Delegação brasileira tem oito representantes de Pernambuco nos Jogos Paralímpicos; veja quem são, quando competem e onde assistir

Brasil de Fato

Na quarta-feira (28) aconteceu a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Paris, cujas competições têm início nesta quinta (29), já com pernambucanos disputando medalhas. O evento esportivo, voltado para pessoas com algum tipo de deficiência, segue até o dia 8 de setembro.

A delegação brasileira tem 279 atletas – dos os quais oito são pernambucanos (eram 10 em Tóquio 2021). Os representantes do estado são quatro homens e quatro mulheres, que disputam provas de natação, remo, bocha, goalball e futebol de cegos. Todos recebem incentivos do programa federal Bolsa Atleta. 

Esta é a 17ª edição de Jogos Paralímpicos, competição que teve sua semente plantada num centro de reabilitação para veteranos da 2ª Guerra Mundial, ainda na década de 1940, mas que se tornou uma competição internacional e parte do calendário olímpico a partir de 1960 – ainda sem ser abraçada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). O Brasil passou a enviar delegações em 1972.

Apesar de o desempenho do Brasil nos Jogos Paralímpicos (onde figura no Top 10) ser superior ao destaque nas Olimpíadas, os paratletas ainda pelejam para conquistar visibilidade e patrocínio. Portanto, a transmissão das competições – especialmente em TV aberta – é de grande importância para os atletas brasileiros.

Mas onde assistir?

Os direitos de transmissão dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024 foram comprados, no Brasil, pelo Grupo Globo, que na TV aberta fará transmissões pontuais ao longo de sua programação, além de um boletim diário no fim da tarde. A emissora terá transmissões mais consistentes na TV a cabo e no plano pago do seu streaming “Globoplay + Canais”. A plataforma disponibilizará o programa diário Conexão Paris para não-assinantes.

TV Globo (aberta) – Na TV aberta a Globo exibirá apenas competições pontuais que julgar interessantes, quando houver brasileiros disputando medalhas, por exemplo. A Globo também transmitirá diariamente um boletim com um resumo diário, o “Volta Paralímpica”, exibido de segunda a sexta-feira no fim da tarde ou início da noite, após o Vale a Pena Ver de Novo. No fim de semana o boletim será exibido após o Caldeirão com Mion (sábado) e após o primeiro bloco do Domingão com o Huck (domingo).

A emissora garantiu que transmitirá ao vivo a semifinal (5 de setembro) e a final (7 de setembro) do futebol de cegos, caso a Seleção Brasileira esteja na disputa. O Brasil é dominante desde a estreia da modalidade, nos Jogos de Atenas 2004, ganhando todas as cinco edições. A Canarinho Paralímpica vai em busca do hexa e conta com o pernambucano Raimundo Nonato, sertanejo de Orocó, no time titular.

Sportv (TV à cabo) – Os canais esportivos à cabo do Grupo Globo serão os principais transmissores dos Jogos Paralímpicos para o país. O Sportv 2 terá 10 horas de transmissão ao vivo durante os 11 dias de competições. Outros dois canais do Sportv farão coberturas ao vivo das disputas de natação e atletismo. O Sportv também terá o programa diário Conexão Paris.

Globoplay (straming) – Só assinantes do plano pago “Globoplay + Canais” têm direito aos três canais Sportv que transmitem as Paralimpíadas. Já o Conexão Paris ficará disponível no Globoplay aberto a não-assinantes e também terá versões para redes sociais (TikTok, Youtube, Facebook e no site GloboEsporte.com).

Os Paratletas Pernambucanos

Nonato, pernambucano de Orocó
37 anos, atleta do Futebol de Cegos (ou Fut-5)


De Orocó (PE), Nonato participou de três dos cinco ouros paralímpicos conquistados pelo Brasil no futebol de cegos / Alê Cabral/CPB

Raimundo Nonato Mendes, o “Nonato”, é camisa 8 e um dos destaques da Seleção. Ele nasceu com pouca visão devido a uma doença na retina, mas desde criança gostou de jogar futebol. Passou a disputar o esporte paralímpico aos 23 anos, mostrou qualidade ofensiva e não tardou para ser convocado para a Canarinho, onde joga de ala e pivô. Em clubes, Nonato hoje é atleta do Apadevi, de Campina Grande (PB).

O atleta participou de três (2014, 2018, 2021) dos cinco ouros paralímpicos conquistados pelo Brasil no futebol de cegos. Mas a hegemonia brasileira está ameaçada pelos nossos principais adversários: os argentinos, que venceram a Copa do Mundo 2023 e buscam seu primeiro ouro paralímpico na modalidade. Neste mundial mais recente o Brasil caiu diante da China, na semifinal, ficando com o bronze.

