Em debate no Recife, João Campos é criticado por programa de creches e por ‘esconder’ Lula

Brasil de Fato

Na noite desta quinta-feira (3), a Rede Globo Pernambuco promoveu o último debate do 1º turno entre os candidatos a prefeito do Recife. Foram convidados os quatro mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto: o prefeito e candidato à reeleição João Campos (PSB) e os adversários Gilson Machado (PL), Daniel Coelho (PSD) e Dani Portela (Psol). Alvo preferencial dos adversários, o prefeito rebateu as críticas citando obras entregues e acusando os opositores de “preferirem atacar do que fazer propostas”.

Um tema citado no início do debate foi a morte da criança Tomás, de 10 anos, que recebeu uma descarga elétrica enquanto brincava num equipamento público municipal, a “Academia Recife”, gerida por uma empresa privada. O caso aconteceu no bairro do Engenho do Meio, zona oeste da capital.

Dani Portela (Psol) prestou solidariedade à família da vítima e associou o caso ao modelo de gestão de equipamentos a partir da parceria entre poder público e empresas privadas. Gilson Machado (PL) citou como “tragédia” e disse que, “depois da máfia das creches, virá a máfia das praças”. João Campos (PSB) afirmou que tomou “uma decisão imediata”, de acolhimento à família e da apuração do caso. “Não acho justo com a família que isso seja usado na disputa eleitoral”.

Creches

O tema em que o prefeito sofreu mais cobranças foi o programa “Infância na creche”, de convênio com instituições privadas, no qual cerca de um terço das creches selecionadas pertencem a candidatos a vereador da base do prefeito ou a ex-assessores ligados a vereadores da base governista. “Não sei quem são essas pessoas, não tenho relação pessoal com elas. Mas sei que dupliquei as vagas de creches”, esquivou-se.

Daniel Coelho (PSD) criticou. “Ele colocou uma estelionatária para cuidar do seu filho. Tem creche com denúncia de abuso sexual de crianças”, lembrou o opositor, citando também um candidato a vereador que recebeu R$ 3 milhões para as creches que administra. “O modelo de convênio é regulamentado nacionalmente. Se qualquer pessoa errou no caminho, vai ser punida”, afirmou Campos.

Mobilidade

Noutro embate com Daniel Coelho, João Campos prometeu construir, na próxima gestão, ao menos quatro pontes em locais citados no debate, mas o adversário criticou. “Pontes e viadutos são importantes, mas não resolvem o problema. É uma visão atrasada. Investir no veículo individual não resolve o problema da mobilidade”, disse ele.

Daniel também citou a falta de investimento da Prefeitura do Recife no consórcio de transportes Grande Recife. João se defendeu. “Os serviços de transportes alcançam as 14 cidades da Região Metropolitana, mas só três integram o consórcio. Não é razoável que só o Recife coloque dinheiro, se as outras cidades não aportam. O Recife tem 1,5 milhão de habitantes, não pode pagar para 4 milhões da região metropolitana”.

“Sou progressista, de centro-esquerda”, diz João

No início do debate, a candidata Dani Portela (Psol) cobrou o prefeito um posicionamento, questionando se é de direita ou de esquerda. Campos se descreveu como “um progressista, de centro-esquerda”. Pouco depois, sugeriu que, como prefeito, ele deve ter uma posição de centro. “Tenho a tarefa honrosa de juntar a cidade, sentar na mesa da convergência. Não estou aqui para marcar posição política, mas para governar”, disse ele.


João Campos (PSB) exaltou as obras entregues em sua gestão e disse que opositores “falam mal do Recife” / Reprodução

O prefeito também quis destacar a relação entre o avô de Portela e o bisavô de João, Miguel Arraes. “Militaram juntos”, disse ele, que também elogiou a adversária como “uma mulher de fibra”. Cobrado para “assumir Lula” na campanha, Campos se disse “grato à parceria com o presidente Lula, que resultou em mais de R$600 milhões investidos na cidade”. “Eu tenho posição política, sim, e traduzo isso em melhoria na vida das pessoas”.

‘O time de quem fala e o time de quem faz’

Repetindo estratégias do debate anterior, João Campos em todos os confrontos apresentou obras entregues ou em andamento, se afirmando como um prefeito “que tem trabalhado muito”. “Vocês [eleitores] me conhecem não é de campanha, mas do dia a dia, do trabalho bem feito, das entregas”. Também repetiu as acusações de que os adversários “preferem atacar do que apresentar propostas”. “Estou aqui para apresentar ideias, não para agressões gratuitas”.

Em todas as oportunidades que teve, ele buscou o confronto com Gilson Machado (PL), que está em 2º lugar nas pesquisas, sempre pedindo ao bolsonarista propostas para solucionar problemas da cidade. Ao sofrer acusações do adversário, Campos o classificou  como “mentiroso”, citando as mais de 300 peças publicitárias de TV e rádio, de Gilson, suspensos pela Justiça Eleitoral. “Gilson não tem compromisso com a verdade”.

