Dois dias após Derrite anunciar o fim da Operação Verão, mais um homem é morto pela PM em Santos (SP)

Brasil de Fato

Dois dias após o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL), anunciar o fim da Operação Verão, a Polícia Militar (PM) matou mais um homem na Baixada Santista. O caso aconteceu no início da tarde desta quarta-feira (3), na Praça José Lamacchia, em Santos, no mesmo lugar e uma semana depois que Edneia Fernandes Silva, de 31 anos e mãe de seis filhos, foi morta por policiais com um tiro na cabeça.  

Desta vez, a vítima foi Carlos Henrique Barbosa Garcia, um homem de 26 anos. Deixou uma esposa e uma criança de um ano de idade. Em vídeo divulgado pelo perfil do Instagram Frequência Caiçara, se vê o sangue no chão da praça, uma viatura da PM com dois policiais do lado de fora, e, entre gritos, moradores correndo com Carlos nos braços. “Não mexe gente, não vai ter perícia”, diz a mulher fazendo a filmagem.  

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Procurada pelo Brasil de Fato, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse, seguindo o padrão da Operação Verão, que a morte foi decorrente de confronto. “A equipe realizava patrulhamento quando se deparou com três suspeitos armados. Houve confronto e um deles foi atingido, ele foi socorrido por populares”, diz a nota. Na versão dos policiais, Carlos estaria com “porções de maconha”, uma pistola e “uma quantia em dinheiro”.  

Os 57 mortos e o fim que não é fim 

O anúncio do fim da Operação Verão aconteceu na última segunda-feira (1). De acordo com a SSP-SP, 56 pessoas teriam morrido em confronto, 1072 foram presas e 2,6 toneladas de drogas foram apreendidas. “A estratégia da SSP-SP para combater o crime organizado”, informa a pasta, “agora dá lutar à ampliação de efetivo de 341 PMs que passam a atuar de maneira permanente nas cidades da região”. 

Como continuidade da Operação Escudo, que matou 28 pessoas no ano passado, a Operação Verão começou em 18 de dezembro e teve a sua fase mais letal iniciada em fevereiro. Todas as etapas foram inauguradas em resposta à morte de um policial militar. 

“Olha, eu nem sabia que eram 56, eu não faço essa conta”, declarou Derrite na segunda-feira (1º). “Infelizmente são 56. Para mim, o ideal é que não fosse nenhuma [morte], mas no mundo real em que a gente vive, a negligência do combate ao crime organizado no Brasil e no estado de São Paulo chegou num ponto que qualquer viatura policial vai sofrer disparo de arma de fogo”, afirmou, enquanto participava de um evento com o prefeito Ricardo Nunes (MDB).  

Para o ouvidor da Polícia, Cláudio Silva, a má repercussão da morte de Edineia pode ter colaborado para o fim da operação. Baleada enquanto conversava com uma amiga no banco da praça, ela trabalhava como cabelereira e estava estudando para ser enfermeira. 

Além disso, no último sábado (30), uma ação no morro Nova Cintra também ganhou visibilidade. O Boletim de Ocorrência registrou que, ao supostamente perseguir três pessoas (que não foram capturadas), policiais fizeram 188 disparos de fuzil pela comunidade de Santos.  

Independentemente do motivo que levou o governo Tarcísio a decretar o fim da Operação Verão, a sensação para moradores da Baixada Santista é de continuidade. Na noite desta quarta-feira (3) no bairro Bom Retiro, onde Edneia e Carlos foram mortos em Santos, lençóis foram pendurados na rua com os dizeres “chega de matar” e “favela pede paz”. 


Com mais uma morte cometida pela PM a despeito do fim da Operação Verão, moradores protestam por paz / Arquivo/Comunidade

Da Redação