‘Minha filha, o que fizeram com você?’: 45 dias após assassinato, mãe de Marielle Franco mandou mensagem à filha
Brasil de Fato
Na manhã desta quarta-feira (30), durante o julgamento de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, réus confessos do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, o Ministério Público Estadual (MPE) mostrou uma série de mensagens trocadas entre a ex-vereadora e sua mãe, Marinete Silva.
Entre as mensagens, os promotores destacaram o texto que Marinete Silva enviou para o número que pertencia a Marielle Franco 45 dias depois do assassinato: “Minha filha, o que fizeram com você?”, perguntou a mãe.
O depoimento de Marinete Silva foi o segundo, neste primeiro dia de júri popular. Antes, quem falou foi Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado que vitimou Marielle Franco e Anderson Gomes, que era assessora da ex-vereadora. Ela falou sobre o que viu na noite de 14 de março de 2018, data do atentado.
“Eu ouvi uma rajada em nossa direção. Eu percebi que era uma rajada em direção ao carro. Em um reflexo, eu me abaixei. Eu estava atrás do Anderson e do lado da Marielle. Eu me enfiei atrás do banco do Anderson. Eu percebi que o carro foi atingido, mas seguia em movimento. O Anderson esboçou dor, falou ‘ai’, mas foi um suspiro. Eu lembro que o carro estava andando, mas lembro dos braços dele caindo. Marielle estava imóvel e o corpo dela caiu em cima de mim”, disse Chaves, que seguiu narrando o episódio.
“Eu acreditava que tinha acabado passar por um tiroteio e o carro tinha passado pelo meio do tiroteio. Na minha cabeça, eu tinha que sair do carro e pedir ajuda, mas saí com muito medo. Abri a porta e desci engatinhando com muito cuidado, achando que poderia ter acontecido uma ocorrência atrás. Eu estava ensanguentada, muito suja de sangue. E comecei a gritar por socorro, pedir ajuda, por uma ambulância”, finalizou.
Choro e emoção
Em seguida, Marinete Silva foi chamada para prestar depoimento. Emocionada e com algumas pausas de choro, a mãe de Marielle Franco falou sobre a relação com a filha. “Você imagina saber que alguém planejou, ou de alguma forma tirou a vida de um filho seu?”, perguntou.
“Estar aqui hoje é muito difícil. A justiça deve ser feita. Não é normal uma mãe enterrar o filho. Um filho é uma dádiva, não é todo mundo que recebe essa dádiva, eu pari minha filha… é muito duro o que passei com a Marielle”, lamentou.
Nas galerias do tribunal, Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle Franco, também se emocionou. Ao seu lado, estavam o pai, Antônio Silva e a filha da ex-vereadora, Luyara Santos, além do presidente da Embratur, o ex-deputado federal Marcelo Freixo.
“O que aconteceu ali foi muito cruel, aquilo não se faz. Vocês estão falando com uma mãe que está esperando por justiça há sete anos… Eu tô aqui para isso, pra pedir justiça por Marielle e Anderson”, explicou Marinete, que pediu a condenação de Lessa e Queiroz.
“Nós temos dois homens que são réus confessos hoje, mas tínhamos a esperança de chegar até esse dia. Nós passamos por muita coisa, foram cinco delegados. Eu não cheguei aqui sozinha, tem muita gente rezando comigo. Foi muito duro chegar até aqui”, finalizou.