Entidades palestino-brasileiras lançam proposta para que Brics+ liderem paz e reconstrução de Gaza

Brasil de Fato

Países do Sul Global integrantes do grupo Brics+ liderarem tanto as negociações para um acordo de paz como o plano para a reconstrução da Faixa de Gaza, destruída por Israel. A proposta foi iniciativa de duas entidades palestino-brasileiras, o Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) e a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), e apresentada ao embaixador da África do Sul no país na quarta-feira (3).

Se levada adiante, a proposta buscaria o apoio da Liga Árabe e seria uma alternativa à ventilada por Israel e EUA. Ambos os países disseram que formulariam um plano de reconstrução do território palestino após o fim do atual massacre.

“O plano é uma oportunidade deste bloco pró-palestina demarcar uma posição histórica, que será lembrada pelo povo palestino”, disse Para Ahmed Shehada, presidente da Ibraspal.

“É necessário que os Brics+ usem sua influência e peso político para pressionar por uma proposta de paz duradoura e que imponha ao Estado israelense a não intervenção e a desocupação de sua força militar das terras palestinas”, concluiu.

“Os estadunidenses têm influenciado conflitos no mundo e lucrado com isso, seja beneficiando sua indústria de defesa, seja tendo acesso a recursos naturais, como petróleo ou minerais, seja influenciando regiões estratégicas no globo para afetar acordos comerciais, alianças e interesses geopolíticos” e que, portanto, “um eventual auxílio dos Brics+ à reconstrução de Gaza teria um apelo mais humanista e solidário, ainda que a região volte a se desenvolver economicamente com isso”, disse o presidente da FEPAL, Ualid Rabah.

As entidades dizem que a proposta, se liderada pelos Brics+ e Liga Árabe, garantiria condições mínimas de paz na região e soberania para que os próprios palestinos conduzam sua reconstrução. O Brics+ é composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, com a adição de novos membros Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.

O apoio da África do Sul é crucial e simbólico. O país correntemente levou um caso ao Tribunal Penal Internacional, da ONU, para que a comunidade internacional reconheça que o que ocorre na Faixa Gaza é um genocídio. Outros 12 países se juntaram no processo este ano.

Por ter sido submetida ao regime racista do apartheid (1948-94), os sul-africanos há tempos têm uma afinidade natural com a luta palestina por liberdade e autonomia.

Contexto

O atual genocídio palestino cometido por Israel na Faixa de Gaza começou em outubro do ano passado, mas as condições no território já eram consideradas “sufocantes” pela ONU antes disso. O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calcula que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam, à época, de ajuda externa para sobreviver.

Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e fazendo 240 reféns. A resposta do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.

O número de vítimas fatais ultrapassou 37 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.

No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com quase 600 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano. Há inúmeros relatos de tortura desses detidos.

A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e ressaltando a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos. A Corte Internacional de Justiça ordenou a interrupção imediata dos bombardeios em Rafah, para evitar a morte de civis, decisão ignorada por Israel.

Da Redação