Gustavo Petro diz que Colômbia vai insistir em mediação sobre Venezuela e que México deixou diálogo
Brasil de Fato
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse na terça-feira (1) que vai seguir tentando “uma saída pacífica” para a Venezuela. O mandatário participou da cerimônia de posse da nova presidenta mexicana, Claudia Sheinbaum, e afirmou que o México se distanciou da mediação.
De acordo com o colombiano, a ideia era convencer a presidenta eleita a ter uma postura “mais ativa” em relação à Venezuela, mas a sinalização foi de retirada das discussões. “O México manterá a sua posição de não intervenção em qualquer assunto, vejo mais na posição de se retirar da discussão”, afirmou Petro. Durante o seu discurso de posse, Sheinbaum já havia dito que manteria uma política exterior de respeito à autodeterminação, não intervenção e solução pacífica de controvérsias.
O chefe do Executivo colombiano também conversou com o ex-presidente Andrés Manuel López Obrador. Segundo Petro, o ex-mandatário se mostrou distante da discussão, que agora terá somente Brasil e Colômbia na mediação.
“Obrador se distanciou desta operação conjunta, mas estamos tentando unir forças para tentar dar uma saída para a Venezuela, política e pacífica”, disse ele.
Brasil e Colômbia afinados
Petro e Lula tinham uma reunião agendada para essa terça-feira (1), mas o encontro não foi confirmado pelas duas chancelarias. Ambos já haviam tentado se encontrar durante a Assembleia Geral da ONU na última semana, mas por falta de agenda o encontro foi cancelado nos Estados Unidos.
Eles, no entanto, falaram antes da posse de Sheinbaum. Segundo Petro, Bogotá seguirá com a ideia de que “se não houver apresentação de ata não há reconhecimento do resultado”. Já Lula disse ter interesse que a Venezuela “volte à normalidade democrática”, e reafirmou a boa relação entre o Brasil e o país vizinho.
“É um país que tem 1.600 km de fronteira com o Brasil. É um país que eu quero que esteja em paz, mas é preciso criar condições para a gente conversar. Estamos agora com relação diplomática muito forte, O chanceler Mauro Vieira tem conversado com o chanceler da Venezuela, o da Colômbia. É preciso a gente encontrar um jeito da gente retomar uma convivência democrática” disse.
O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, reafirmou as declarações de Petro. Em resposta, o chanceler venezuelano, Yván Gil, disse que não vai mais tolerar tentativas de interferência no processo interno venezuelano. “Chega de ingerências rudes e de procura de manchetes que só a direita paramilitar e fascista gosta, não vamos tolerar”, afirmou.
Brasil, Colômbia e México iniciaram uma articulação para mediar a situação da Venezuela e manter um canal de interlocução com o presidente venezuelano Nicolás Maduro. Os três governos publicaram duas notas conjuntas pedindo a publicação das atas eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) e não pela Justiça do país.
Depois, Andrés Manuel López Obrador disse que não falaria com Lula e Petro até que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) emitisse um posicionamento sobre as eleições do país. A Justiça venezuelana validou a reeleição de Maduro e confirmou os resultados do pleito.
Sem Obrador, Lula ligou para Petro para dar continuidade às negociações em torno da Venezuela. A conversa entre Lula e Petro surtiu efeito e os dois presidentes afinaram o discurso. O próprio assessor especial para relações internacionais do governo brasileiro, Celso Amorim, foi à Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal e afirmou que o governo brasileiro não reconhecerá nenhum governo sem a apresentação das atas eleitorais.
Os dois países chegaram a sugerir a realização de novas eleições, mas a proposta foi rejeitada tanto pelo governo quanto pela oposição venezuelana.
Atas na OEA?
Nesta quarta-feira (2), Jennie Lincoln, funcionária do Centro Carter, disse ter apresentado as “cópias originais das atas” à Organização dos Estados Americanos (OEA). As supostas cópias das atas foram recolhidas pela oposição durante as eleições. Segundo o grupo de extrema direita liderado por María Corina Machado, foram recolhidas 83% das atas de todos o país e a soma desse resultado daria a vitória ao candidato da Plataforma Unitária, Edmundo González Urrutia.
“Essas atas são elementos-chave, acabei de receber os originais. São atas originais da Venezuela , que possuem um código QR”, afirmou Lincoln. Ela, no entanto, ainda não apresentou as atas de maneira pública.
O processo eleitoral venezuelano passou por uma disputa judicial. A oposição contestou a eleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato. Isso somado à denúncia de um ataque hacker pelo CNE, levaram Maduro a pedir uma investigação pela Justiça. O órgão eleitoral atrasou a divulgação dos resultados detalhados alegando que houve um ataque hacker contra o sistema eleitoral. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) investigou os supostos ataques, recolheu todo o material eleitoral do órgão e ouviu 9 dos 10 candidatos que disputaram o pleito.
O opositor Edmundo González Urrutia não só não compareceu como também não entregou as atas que seu grupo disse ter recolhido.
Os opositores de Maduro divulgaram em dois sites uma suposta lista das atas eleitorais. Em um deles, o usuário digitava o seu documento de identidade e aparecia supostamente a ata eleitoral da mesa que aquele usuário votou. No outro, havia um compilado com os dados de todas as atas que a oposição afirmava ter.
Mas eles não publicaram a relação completa das atas na Justiça venezuelana e nem entraram com processo pedindo a revisão ou a impugnação dos resultados eleitorais.
Depois do processo movido por Maduro, a Justiça convocou todos os candidatos para prestarem esclarecimento sobre as eleições do país. Edmundo González Urrutia mais uma vez não se apresentou ao TSJ e enviou como representante o governador de Zulia, Manuel Rosales. Em discurso depois da seção, Rosales disse que a oposição “não precisa entregar nada” e exigiu a entrega das atas eleitorais pelo CNE.
Nesse meio tempo, o candidato derrotado nas eleições publicou nota nas redes sociais pedindo que militares do país “desobedeçam ordens” e “respeitem o resultado das eleições”. No texto, Edmundo González autoproclama presidente da Venezuela. A Justiça validou o resultado do pleito.