O Brasil está no Grupo A, em competições contra China, Turquia e França. Os dois primeiros colocados avançam ao mata-mata, onde enfrentam os melhores do Grupo B, que tem Argentina, Colômbia, Marrocos e Japão.

Calendário do Futebol de Cegos:
1º/Set (dom), 13h30 – Brasil x Turquia
2 /Set (seg), 15h30 – Brasil x França
3 /Set (ter), 13h30 – Brasil x China
5 /Set (qui), 12h30 ou 15h – Semifinais
7 /Set (dom), 15h – Final

Moniza, pernambucana do Recife
26 anos, atleta de Goalball (“Golbol”)


A recifense Moniza joga de pivô (central) e é atleta do Sesi (SP); pela Seleção, jogou sua primeira Paralimpíada em Tóquio 2021 / Marcello Zambrana/CPB

Moniza Aparecida de Lima nasceu com glaucoma. Aos 15 anos, morando na Bahia, começou a praticar goalball, esporte desenvolvido originalmente para deficientes visuais. Hoje ela é atleta do Sesi (SP). A recifense foi convocada pela primeira vez para a Seleção em 2017 e ganhou medalhas em campeonatos mundiais e continentais, sendo a mais recente o ouro no Campeonato das Américas. Moniza joga de pivô (central) e disputou sua primeira Paralimpíada em Tóquio 2021, onde não conquistou medalha.

O Brasil é uma potência do goalball masculino, mas ainda busca se colocar no topo das competições femininas. A modalidade pode ser pouco conhecida do grande público, mas há federações dedicadas ao esporte em 112 países. No Recife existem três equipes femininas (APEC, Assobecer e a AFCP) e quatro masculinas (das três entidades já citadas, há o time da AAPD). A APEC (Associação Pernambucana de Cegos) é um dos times mais fortes do Nordeste.

O jogo é disputado numa quadra de futsal, mas com barras grandes, com 9 metros de largura e 1,3m de altura. Cada time tem três atletas titulares e três reservas, que defendem e atacam simultaneamente durante dois tempos de 12 minutos cada. Uma bola com guizo é arremessada com as mãos para marcar gols nas adversárias, mas a bola precisa tocar no chão a cada arremesso.

E o goalball feminino marca a primeira disputa do Brasil nesses Jogos Paralímpicos, às 5h30 da manhã desta quinta-feira (29). O Brasil está no Grupo A, com China, Israel e Turquia – esta última, considerada a favorita à medalha de ouro e nossas adversárias já na estreia. Todos avançam ao mata-mata, mas classificação define o adversário. O Grupo B tem Canadá, França, Coreia do Norte e Japão. Entenda o goalball em apenas 1 minuto.

Calendário do Goalball feminino:
29/Ago (qui), 5h30 – Brasil x Turquia
30/Ago (qua), 5h30 – Brasil x Israel
31/Ago (sáb), 9h45 – Brasil x China
3 /Ago (ter), 8h30, 10h15, 13h e 14h45  – Quartas de final
5 /Set (qui), 10h – Disputa de 3º lugar (bronze)
5 /Set (qui), 12h45 – Final

Phelipe Rodrigues, pernambucano do Recife
34 anos, atleta de Natação (S10 – limitações físico-motoras)


Phelipe Rodrigues é o maior medalhista paralímpico da delegação brasileira este ano, com 8 medalhas (5 pratas e 3 bronzes). Esta será sua “última dança” – quem sabe com um ouro / Alê Cabral/CPB

Phelipe Andrews de Melo Rodrigues é o maior medalhista paralímpico da delegação brasileira este ano, com oito medalhas (cinco pratas e três bronzes). Ele já anunciou que esta será sua “última dança” – e deseja se despedir com um ouro em Jogos Paralímpicos.

Ele integra a Seleção Brasileira Paralímpica de Natação há mais de 15 anos. Já competiu nos Jogos Paralímpicos de Pequim (2008), Londres (2012) e Rio (2016) e Tóquio (2021), sendo medalhista em todas elas. Compete na categoria S10, correspondente às limitações físico-motoras, e vai nadar nas provas de 50 metros livres, 100 metros livres e no revezamento misto 4×100 livre.

Phelipe nasceu com o pé direito torto congênito e foi submetido a diversas cirurgias ainda bebê. Aos 6 anos passou a ter aulas de natação por recomendação médica – e ganhou gosto pelo esporte. Morou na Paraíba, Rio de Janeiro e Reino Unido. Hoje vive em São Paulo, é graduado em Educação Física e compete representando o Time Naurú de natação. Nas férias, costuma vir a Pernambuco e Paraíba visitar a família e buscar bons ventos para praticar kitesurf e windsurf.

