se abre outra frente de luta nas comunidades escolares, nossa tarefas seguem sendo a denúncia de todos os prejuízos desse projeto nefasto e a organização da resistência em todas as escolas para que barrem a privatização na consulta pública. Sabemos que não será tarefa fácil, pois certamente o estado utilizará de toda sua máquina pública para espalhar mentiras e tentar convencer pais, estudantes e trabalhadores da educação do contrário. Mas nossa mobilização segue forte, com a deliberação em Assembleia da construção de uma grande jornada de lutas até outubro, quando estão previstas as consultas à comunidade.


Professores ocuparam o prédio da Assembleia Legislativa em protesto contra proposta de privatização das escolas / Orlando Kissner/Alep

Da Redação