China e Vietnã reforçam laços com primeira viagem de presidente vietnamita e assinatura de 14 acordos
Brasil de Fato
A República Popular da China é o primeiro país que Tô Lâm visitou após ter sido eleito como secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista do Vietnã no começo de agosto. Lam, que fez uma visita de Estado à China de 18 a 20 de agosto, tomou posse como presidente do Vietnã em maio deste ano.
Entre os acordos firmados, está o avanço no apoio chinês à reconstrução e modernização da linha ferroviária Lao Cai-Hanoi-Haiphong, uma ferrovia de 392 quilômetros, que deverá ter 73 pontes conectando Lao Cai (na fronteira com a província chinesa de Yunnan) a Haiphong, a terceira maior cidade do Vietnã com o porto mais importante da região norte do país.
Ao todo foram 14 documentos com acordos entre os bancos centrais e mídias dos dois países, além de áreas como saúde e protocolos fitossanitários. Um dos memorandos foi para aprofundar a cooperação entre a Academia Nacional de Política de Ho Chi Minh e a Escola Central do Partido do Partido Comunista da China, que se relacionam há mais de 30 anos e realizam trocas de delegações e grupos de investigação.
Além de se reunir com Xi Jinping, Lâm teve conversas com Zhao Leji, presidente do Comitê Permanente do Congresso Nacional Popular da China (o mais alto cargo legislativo), o premiê Li Qiang do Conselho de Estado e Wang Huning, presidente do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.
Na visita, o mandatário afirmou que seu país sempre considera as relações com a China uma prioridade máxima de sua política externa.
No ano passado os Estados Unidos procuraram estreitar laços com o Vietnã, em um movimento que vem acontecendo com outros países vizinhos da China. O presidente dos Estados Unidos Joe Biden visitou o Vietnã em setembro de 2023, e os países criaram uma Parceria Estratégica Abrangente. O primeiro acordo desse nível que o país do sudeste asiático assinou foi com a China em 2008, seguido por Rússia, Índia, Japão, Coreia do Sul e Austrália .
Em Hanoi, capital vietnamita, Biden disse que não queria conter a China. “Só quero ter certeza de que temos um relacionamento com a China que seja honesto, que todos saibam do que se trata”. Em seguida disse que a “China está começando a mudar algumas das regras do jogo, em termos de comércio e outras questões”.
Poucos meses depois, em dezembro do ano passado, Xi Jinping, e os dois países asiáticos anunciaram um aprofundamento da parceria sob o nome de “Comunidade China-Vietnã com um futuro compartilhado que carrega significado estratégico”.
Charles Liu, membro sênior do Instituto Taihe, considerou a visita positiva, e falou sobre as diferenças entre as diplomacias dos Estados Unidos e da China.
“Toda vez que os EUA visitam um país eles dizem: ‘você tem que estar no nosso campo, você tem que se juntar a nós para conter a China, reprimir a China’, mas toda vez que há visitas de líderes chineses ou visitantes de outros líderes do Sul Global à China, o foco é em como colaboramos para resolver os problemas do mundo, como melhoramos o comércio, como facilitamos as finanças e os investimentos entre nossos dois países, como aceleramos o desenvolvimento das economias de nossos dois países para melhorar a vida de nosso povo”, disse Liu ao Wave Media.
“Genes vermelhos”
Essa semana na reunião com Xi, Tô Lâm, afirmou “sempre vimos a China como uma escolha estratégica e a prioridade máxima da política externa do Vietnã (…) Como camaradas e irmãos, estamos sempre interessados e atentos a cada passo do desenvolvimento da China”.
Tô Lâm iniciou sua viagem na capital da província de Guangdong, Guangzhou, por onde passou o líder revolucionário vietnamita Ho Chi Minh há um século atrás.
Em novembro de 1924, Ho Chi Minh fundou ali a Associação dos Camaradas da Juventude Revolucionária Vietnamita, a primeira organização revolucionária do Vietnã baseada na teoria marxista-leninista.
O presidente chinês Xi Jinping lembrou o acontecimento. “Cem anos atrás, o presidente Ho Chi Minh realizou atividades revolucionárias em Guangzhou, e suas pegadas revolucionárias se espalharam por muitas partes da China”.
“Aqueles anos ardentes e emocionantes se tornaram uma memória vermelha indelével na história das trocas entre os dois partidos da China e do Vietnã. Ideais comuns se tornaram o ‘gene vermelho’ transmitido de geração em geração nas veias de ambos os partidos, forjando a amizade tradicional tão profunda quanto camaradas e irmãos”, concluiu o presidente chinês.
Cooperação econômica e militar
Em 2023, empresas chinesas investiram o equivalente a mais de R$ 24,5 bilhões no Vietnã. Isso significou um aumento anual de quase 80%. Já o comércio no ano passado foi de US$ 171,85 bilhões (R$ 957,5 bi), dos quais o Vietnã exportou US$ 61,21 bilhões (R$ 340,8 bi), um aumento de 5,6% em relação ao ano anterior, segundo o Gabinete Geral de Estatísticas do Vietnã.
Nos primeiros sete meses deste ano, o comércio entre os dois países se expandiu mais de 24% na comparação com o mesmo período do ano passado, atingindo 1,03 trilhão de yuans (cerca R$ 806,6 bilhões).
O Vietnã continua sendo o maior parceiro comercial da China entre a Associação das Nações do Sudeste Asiático desde 2016, com o comércio bilateral respondendo por 25% do comércio total da China com este bloco nos primeiros 11 meses de 2023.
Além de reuniões do presidente vietnamita com vários dos principais líderes chineses, o ministro da Defesa Nacional da China, Dong Jun, recebeu seu homólogo do Vietnã Phan Van Giang, onde falou-se da necessidade de aumentar a qualidade e eficiência da cooperação militar entre os dois países. China e Vietnã realizam exercícios conjuntos com frequência.
*Com informações de VTV, Lao Dong, Wave Media e CGTN.