Fala de Múcio reduzindo genocídio de Gaza a ‘questão ideológica’ causa revolta em palestinos no Brasil
Brasil de Fato
A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) rebateu com veemência nesta quarta-feira (9) as declarações feitas pelo ministro da Defesa no dia anterior. José Múcio Monteiro falou na terça-feira que a reação do governo Lula ao massacre que vem sendo cometido por Israel na Faixa de Gaza seria uma “questão ideológica” que atrapalha seu trabalho.
“A questão diplomática interfere na Defesa. Houve agora uma concorrência, uma licitação. Venceram os judeus, o povo de Israel, mas por questões da guerra, o Hamas, os grupos políticos, nós estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas não podemos aprovar. O TCU não permitiu dar ao 2º colocado e nós estamos aguardando que essas questões passem para que a gente possa se defender”, disse Múcio em evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI) em São Paulo.
O ministro se refere ao cancelamento da compra pelas Forças Armadas brasileiras de obuseiros – lançadores de artilharia – da empresa israelense Elbit Systems em represália ao genocídio palestino.
Em comunicado, a Fepal disse que Múcio “merece ser estudado” e que “a impertinência do ministro esbarra numa investigação por crime de genocídio na Corte Internacional da Justiça, cuja petição acusatória – e admitida – é da África do Sul, com apoio formal do Estado brasileiro”.
“Desde 28 de março vigora ordem do Conselho de Segurança da ONU por cessar-fogo imediato e incondicional, sem que, novamente, Israel o tenha acatado, e de lá para cá assassinado pelo menos 20 mil civis palestinos”, prossegue o comunicado que pode ser lido na íntegra aqui.
A Federação Árabe Palestina argumenta que “segundo a ONU, neste um ano de genocídio, a destruição em Gaza pode estar na casa dos 90%, quase todo o território, algo jamais visto na história, superando em muito a mais destruída das cidades europeias em seis anos de 2ª Guerra Mundial”.
“É, também, a primeira vez na história das guerras e genocídios que 100% de uma população é declarada sob fome, assim como é inédito o deslocamento e morte de mais de 90% de uma demografia atacada por um agressor externo.”
No evento de terça, o ministro de Lula disparou também contra a proteção garantida às Terras Indígenas (TI). Múcio lamentou a proibição de minerar potássio nesses locais.
“Importamos potássio do Canadá quando temos a segunda maior reserva de potássio aqui, mas, por questões ideológicas, a Constituição prevê, mas como está embaixo da terra dos indígenas, nós não podemos explorar o nosso potássio”, disse.
Múcio também brincou, de forma irônica, que sua pasta é incompreendida pela sociedade brasileira. Numa fala que denota certo incômodo, o ministro pareceu sincero quando disse não entender por que o ministério é criticado.
“O Ministério da Defesa, o nome da Defesa, não é porque a gente vive defendendo o país. A gente vive se defendendo da sociedade, da imprensa, dos políticos, dos governos, pelo absoluto desconhecimento do que é Ministério da Defesa, indústria de defesa no Brasil.”