Falta de proteção adequada e negligência de empresas contribuem para adoecimento de trabalhadores na indústria das pedras
Brasil de Fato
Foi lançado nesta semana, pela Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM) para América Latina e Caribe, o documentário Abaixo da Superfície: Morte silenciosa na indústria de pedras. O filme aborda uma doença pulmonar causada pelo trabalho na indústria de pedras no Brasil, chamada de silicose.
O documentário, disponível no YouTube, traz relatos de ex-operadores, médicos e sindicalistas a respeito da enfermidade e o impacto dela em suas vidas. A doença é causada pela inalação de poeira de sílica, presente em grande quantidade nas pedreiras.
“Nós lançamos este vídeo alertador sobre os riscos da silicose na atividade de marmoraria, de mineração – mas não só nela, na construção civil também é muito comum – no marco do 7 de outubro, Dia Mundial do Trabalho Decente. Nós fizemos o vídeo para falar: ‘Olha, o trabalho decente, que é aquele com registro formal, com direitos, com segurança e saúde no trabalho, infelizmente, não é uma realidade para muita gente, como o pessoal da informalidade, ou terceirizados em condições precárias'”, diz Nilton Freitas, representante regional da Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM) para América Latina e Caribe.
Ele conversou sobre o filme e sobre os problemas refletidos durante o jornal Central do Brasil. “O vídeo aborda, fundamentalmente, o trabalho em marmorarias no estado do Espírito Santo, que é uma realidade também em outros estados brasileiros, e que se reproduz depois na cadeia de produção do mármore ou de outras pedras ornamentais, pedras bonitas que a gente tem às vezes em bancos, lojas, apartamentos, nas nossas casas… Tem toda uma cadeia anterior de produção e o risco da silicose é presente.”
Freitas destaca que a silicose é uma das doenças ocupacionais mais antigas que conhecemos, com sérios danos à saúde dos trabalhadores expostos a ela.
“Petrifica o pulmão do trabalhador, da pessoa durante a sua vida no trabalho, às vezes por anos, 10, 20 anos, sem que a pessoa se dê conta de que está sofrendo uma enfermidade muito grave. A petrificação do pulmão [provoca] dificuldade de respirar, que pode, depois, infelizmente, evoluir para um câncer sem cura”, alerta.
Prevenção e cuidados contra a doença
Com a inflamação dos pulmões, a silicose ainda aumenta o risco de outras enfermidades graves como tuberculose e doenças autoimunes. Sendo um problema antigo, o representante da federação sindical defende o fornecimento de equipamentos de proteção adequados, muitas vezes em falta para os trabalhadores.
“Tem a falta de fornecimento de máscaras de proteção, por exemplo, e o cuidado com essa máscara. Não adianta fornecer só uma vez na vida e achar que é boa por todo o tempo. Ela tem que ter uma manutenção, tem o cuidado, tem limpeza, trocar filtros”, observa.
O representante regional da ICM ainda argumenta que as empresas podem colaborar para diminuir a incidência de silicose caso sigam procedimentos como o corte das pedras com certa umidade.
“Falta orientação para as pessoas, mas falta, principalmente – acho que isso é o mais importante -, o corte a úmido. O corte deve sempre ser feito a úmido. O corte de mármore, de outras pedras, pedras ornamentais, como a gente conhece. Ou seja, acompanhado de umidade para abafar a poeira, não esperar gerar a poeira, porque a poeira coloca em risco não apenas o trabalhador que está ali envolvido, mas todas as pessoas que estão no seu entorno”, pontua.
“Quando você faz um corte com maquita, mesmo na sua casa, o corte tem que ser feito com umidade, tem que reter o pó para a pessoa não respirar o pó.”
A entrevista completa está disponível na edição desta quarta-feira (9) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.