Manifestação em SP denuncia contrato com empresa israelense envolvida em genocídio palestino

Brasil de Fato

Militantes e ativistas contra o genocídio palestino que ocorre na Faixa de Gaza realizam, nesta quarta-feira (3), um protesto em São Paulo pelo cancelamento de contratos firmados entre o poder público brasileiro e empresas de armas israelenses. O ato está marcado para as 17h, em frente à sede do Comando Militar do Sudeste e integra o Dia Nacional pela Suspensão Definitiva dos Acordos Militares com Israel.

“É chegado o dia de fazermos pressão, com força total, para que o Estado brasileiro faça jus às suas palavras e às obrigações do Direito Internacional, rompendo todos os acordos e transações militares com Israel”, afirma o coletivo Vozes Judaicas para Libertação, uma das 70 entidades responsáveis pela iniciativa. “Não podemos mais ser um país que condena o genocídio do povo palestino com palavras, mas, na prática, financia e mantém contratos de cooperação com o regime israelense“.

A campanha pelo embargo militar a Israel prevê um dia de mobilização nacional neste 3 de julho. O coletivo pede mensagens para pressionar o governo sejam amplamente divulgadas nas redes sociais. Nesta semana, estão também previstos atos da campanha em Salvador, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Florianópolis, Belém e Belo Horizonte. 

Contratos

Uma das principais exigências do coletivo é que ocorra a suspensão definitiva de uma compra de cerca de R$ 1 bilhão do Exército brasileiro. A força havia decidido comprar 36 viaturas blindadas de combate, conhecidas como obuseiros, da israelense Elbit Systems, uma das maiores fabricantes de armas e sistemas militares de Israel.

Após a revelação de que o negócio estava prestes a ser fechado, uma onda de indignação passou a pedir pelo seu cancelamento, em ação que envolveu nomes como o cantor Chico Buarque de Hollanda. A assinatura foi então suspensa por 60 dias. 

Armas fabricadas pela empresa são utilizadas pelo governo israelense para atacar a Palestina, na ofensiva que já resultou na morte de cerca de 37 mil palestinos desde outubro de 2023. No processo licitatório, a israelense foi a preferida entre empresas da França, China e Eslováquia. O motivo da escolha é a existência de subsidiárias brasileiras da Elbit, que poderiam garantir o suprimento de munição e suporte logístico. 

Ao Brasil de Fato, o ministério da Defesa disse que quem responde pela compra é o Exército. Procurada, a Força não respondeu à reportagem. 

Contexto

O atual genocídio palestino cometido por Israel na Faixa de Gaza começou em outubro do ano passado, mas as condições no território já eram consideradas “sufocantes” pela ONU antes disso. O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calcula que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam, à época, de ajuda externa para sobreviver.

Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e 240 reféns. A resposta do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.

O número de vítimas fatais ultrapassou 37 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.

No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com quase 600 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano. Há inúmeros relatos de tortura desses detidos. 

A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e ressaltando a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos. A Corte Internacional de Justiça ordenou a interrupção imediata dos bombardeios em Rafah, para evitar a morte de civis, decisão ignorada por Israel.

Da Redação