Morador de favela fica mais uma vez em fogo cruzado, diz coordenadora da Rio de Paz sobre megaoperação em comunidades

Brasil de Fato

A megaoperação idealizada pelo governo do Rio de Janeiro e deflagrada nesta segunda-feira (15) com a ocupação de dez comunidades do estado pode se expandir. Foi o que declarou o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, em entrevista coletiva realizada nesta terça-feira (16). 

Chamada de Ação Ordo, ela conta com atuação das Polícias Civil e Militar do Rio e não tem data certa para acabar. O objetivo principal é combater o tráfico e a milícia, que travam disputa nos territórios, principalmente na zona oeste.

A iniciativa levanta discussões sobre a sua real efetividade. Para Fernanda Valim, coordenadora do Núcleo de Ativismo da ONG Rio de Paz, os moradores acabam virando reféns e a forma como essas operações são realizadas só enxuga gelo.

“[As operações] colocam a vida do agente de segurança como escudo, como bucha, como bala. A vida dos agentes de segurança também é colocada em perigo”, afirma. “A situação é a seguinte: esses moradores de favela são reféns. Os moradores dessas comunidades, assim como de tantas outras, não só no Rio de Janeiro, infelizmente.”

“Essas comunidades têm sido tomadas pela narco milícia há muitos anos. A gente antes tinha o tráfico, depois, a ascensão da milícia, hoje, já se fala em narco milícia. Não dá para separar a atividade deles”, prossegue Valim. “Obviamente, essas facções brigam entre si e no fogo cruzado da briga entre facções e da ação policial está o morador da favela.”

Para contextualizar a situação, a coordenadora da ONG Rio de Paz cita dados de violência da Secretaria de Segurança Pública. Desde janeiro de 2023 até a última sexta-feira (12), 238 pessoas foram assassinadas nos territórios da zona oeste do estado que estão em disputa.

“E agora a gente vê essa megaoperação acontecendo, colocando o morador de favela mais uma vez nesse fogo cruzado. Qual é o grande medo do morador de favela É o medo do abuso de autoridade, porque, quando o Estado mostra essa face para o morador de favela, a face da segurança pública, ela vem invariavelmente acompanhada de abuso de autoridade”, declara. 

Ela complementa ainda que há interesse eleitoreiro em fazer a megaoperação neste momento e não a real preocupação em combater o crime organizado. “O discurso do Claudio Castro [governador do RJ] é um discurso eleitoreiro. Nós estamos em pré-campanha municipal. As eleições municipais são importantes para a conquista de territórios pelos políticos. Elas vão ter um peso lá em 2026.”

Valim acrescenta que outras soluções permanentes existem para encarar o problema das milícias e do tráfico no estado fluminense. Mas um método efetivo, que precisa olhar para políticas públicas à população, acaba não sendo adotado.

“Existe [solução]. A gente vê quando são feitas operações com inteligência. Porque a polícia civil do Rio tem um núcleo de inteligência capaz de rastrear o dinheiro, o caminho do dinheiro dessas facções e atuar por essa via. Dá para prender um monte de gente, de chefão grosso aí, de milícia e narcotráfico, sem disparar um tiro dentro da favela”, afirma.

“Essa operação só dá certo quando você dá garantias para a população e o Estado faz uma ocupação maior do território. Não é apenas com a segurança pública, que é apenas um dos lados dessa operação.”

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta terça-feira (16) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Da Redação