Três filmes para entender a vida e a obra de Fidel Castro em seu aniversário
Brasil de Fato
Fidel Castro foi um dos maiores marcos na política mundial do século 20. Nascido em 13 de agosto de 1926 em Biran, na província de mesmo nome, no leste de Cuba, desde muito jovem sua vida seria uma longa estrada de feitos épicos que mudariam o curso do país, da região e do mundo.
Há exatos 98 anos após seu nascimento, sua memória permanece na história de Cuba e das diferentes lutas sociais em todo o mundo. Por ocasião de seu aniversário, recomendamos três filmes que explicam parte de seu significado, sua pessoa e o mundo com o qual ele sonhou.
Da América eu sou filho… e devo isso a ela [De América soy hijo y a ella me debo] (Santiago Alvarez, 1972)
A história do cinema cubano está, sem dúvida, ligada à figura de Santiago Alvarez. Com mais de 40 anos de idade e sem nenhuma experiência prévia ou estudos cinematográficos, ele se tornou um ícone do cinema e da televisão cubanos após a revolução. Foi um dos fundadores e diretores do Noticiero ICAIC Latinoamericano, de onde repercutiu os eventos históricos mais importantes da Revolução Cubana. Durante a década de 1970, realizou uma série de documentários sobre Fidel Castro, retratando vários de seus discursos e intervenções públicas.
Dois desses documentários retratam extensas viagens de Fidel Castro, nas quais ele se reuniu com as principais figuras revolucionárias da época. Da América eu sou filho… e devo isso a ela [De América soy hijo y a ella me debo] (1972) documenta a viagem de Fidel ao Chile em novembro de 1971. Durante essa viagem, Fidel se reuniu com o presidente Salvador Allende, que tinha vencido as eleições, declarando que o objetivo do governo da União Popular era “construir o caminho chileno ao socialismo”. As discussões entre Fidel e Allende sobre o socialismo ficariam mais tarde conhecidas como o “Diálogo das Américas”.
O filme retrata longas assembléias em que o líder cubano troca opiniões políticas com militantes da União Popular. Imagens de arquivo retratam uma época em que milhões de jovens de todo o continente estavam discutindo “as formas de construir o socialismo”.
Do mesmo período é E o céu foi tomado de assalto (Y el cielo fue tomado por asalto, 1974), filme que retrata uma turnê de Fidel Castro pela Argélia, África e Europa socialista. Um filme que retrata a relação pouco conhecida de Cuba com o mundo árabe e sua colaboração com os esforços de qualquer povo do mundo em sua luta contra o imperialismo.
Comandante (Oliver Stone, 2003)
A fascinação do cineasta Oliver Stone, três vezes ganhador do Oscar, pela figura de Fidel Castro é bem conhecida. Após mais de três décadas de uma carreira impecável como diretor e roteirista, em 2003 Stone decidiu embarcar em um projeto ousado e realizou uma entrevista exaustiva com Fidel Castro. Uma decisão que lhe custaria grandes críticas nos Estados Unidos.
A partir de mais de 30 horas de conversas, o diretor consegue criar em seu filme Comandante um retrato íntimo e revelador de Castro, em que reflete, aos 77 anos de idade, sobre as conquistas e os desafios da revolução, seu lugar na história, bem como a complexa relação com os Estados Unidos. No entanto, apesar da aclamação de Oliver Stone, o filme sofre com a censura nos EUA, o que levou Stone a denunciar a influência da “máfia cubana” em Miami.
A HBO se recusou a exibir o filme e exigiu que o diretor entrevistasse Fidel novamente, abordando questões “polêmicas” como direitos humanos e oposição política. Embora Stone considerasse que seu retrato de Fidel estivesse completo, ele aceitou as exigências, retornando à ilha para filmar um segundo filme, no qual também realizou extensas entrevistas com Fidel. Procurando Fidel (Looking for Castro) foi lançado em 2004.
Apesar do fato de que todos os “eixos polêmicos” sobre os quais Stone havia sido solicitado foram abordados, o filme também enfrentou dificuldades para ser exibido. “Se os americanos tivessem a chance de vê-lo em Comandante, onde ele não está se defendendo como em Procurando Fidel, eles veriam um lado muito mais humano. A única maneira de evitar a violência é conhecer e entender seu adversário”, disse Stone logo após o lançamento do segundo filme.
Em 2009, o diretor entrevistou Fidel novamente – a primeira entrevista em profundidade que Fidel concedeu depois de deixar a presidência. O líder cubano mais uma vez deu sua perspectiva sobre os vários eventos políticos da época. O filme foi lançado em 2012 com o nome Castro in Winter (2012).
Tarará, a história de Chernobyl em Cuba (Ernesto Fontán, 2021)
Na madrugada de 26 de abril de 1986, um desastre de proporções gigantescas atingiu a usina nuclear Vladimir Ilyich Lenin, localizada a apenas 18 quilômetros da cidade de Chernobyl. O acidente provocou uma nuvem radioativa que se espalhou por 162.000 km², no que se tornou um dos piores desastres nucleares e ambientais da história.
Após o acidente apocalíptico, Cuba se comprometeu a prestar assistência às crianças que sofreram os efeitos da radiação. Foi assim que, durante a década de 1990, em um dos períodos econômicos e sociais mais difíceis do país, Cuba recebeu milhares de crianças para serem tratadas devido aos efeitos da radiação. Naquela época, Fidel recebeu pessoalmente o primeiro contingente de crianças que chegou à ilha.
Em um relato comovente, Ernesto Fontán revive a emocionante história de um programa inovador de assistência médica por meio dos testemunhos de seus protagonistas, revelando uma odisseia inspiradora de solidariedade, humanismo e esperança.