Michelle Bachelet aponta principais desafios da América Latina: desigualdade, segurança e imigração
Brasil de Fato
Para a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, a América Latina enfrenta atualmente três desafios principais: a desigualdade, a segurança e a imigração. Ela discursou a respeito do assunto durante aula magna realizada na manhã desta quarta-feira (28), na Universidade de Brasília.
“A desigualdade tem sido um desafio permanente na América Latina”, destacou Bachelet. Segundo a ex-presidente, a alta informalidade no mercado de trabalho é um dos fatores que perpetuam a desigualdade.
Em 2022, 54,2 milhões de lares na América e Latina e Caribe (39% do total) dependiam exclusivamente do emprego informal. Além disso, a maioria das crianças (menores de 15 anos) e pessoas com 65 anos ou mais vivem em lares completamente informais ou mistos (61,2%). É o que apontou um relatório produzido pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Os problemas na educação também foram indicados por Bachelet como empecilhos no combate à desigualdade. “Um sistema educativo de alta cobertura e qualidade poderia funcionar como um mecanismo de mobilidade social intergeracional”, afirmou.
A ex-presidente do Chile destacou que a questão de gênero “requer atenção” quando se fala do mercado de trabalho. Segundo ela, a taxa de diferença de trabalho entre homens e mulheres chega a 22,6%.
“Além de potencializar a educação entre as mulheres, é essencial apoiar a trajetória de trabalho, porque sobre as mulheres recaem o peso das tarefas de cuidado e domésticas historicamente, o que muitas vezes as priva de sair para trabalhar”, defendeu.
O segundo principal desafio regional apontado por Bachelet foi a segurança pública, que ela definiu como uma das principais preocupações da população latino-americana, “devido ao crime organizado, que se instalou por toda a região”. “Devemos lembrar que a segurança é um direito humano, que nossos governos devem ser capazes de garantir às pessoas”, declarou.
A imigração foi o terceiro desafio latino-americano destacado pela ex-presidente. Segundo Michelle Bachelet, os deslocamentos populacionais podem acontecer em razão de “motivos ambientais”, mas também por políticas econômicas, “como tem acontecido na nossa região”.
“A imigração descontrolada exerce uma pressão sobre os sistemas sociais locais, como a educação e saúde. Embora a imigração seja um direito humano, não pode ser as custas da população local, porque isso vai gerar mais frustração e xenofobia”, ponderou.
Como exemplo da questão, Bachelet citou números da emigração na Venezuela: “se calcula que mais de 7,7 milhões de pessoas abandonaram a Venezuela desde 2018, das quais 84% estão agora em países da América Latina e Caribe”. Na avaliação de Bachelet, a atual crise na Venezuela está se transformando em “um fator de desestabilização regional”.
Michelle Bachelet foi a primeira mulher eleita presidente do Chile, cargo que exerceu por dois mandatos: de 2006 a 2011 e de 2014 a 2018. Ela também foi a primeira encarregada da ONU Mulheres, agência das Nações Unidas para a igualdade de gênero. Na ONU, também ocupou a liderança do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, de 2018 a 2022.