Campo, florestas e cidades: juventudes da Amazônia se organizam em rede para cobrar políticas públicas

Brasil de Fato

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a região Norte do Brasil é a mais jovem do país, com 25,2% de sua população com até 14 anos, seguida pelo Nordeste, com 21,1%.  

As juventudes dos territórios amazônicos compartilham desafios em comum, como o baixo nível de escolaridade, a desigualdade social, a mortalidade infantil e a falta de saneamento. Atuando em rede, esses grupos têm se articulado para propor alternativas e políticas públicas para potencializar sua força e protagonismo.

“A gente também quer um Brasil robusto, um Brasil rico, que enxergue nas suas juventudes uma oportunidade para construir capacidade e pensar meios de descarbonização. Mas, para isso, a gente precisa ter órgãos a nível de estado, de município, destinados para a construção de políticas públicas para a juventude e, sobretudo, ter orçamento, porque não adianta estar na pasta de políticas públicas se não está na pasta orçamentária”, explica Karla Giovanna Braga, representante da Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável (Cojovem).


Organizações de juventudes estimulam o protagonismo em causas sociais para preservação da floresta amazônica e seus povos. / Reprodução/Cojovem

No estado do Pará, o governo de Hélder Barbalho tem para as juventudes apenas uma gerência dentro da Secretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh-PA). O orçamento para 2024 é de R$ 20 mil para atender aos mais de 2 milhões de jovens paraenses, o equivalente a menos de um centavo por pessoa.

“Isso dificulta, por exemplo, as juventudes a terem mecanismos de crédito e renda e conseguirem participar, financiarem os seus transportes, porque muitas vezes a juventude não tem dinheiro para financiar seu deslocamento para participar de ações, para intervir, fazendo incidência política e isso é muito preocupante, ver que cada jovem vale menos de um centavo”, complementa Karla.


COP das Baixadas debate o direito às cidades, comunicação, clima e sociedade com as comunidades. / Andre Butter/Negritar

A COP30 será a primeira cúpula do clima realizada em uma cidade da Amazônia, em Belém do Pará, no ano de 2025. E desde já, as juventudes mobilizam os territórios e as cidades. Um exemplo é da COP das Baixadas, movimento com ações de educação climática, atividades culturais, de lazer e esporte nas comunidades.

“A nossa coalizão tem trabalhado para garantir que a voz das periferias seja ouvida e considerada nos processos de tomada de decisão, já que essas vozes são marginalizadas pelos poderes centrais políticos, então a gente quer influenciar também as políticas públicas, para que, de fato, sejam construídas de acordo com a realidade das juventudes periféricas”, explica Waleska Queiroz, da COP das Baixadas.


Coletivo amapaense liderada por jovens negros da Amazônia se destaca na defesa da cidadania. / Reprodução/Coletivo Utopias Negras

De acordo com o Atlas das Juventudes, o Amapá é o estado brasileiro com maior percentual de jovens. Nesse contexto, o Coletivo Utopia Negra Amapaense, formado em sua maioria por jovens negros, atua como um canal para a participação efetiva das comunidades em espaços com os tomadores de decisão.

“Nós, enquanto organização da juventude negra do Amapá estamos trilhando caminhos colaborativos com organizações diversas da Amazônia, salientando a importância de um espaço de articulação, alinhamento e formação. Sobre a COP, nós desejamos que as organizações de base possam estar em evidencia nesse evento que acontecerá em nossas casas, por isso estamos atuando em confluência para que as vozes dos nossos territórios sejam ouvidas e potencializadas, além de respeitadas”, declara Irlan Paixão, do Coletivo Utopias Negras Amapaenses.

Da Redação