Marina Silva participa de debate sobre emergências climáticas em Porto Alegre: ‘a natureza é o laboratório mais antigo que existe’
Brasil de Fato
Porto Alegre recebeu, na manhã do sábado (3), a ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, para um diálogo sobre o Plano Clima e decisões que impactam diretamente no futuro da cidade.
Organizado pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), o evento “Porto Alegre e o Plano Clima – Uma Cidade Sustentável e Resiliente”, reuniu na sede da ADufrgs Sindical lideranças da área do meio ambiente, representantes de entidades e cooperativas, entre outros grupos que pensam e contribuem para uma Porto Alegre sustentável.
O Plano Clima é uma iniciativa do governo brasileiro, conduzido pelo Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), que envolve a participação de 22 ministérios, a Rede Clima e o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima.
A deputada e candidata à prefeita de Porto Alegre Maria do Rosário (PT-RS), acompanhada de Tamyres Filgueira, candidata à vice-prefeita, falou sobre a opção da atual gestão pelo abandono das políticas públicas direcionadas ao meio ambiente na capital.
“Toda decisão política sobre o meio ambiente impacta o momento seguinte, mais cedo ou mais tarde, mas nós sabemos que juntos podemos mudar os rumos da pauta socioambiental de Porto Alegre”, disse.
A ministra Marina Silva, por sua vez, ressaltou que a política ambiental não pode ser setorial. “Precisamos da disposição de trabalhar por todas as pessoas. Essa base comum é o nosso diferencial. Se não pararmos de obstruir as artérias do planeta, nós vamos comprometer a vida”, disse.
Ela reafirmou que o processo de reconstrução também deve se dar a partir do conhecimento local dos agricultores familiares, das comunidades, e que o desafio imposto hoje é o desenvolvimento de uma cidade que melhore a cidadania e a qualidade de vida das pessoas. “A natureza é o laboratório mais antigo que existe”, ressaltou.
Marina disse ainda que “o que era extremo está se tornando normal, e o que vai ser extremo, nós nem sabemos ainda o que é”, relembrando que não podemos admitir que o povo viva com o que sobrou. “Este é o espaço do rio, e é preciso oferecer habitações dignas. Que a gente possa ter edificações orgânicas com a natureza, e que isso não seja visto como exagero.”
Durante o diálogo, que contou com a intervenção de entidades presentes, Maria do Rosário também reafirmou o seu compromisso, dizendo que Porto Alegre deve voltar a ser liderança a partir do exemplo. “É preciso ter compromisso, e o meu é também com a redução do CO2. Vamos trabalhar com a ciência e a tecnologia, com a educação ambiental, vamos cuidar dos parques públicos, revisar os contratos com os centros de triagem, vamos garantir o básico”.
“Hoje, cerca de 2 mil toneladas por dia de resíduos são produzidas em Porto Alegre, e apenas 1,52% do montante é reciclado. É uma realidade triste para a cidade que já foi pioneira e exemplo na coleta seletiva. O nosso plano de cidade tem que trabalhar com o Guaíba, mas também com os arroios. Arroio não é valão, é vida, é água”, disse.
Entidades entregam Carta das Agroflorestas
Também foi entregue à ministra a Carta das Agroflorestas por coletivos, movimentos e instituições que defendem que os planos de reconstrução do Rio Grande do Sul devem incluir a restauração da vegetação nativa e adotar soluções baseadas na natureza, entre elas os sistemas agroflorestais. A carta reúne mais de 5,1 mil assinaturas de pessoas físicas e cerca de 450 assinaturas de organizações, instituições e movimentos.
Uma das propostas no documento é a construção de um canal de diálogo entre governo e comunidades atingidas, baseado na análise da paisagem pelo seu viés polissêmico e integrativo. Os coletivos também defendem um programa emergencial de adesão voluntária para o assentamento de populações rurais e urbanas voltado a famílias atingidas pelas enchentes.
“As estimativas iniciais indicam que serão necessários pelo menos R$ 19 bilhões para a reconstrução do estado. E essa conta não inclui as toneladas de solo perdido, essencial à economia agrícola e segurança alimentar e nutricional”, destaca o documento.
Outra proposta apresentada na carta é um programa voltado aos territórios tradicionais, considerando a garantia de moradia segura, segurança alimentar, hídrica e energética, bem como a construção da segurança ambiental dos territórios frente às mudanças climáticas. Os signatários também consideram urgente a construção e aplicação de um Plano Estratégico para o Enfrentamento das Emergências Climáticas com foco em ações de restauração ecológica.
* Com informações do Sul21