‘Pode ser precedente mundial’, diz MAB sobre julgamento da BHP por crime ambiental em Mariana

Brasil de Fato

Nesta terça-feira (22), segundo dia do julgamento da mineradora anglo-australiana BHP Billiton, em Londres, um grupo de brasileiros realizou uma manifestação nas ruas da capital britânica. Com cartazes e camisetas com fotos das vítimas do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015, representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e atingidos/as de Ipatinga, Mariana, Ouro Preto, Governador Valadares e Barra Longa cobravam justiça para os atingidos.

As audiências tiveram início quase nove anos depois do crime ambiental que resultou na morte de 19 pessoas, no deslocamento de ao menos 600 e na destruição dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo.

Além da manifestação, integrantes do MAB participaram de uma reunião na Portcullis House, em Westminster, com parlamentares do Reino Unido que ouviram relatos dos atingidos sobre os danos contínuos da tragédia criminosa.

“Não é algo que aconteceu no passado e ficou que ficou lá. Elas [as vítimas] lidam com essa tragédia, com esse crime, com os danos desse rompimento diariamente na vida delas”, ressalta Olívia Santiago, coordenadora Nacional do MAB em Minas Gerais. Ela acompanha, em Londres, as atividades em torno do caso.

O julgamento histórico contra a BHP, na Corte Britânica, decidirá sobre a responsabilidade da empresa co-proprietária da Samarco junto com a brasileira Vale pelo rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015.

Além das mortes e desalojamentos, o crime resultou no despejo de toneladas de lama tóxica que percorreram quase 700 km, causando destruição ambiental e social ao longo de toda a bacia do rio Doce, entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

No Reino Unido, a BHP enfrenta um processo que pode resultar em indenizações de até R$ 260 bilhões para mais de 600 mil pessoas atingidas, um valor significativamente superior aos R$ 170 bilhões propostos no acordo em negociação no Brasil. O acordo brasileiro é criticado pelo MAB, que denuncia a falta de participação dos atingidos nas negociações e o valor insuficiente da reparação.

“A busca por reparação na justiça inglesa é um marco para todo o mundo perante crimes ocorridos por empresas transnacionais. A gente entende que esse pode ser um precedente mundial para outros crimes socioambientais iguais a este”, avalia Santiago.

O processo na Corte Britânica deve ser finalizado em março de 2025 e definirá se a mineradora tem responsabilidade pelo crime da Samarco em 2015.

Da Redação