Brasil inteiro fornece água potável para o Rio Grande do Sul, mas a escassez ainda é muito grande

Brasil de Fato

A crise no abastecimento de água potável está atingindo mais de 500 mil casas e prédios residenciais em razão das enchentes na área metropolitana de Porto Alegre. A Defesa Civil está recebendo milhões de litros do produto e distribuindo com a melhor logística possível para todo o Estado, onde cerca de 425 dos 497 municípios estão com sérias dificuldades, segundo informa a Tenente Sabrina Ribas, responsável pelo QG de Porto Alegre. Ela diz que a água está indo para todas as frentes e que não há qualquer discriminação de qualquer caráter. Todo o Brasil está mandando água e ela está indo para quem precisa, reforça a militar.

Hoje também começaram a ser distribuídos 220 purificadores de água doados pelo governo federal e pelo influenciador do youtuber, Felipe Neto, que arrecadou R$ 5 milhões para a compra  dos equipamentos. Do total, 20 ficaram em São Leopoldo e os demais vão para a região metropolitana e Zona Sul do Estado, que começou a ser afetada ontem por inundações. Cada purificador torna potável 5 mil litros de água da enchente por dia. 

A Defesa Civil alerta que prioridade de fornecimento não existe, mas preferências, como hospitais, abrigos, creches, igrejas, casas paroquiais, ginásios, clubes – onde estão milhares de pessoas. A Tenente Ribas diz que denúncias de que pessoas não estão recebendo água potável são casos isolados, naturais em operações gigantescas, mas que todo o estoque está sendo distribuído da melhor forma possível. “Aqui não tem estoque nenhum sendo acumulado. Helicópteros, caminhões, carros, barcos, todos os meios estão sendo utilizados para fazer a água nos locais necessitados.” 

Em Porto Alegre, por exemplo, onde o abastecimento do DMAE não foi regularizado, as pessoas estão se virando como podem. Das seis estações de tratamento, duas estão funcionando agora. Uma das maiores fornecedoras, a Estação Moinhos de Vento, que beneficia quase 500 mil pessoas do Centro e outros bairros, como Moinhos de Vento, Auxiliadora, Rio Branco, Higienópolis, é a que está enfrentando maiores problemas para captação e bombeamento da água do Guaíba. 

No Bairro Auxiliadora, por exemplo, muita gente está ajudando. Não há água potável nos supermercados, bares e restaurantes. Um posto de gasolina, na esquina da Nova York com Cristóvão Colombo, fornece água do seu poço artesiano sem parar desde domingo. Hoje houve uma pequena interrupção por questões de energia – as bombas não davam conta das exigências para puxar água do poço. O maior problema dos abrigos e das pessoas em geral que estão sem fornecimento é tomar banho e lavar roupa. Virou missão impossível. Manter a higiene pessoal e dos banheiros se transformou, assim, numa verdadeira odisseia de malabarismos.

“A gente está sem água há sete dias e não tem muita previsão de retorno. O que temos feito é ir às casas da família e de amigos que têm água. A gente sabe que também pode acabar, então, usar a água da casa do outro é bem racionado. Vou à casa de uma pessoa para tomar um banho e na de outra para pegar um pouquinho de água para higienizar um pouco da louça”, conta a estudante Thaís Cortez, de 26 anos”, disse a repórter Mayara Souto. 

A médica veterinária Anelise Caferrati, 27 anos, passou pela mesma situação, ficou sem água no prédio onde mora por três dias, e considerou ir até à praça do bairro para pegar água de uma bica (existem dezenas pela cidade, em vários pontos e bairros) que ainda estava funcionando. Ela e vários vizinhos levaram baldes para abastecer a casa. Segundo o DMAE, até ontem à noite, 85% da capital gaúcha e municípios vizinhos estavam sem abastecimento. 

A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), responsável pelo fornecimento de água para grande parte do Estado, informou que a região metropolitana é uma das mais afetadas pelo desabastecimento, com 408 mil imóveis sem acesso à água da sua rede. Na região Nordeste do estado, são 75 mil imóveis, seguida pela região central (47 mil imóveis) e pelo Vale dos Sinos (12 mil).

Outro bom exemplo de auxílio está sendo dado pela Ambev, fornecedora de cervejas e refrigerantes. Ela abandonou a produção destes itens para se dedicar totalmente ao fornecimento de água. Com isso, 850 mil latas de água são fabricadas diariamente na unidade de Viamão. A empresa uniu forças com a Ball, líder global na produção de latas de alumínio, que disponibilizou latas de 473 ml para o envase da água potável.

Dentro deste quadro de horror, também está prevalecendo a solidariedade em altas doses, como a oferta de anônimos de água para sanitários, para banhos, para beber. Mais solidariedade do que bandidagem. Ainda bem.

* Eugênio Bortolon é jornalista.

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Da Redação