Dani Portela busca voto lulista e critica arma de fogo

Entre os presentes no debate, a candidata do Psol é a única contrária a equipar a Guarda Municipal com armas de fogo. “Tem três homens brancos ao meu lado. E a gente sabe para quem as armas serão apontadas. Não quero que mulheres negras como eu chorem a morte dos seus filhos. Investir em segurança é investir em prevenção, gerar emprego e renda, dar educação”, disse ela. “Arma serve para matar e eu não quero mais jovens negros e periféricos assassinados no Recife”, defendeu.


Dani Portela (Psol) não recuou em sua posição sobre armamento de fogo para os guardas municipais e fez falas em defesa do governo Lula / Reprodução

Dani também citou o racismo institucional das forças de segurança como um fator de risco para a maior parte da população. “Eles confundem furadeira e guarda-chuva, achando que é arma, mas nunca confundem a cor da pele”. “Temos que entender o papel do município na segurança. (…) A Guarda deve cumprir sua função de guarda patrimonial. E antes de armar, temos que valorizar a guarda”, completou a candidata. O embate foi com Daniel Coelho, defensor do armamento da guarda. “O prefeito de Belém (do Pará) é do seu partido e armou a guarda”, provocou.

Lula x Bolsonaro

Em dois momentos, Dani Portela e Gilson Machado (PL) discutiram sobre o governo Bolsonaro, do qual Machado foi ministro. A deputada do Psol se referiu várias vezes como “o pior governo da história do Brasil”, para em seguida elogiar medidas do governo Lula (PT). O candidato bolsonarista não se dedicou a criticar Lula na terra natal do presidente da República, mas fez a defesa do governo Bolsonaro mesmo quando faltaram argumentos. “Nunca na história do Brasil um presidente fez tanto pelas mulheres. Deu títulos de terras para mulheres, fez o Auxílio Brasil, o Pix… tudo isso tem beneficiado as mulheres”.

Gilson coloca insegurança na conta da falta de armamento


Gilson Machado (PL) teve seu melhor momento no debate quando cobrou medidas para a segurança pública / Reprodução

O candidato do PL criticou o fato de João Campos (PSB) hoje prometer armamento de fogo para a Guarda Municipal, após quatro anos evitando o tema. “Por que você não fez antes? Você falhou em não armar a Guarda. Essa insegurança afasta o turista e o Recife hoje é a penúltima entre as capitais do Nordeste no quesito turismo. Como você quer gerar emprego assim?”, criticou Machado. “A cidade está entregue, um caos – será que só você não reconhece?”, questionou.

Ele também voltou ao tema das creches, que levaram a uma série de punições aos seus guias eleitorais. “Você enche a boca para dizer que Justiça Eleitoral fez isso comigo, me calou. Mas a Globo não me calou. E eu repito: ‘máfia das creches’. Eu ando com a verdade, mesmo que eu sofra dano”, disse o candidato.

Apoiado pelo MBL, Daniel Coelho defende concursos públicos

O candidato do PSD criticou o número de cargos comissionados na prefeitura e defendeu a realização de concursos públicos. “Tivemos aumento de R$1 milhão em pagamento de cargos comissionados. É muito gasto com gente que nem sabemos o que está fazendo. Precisamos de concurso público no Recife. Menos servidores que serve à política e mais servidores que sirvam à cidade”, disse ele.

A fala foi feita numa discussão com Dani Portela (Psol), em que a candidata lembrou que Daniel Coelho, como deputado federal, votou a favor de medidas dos governos Temer e Bolsonaro que resultaram na fragilização dos servidores públicos.


Ex-deputado Daniel Coelho (PSD) se destacou no debate de mobilidade e ao confrontar prefeito sobre as creches / Reprodução

Técio Teles fica fora

O candidato do Partido Novo não foi convidado para o debate da Globo. O critério utilizado pela emissora foi a relevância dos candidatos a partir das pesquisas de intenção de voto. Na tarde desta quinta (3), Teles conseguiu junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) o direito de participar do debate. O órgão considerou que, como o Novo tem cinco parlamentares no Congresso Nacional, é obrigatório que o partido seja convidado para os debates, caso tenha candidato na disputa.

Técio foi à emissora, foi preparado com microfones, mas restando poucos minutos para o início do debate, uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou que o convite ao candidato é facultativo à emissora, desobrigando-a a integrá-lo. Ele foi deixado de fora e criticou o TSE. “É uma democracia relativa, parcial”.

Último debate

Este ano, o precário número de debates eleitorais chamou atenção. Além deste da Globo, houve apenas um na TV Jornal, na última terça-feira (1º), já na semana da votação. Antes deste, apenas um promovido em setembro pela Associação dos docentes da UFPE (Adufepe), que não contou com a presença do prefeito João Campos (PSB). Ambos podem ser assistidos abaixo.

Da Redação