Calendário de Phelipe na Natação:
50 metros nado livre (categoria S10)
29/Ago (qui), 5h50 – bateria classificatória
29/Ago (qui), 14h35 – final

100 metros nado livre (categoria S10)
1º/Set (dom), 4h35 – bateria classificatória
1º/Set (dom), 12h40 – final

Revezamento misto 4×100 nado livre (categoria 34 pontos)
7/Set (sáb), 15h30 – final

Carolina Santiago, pernambucana do Recife
39 anos, atleta de Natação (S12 e S13 – deficiência visual)


Carol Santiago tem 5 medalhas (3 ouros, 1 prata, 1 bronze) tendo competido apenas em Tóquio 2021; em Paris ela disputa 7 categorias e pode entrar no Top 5 de maiores medalhistas paralímpicos do Brasil / CPB

Maria Carolina Santiago é a maior medalhista mulher da delegação brasileira, com cinco medalhas (3 ouro, 1 prata e 1 bronze), apesar de ter participado apenas dos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2021. E ela vai em busca de se entrar no Top 5 de maiores medalhistas paralímpicos brasileiros (de ambos os sexos). Isso porque Santiago vai competir em sete categorias.

Carol nada desde criança, mas migrou para o esporte paralímpico em 2018, aos 33 anos. Desde então, tem se mostrado dominante nos 50 metros livres, quebrando recorde brasileiro, conquistando medalhas de ouro em série em Parapanamericanos, mundiais e, em sua estreia em Paralimpíadas, levou nada menos que 5 medalhas (3 ouros, 1 prata e 1 bronze). A recifense é detentora do atual recorde mundial dos 50 metros livre (com 26”65), estabelecido em 2023. 

A atleta nasceu com uma síndrome chamada “morning glory”, que afeta o nervo óptico. Ela é parcialmente cega de um olho e não possui visão periférica. Ela iniciou na natação aos 4 anos, por ser um esporte que não afetaria seus olhos, mas acabou sofrendo com acúmulo de água na retina, o que a afastou das piscinas na adolescência, período em que ficou oito meses completamente sem visão. Santiago só voltou a nadar aos 27 e, aos 33, migrou para o esporte paralímpico, competindo na categoria S12, que reúne atletas com baixa visão. Ela é atleta do Grêmio Náutico União (RS).

Calendário de Carol Santiago na Natação:
100 metros nado borboleta (categoria S13)
29/Ago (qui), 6h30 – bateria classificatória
29/Ago (qui), 15h15 – final

100 metros nado costas (categoria S12)
31/Ago (sáb), 4h30 – bateria classificatória
31/Ago (sáb), 12h35 – final

50 metros nado livre (categoria S13)
2 /Set (seg), 5h50 – bateria classificatória
2 /Set (seg), 13h45 – final

200 metros medley (categoria SM 13)
3 /Set (ter), 6h20 – bateria classificatória
3 /Set (ter), 15h00 – final

100 metros nado livre (categoria S12)
4 /Set (qua), 4h30 – bateria classificatória
4 /Set (qua), 12h35 – final

Revezamento misto 4×100 nado livre (categoria 49 pontos)
4 /Set (qua), 14h55 – final

100 metros nado peito (categoria SB 12)
5 /Set (qui), 6h00 – bateria classificatória
5 /Set (qui), 14h25 – final

Andreza Vitória, pernambucana do Recife
23 anos, atleta da bocha (BC1)


Andreza Vitória pratica bocha desde os 14 anos, se destacando nas Paralimpíadas Escolares; estreou sem medalhas em Tóquio 2021, mas evoluiu bastante desde então e deve brigar pelo ouro / Saulo Cruz/CPB

Andreza Vitória Ferreira de Oliveira foi apresentada à bocha ainda na escola e começou a praticar com 14 anos. No ano seguinte já conquistou o 2º lugar nas Paralimpíadas Escolares e posteriormente foi campeã. Não tardou para ser convocada para a Seleção Brasileira. Ela estreou nas Paralimpíadas em Tóquio 2021, mas não trouxe medalha. Desde então, tem evoluído no esporte e conquistou ouro nos Jogos Parapanamericanos (2023) e no Mundial de Bocha (2022). Ela chega confiante para conquistar sua primeira medalha paralímpica em Paris.

Andreza é atleta da equipe de bocha da UFPE, onde é treinada por Poliana Cruz, e compete na classe BC1, correspondente a atletas com sequelas de paralisia cerebral, mas com autonomia motora para usar as mãos ou pés, com direito a um auxiliar para entregar-lhes a bola. Voltada para atletas cadeirantes, a bocha é disputada individualmente e por equipes, sem distinção de sexo. A divisão se dá em quatro categorias: BC1, BC2, BC3 e BC4, de acordo com o grau de comprometimento motor dos competidores e o tipo de auxílio (ou falta dele) que podem ter acesso.

