Líder sem-terra e candidato assassinado em MG sofria ameaça, diz MST; pistoleiro também disputava eleição

Brasil de Fato

O homem de 57 anos preso por suspeita de ter assassinado, no último domingo (29), o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e candidato a vereador no Norte de Minas Gerais, Zaqueu Fernandes Balieiro, também concorria a eleição. Pelo mesmo Partido Renovação Democrática (PRD), eles disputavam uma vaga na vereança da cidade de Gameleiras (MG). Dos 25 candidatos a vereador no município, dez eram do PRD e outros dez são do Progressistas (PP).   

De acordo com integrantes do MST ouvidos sob anonimato pelo Brasil de Fato, no entanto, ambos tinham desentendimentos há anos por conta da atuação de Zaqueu na luta por terra. Ainda segundo integrantes do movimento, o homem preso trabalhava como pistoleiro profissional, contratado por fazendeiros da região que têm interesse de grilar as áreas ocupadas pelo MST.  

Zaqueu da Vila, como era conhecido o sem-terra de 45 anos, foi encontrado morto e alvejado na traseira de sua caminhonete na manhã da última segunda-feira (30), em uma estrada vicinal na zona rural do município. Ao seu lado, havia seis cápsulas de bala. 

O ativista atuava na organização dos acampamentos de Tamburi, Terra Preta e Terra Verde. Em nota lamentando a morte de Balieiro, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania o caracterizou como “uma das mais importantes lideranças do movimento da reforma agrária em Minas Gerais”.   

Em carta conjunta, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de MG e o MST exigiram “uma investigação rigorosa” e ressaltaram que Zaqueu “vivia há anos sob ameaças de latifundiários e poderosos da região”. 

Em 15 de abril de 2022, uma nota da mesma CPT denunciou, citando o nome de fazendeiros e divulgando um vídeo, que 100 famílias camponesas do acampamento Terra Verde estavam sofrendo ameaças por homens armados.

“Os grileiros acima não possuem documento da terra, nem mesmo processo judicial de reintegração de posse. O latifúndio de 5 mil hectares foi ocupado pacificamente, em 18 de novembro de 2021, à luz do dia, quando a área se encontrava em completo abandono, ociosa e sem cumprir sua função social, prevista na Constituição Federal de 1988”, diz a nota. 

“Desde o primeiro dia de ocupação, o fazendeiro vizinho do acampamento Terra Verde colocou três pistoleiros em cima – dentre eles, o assassino de Zaqueu. Eles nos filmavam enquanto a gente fazia assembleia, ficavam rodeando. Sempre proferiram ameaças a Zaqueu”, conta Léo*, integrante do MST.  

Ao Brasil de Fato, a Polícia Civil de MG informou que “o suspeito foi autuado em flagrante delito por homicídio e posse de munição de uso restrito” e que a motivação está sendo apurada.

O homem foi preso perto de sua casa, após ter sido reconhecido em imagens de câmera da cidade de 4.700 habitantes que mostram uma moto perseguindo o carro de Zaqueu. Na sua casa, foram encontradas mais de 60 munições, incluindo do calibre que matou o sem-terra, além de um colete balístico. 

* O nome foi alterado para proteger a identidade da fonte

Da Redação