Israel faz discurso de defesa, mas comete crimes de guerra representando interesses do Ocidente, diz especialista
Brasil de Fato
É cada vez maior a tensão com a escalada da violência no Oriente Médio após a troca de ataques entre Israel e o Hezbollah no Líbano. Nesta terça-feira (1), a preocupação aumentou depois do Irã disparar cerca de 200 mísseis balísticos em direção ao território israelense.
Segundo o Irã, a ação foi em retaliação pela morte do chefe do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, na semana passada, durante bombardeios de Israel no sul do Líbano. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, classificou o episódio como um grande erro e afirmou que os iranianos pagariam pelo ataque.
Nesse contexto, mais países podem vir a se envolver no crescente conflito no Oriente, que vê um massacre contra o povo palestino acontecer há quase um ano na Faixa de Gaza. É o que explica o professor de relações internacionais Bruno Huberman, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
“O que a gente pode inferir a respeito do que pode acontecer – que é sempre um desafio difícil – é que Israel terá sempre Estados Unidos ao seu lado. De alguma forma, Israel é uma extensão dos Estados Unidos. E a relação entre Rússia e Irã é imprevisível, já que não existe essa relação dessa forma. Obviamente existe uma proximidade, mas nem sei se a gente pode chamar de aliança verdadeiramente”, pondera.
Ele conta que, apesar da relação próxima entre Irã e Rússia, que poderia ajudar no enfrentamento contra Israel, a Rússia já passa por outra guerra que traz muitos desgastes.
“Existe uma relação próxima que tem se aproximado, particularmente, desde a guerra da Síria, guerra da Ucrânia, a partir da maior presença russa no Oriente Médio. A Rússia apoia aliados iranianos, como demonstrou o apoio em relação a essa agressão israelense ao Hezbollah, ao Líbano. Mas não acredito que a Rússia irá apoiar de uma forma incondicional. Pode apoiar, mas não da forma como os Estados Unidos apoiam Israel, porque a Rússia já está envolvida diretamente num conflito direto com a Ucrânia e que tem gerado um desgaste econômico, político, militar muito grande”, argumenta Huberman.
Nesta quarta-feira (2), o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) esteve reunido para discutir os acontecimentos no Oriente Médio. Israel e Irã trocaram acusações e o embaixador de Israel, Danny Danon, disse que o país está “sob ataque”. Para o professor da PUC-SP, o discurso de defesa adotado por Israel é apenas uma narrativa visando legitimar as várias ações cometidas, que violam o direito internacional, seguindo interesses de países do Ocidente.
“Israel foi criado em 1948 como um representante dos interesses ocidentais no Oriente Médio. Em primeiro lugar de britânicos, franceses e americanos. Nos seus primeiros anos de existência, foi um pouco mais contraditório, mas, de 1956 para cá, é uma aliança cada vez mais profunda com países ocidentais e enfrentando os inimigos do Ocidente na região”, contextualiza.
“As forças políticas do Oriente Médio que se colocam como antagônicas à dominação americana estável na região, automaticamente, se tornam inimigas de Israel e dos Estados Unidos. E se surgem novas forças, vão ser inimigas de Israel e dos Estados Unidos. Porque Israel é um representante dessa dominação ocidental, agora sob a liderança dos Estados Unidos na região.”
“Então, esse discurso de defesa é uma coisa de discurso, porque serve para Israel, de alguma forma, legitimar agressões que infringem o direito internacional. São ações terroristas, ações que violam o direito internacional, ações genocidas. O discurso da defesa é somente um discurso a justificar crimes de guerra que eles cometem”, afirma Huberman.
A entrevista completa está disponível na edição desta quarta-feira (2) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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