Calendário de Andreza Vitória na Bocha (BC1), no Grupo triangular “A”
(Andreza precisa ser 1º ou 2º lugar do seu grupo para ir ao mata-mata)
29/Ago (qui), 13h10 – Andreza V. Oliveira (BRA) x Ailen Flores (ARG)
31/Ago (sáb), 7h50 – Andreza V. Oliveira (BRA) x Yuriko Fujii (JAP)
31/Ago (sáb), 14h35 – Quartas de Final (simultâneas)
1º/Set (dom), 6h55 – Semifinais (simultâneas)
1º/Set (dom), 12h – Final e disputa de 3º lugar (simultâneas)

Evani Calado, pernambucana de Garanhuns
35 anos, atleta da bocha (BC3)


Na categoria BC3 da bocha, Evani já conquistou o ouro por equipes no Rio 2016; nascida em Garanhuns (PE), ela vive em São Paulo joga pela Associação Paradesportiva Todos (APT-SP) / Saulo Cruz/CPB

Evani Soares da Silva Calado nasceu em Garanhuns e, ao nascer, sofreu com falta de oxigênio, paralisia cerebral e um deslocamento dos quadris. Ela conheceu a bocha na adolescência, mas só passou a competir após entrar na universidade. Se destacou nos campeonatos e foi convocada para a Seleção. Representando o Brasil, Evani conquistou o ouro na disputa por equipes nos Jogos do Rio 2016. Ela joga pela Associação Paradesportiva Todos (APT-SP), de São Paulo, estado onde mora. Evani compete na classe BC3, correspondente aos atletas com comprometimento motor e que precisam de assistência para movimentar a calha durante a partida.

Calendário de Evani Calado na Bocha (BC3), no Grupo quadrangular “B”
(Evani precisa ser 1º lugar do seu grupo para ir ao mata-mata)
29/Ago (qui), 15h30 – Evani Calado (BRA) x Ana Costa (POR)
30/Ago (sex), 9h – Evani Calado (BRA) x Ho Yuen Kei (HKG)
31/Ago (sáb), 9h – Evani Calado (BRA) x Elanza Jordaan (AFS)
1º/Set (dom), 8h10 – Semifinais (simultâneas)
1º/Set (dom), 13h10 – Disputa de 3º lugar (bronze)
2 /Set (seg), 13h10 – Final

Erik Lima e Gabriel Mendes, pernambucanos do Recife e São Lourenço
28 anos e 20 anos, atletas de remo (4+ PR 3 misto)


Do Capibaribe ao Sena: Gabriel Mendes e Erik Lima, junto a outros remadores brasileiros, ficaram em 2º lugar no mundial de remo e esperam repetir a façanha na primeira Paralimpíada de suas vidas / Gustavo Neukranz/Sport Recife

Erik Matheus da Silva Lima e Gabriel Mendes de Souza treinam no Rio Capibaribe, no coração do Recife. Nas competições nacionais, a dupla representa as cores do Sport. Mas há alguns meses os dois, junto a outros remadores brasileiros, conquistaram o 2º lugar no mundial de remo na categoria mista com quatro remadores no barco. Assim, os pernambucanos asseguraram a vaga para a primeira Paralimpíada de suas vidas.

Tanto Erik como Gabriel nasceram com a mesma condição: o pé torto congênito. A dupla compete na categoria PR3, correspondente a remadores com ausência de membros (mão ou pé) ou têm dificuldades de coordenação motora em um dos membros (braços, tornozelos ou pés). Eles se classificaram para Paris não como dupla, mas num time formado por 5 componentes, sendo quatro titulares.

Com familiares pescadores, Erik foi apresentado ao remo pelo seu irmão e, aos 15 anos, se apaixonou pelo esporte, se tornando o primeiro paratleta pernambucano na modalidade. Foi convocado para a Seleção pela primeira vez em 2014, aos 18. Gabriel começou a praticar aos 13 e foi convocado pela primeira vez em 2023, aos 19. Eles formam dupla desde 2019. São campeões pernambucanos (PR3) e integram a equipe brasileira mista na categoria 4+ PR3.

Calendário de Erik Lima e Gabriel Mendes no remo (4+ PR3 misto)
(a equipe tem Priscila Barreto, Alina Dumas e o timoneiro Jucelino da Silva)
30/Ago (sex), 7h10 e 7h30 – baterias classificatória
31/Ago (sáb), 6h50 – repescagem
1º/Set (dom), 7h30 – final

Da Redação