100 Anos da Coluna Prestes: eventos no Rio Grande do Sul celebram o legado do movimento
Brasil de Fato
No último domingo, 20 de outubro, tiveram início as celebrações do centenário da Coluna Prestes com o lançamento do Concurso de Poemas, realizado no Brique da Praça, em Santo Ângelo (RS). O evento, parte do projeto “100 Anos da Coluna Prestes“, reuniu amantes da poesia e da história brasileira em uma homenagem à memória desse movimento que deixou uma marca profunda na política nacional.
A Coluna Prestes teve origem no Levante de Santo Ângelo, em outubro de 1924, quando jovens oficiais do Exército Brasileiro, os “tenentes”, se rebelaram contra o regime oligárquico da República Velha e a falta de reformas políticas e sociais. O levante deu início à longa marcha que percorreu o interior do país, mobilizando a população.
O concurso foi idealizado para incentivar a produção literária inspirada na trajetória da Coluna Prestes, oferecendo aos poetas uma oportunidade para expressar suas reflexões sobre esse capítulo marcante da história do Brasil. A iniciativa contou com o apoio financeiro da emenda parlamentar da deputada estadual Laura Sito (PT), reforçando o compromisso com a preservação da memória e a valorização da cultura local.
As comemorações continuam com um Ciclo de Palestras organizado pela Associação Memorial Luiz Carlos Prestes, que ocorrerá no dia 9 de novembro, no Memorial Luiz Carlos Prestes, localizado na Av. Edvaldo Pereira Paiva, nº 831, no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre. O evento promete enriquecer o debate sobre a relevância da Coluna Prestes, reunindo especialistas que discutirão o seu impacto no contexto histórico e contemporâneo.
Filha do líder revolucionário, Anita Leocádia Prestes prestará homenagem ao seu pai no Memorial com a palestra “A Coluna Prestes, 100 Anos de História: Na sua época e hoje”. Anita sublinha que, a partir de 1930, quando Prestes se tornou comunista, a história da Coluna tem sido “permanentemente falsificada pela história oficial a serviço dos interesses das classes dominantes”.
Ao trazer a discussão para os tempos atuais, Anita destacará os riscos de uma narrativa única. “Minha fala estará voltada para o combate, por uma história da Coluna ‘comprometida com as evidências’, ou seja, com a verdade histórica. Dessa forma, conhecendo melhor o passado, as novas gerações poderão contribuir com maior eficácia na construção de um futuro de justiça social e democracia para o povo brasileiro”, explica.
Confira a programação:
15h – Palestra de Anita Leocádia Prestes: “A Coluna Prestes, 100 Anos de História: Na sua época e hoje”.
18h – Painel de debate com o professor Amílcar Guidolim Vitor, discutindo “O tenentismo, os maragatos e a formação da Coluna Prestes no Rio Grande do Sul”, seguido da palestra de Geraldo Barbosa: “Luiz Carlos Prestes: Da Coluna ao comunismo”.
Além das palestras, o evento contará com uma apresentação coreográfica do grupo Guapas 60+, intitulada “Cúmbia Guerrilheira”, e uma sessão de autógrafos com os autores Anita Leocádia Prestes e Amílcar Guidolim Vitor, que discutirão seus livros sobre o tema.
A Coluna Prestes
O Ciclo de Palestras tem por objetivo ser um momento de reflexão sobre as lutas populares e o legado deixado pela Coluna Prestes, contribuindo para o entendimento da história política brasileira. No final de 1924, Luiz Carlos Prestes começou a mobilizar cerca de 1.500 homens e mulheres para dar início a uma marcha pelo interior do Brasil em busca de um objetivo: denunciar as desigualdades promovidas pela oligarquia rural de Artur Bernardes, então presidente da República Velha. A Coluna Prestes, como ficou conhecida, percorreu 25 mil quilômetros e visitou 11 estados do país, no período de 25 de abril de 1925 a 3 de fevereiro de 1927.
Ao longo de dois anos e meio, os integrantes do movimento ocupavam as cidades, conversavam com a população local e faziam campanha contra as elites agrárias que dominavam o cenário político da época, argumentando sobre as injustiças sociais cometidas por esse grupo. As principais reivindicações eram um sistema democrático representativo, o voto secreto e a liberdade dos meios de comunicação.
Gaúcho de Porto Alegre, nascido em 3 de janeiro de 1898 e primogênito de quatro irmãos, Luiz Carlos Prestes era filho do capitão de engenharia do Exército Antônio Pereira Prestes e da professora Maria Leocádia Felizardo Prestes. Aos cinco anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro e, aos 18, ingressou na Escola Militar de Realengo, onde se formou na mesma função que seu pai. No entanto, a atuação de Prestes no Exército foi breve.
Dois anos após ter iniciado a carreira militar, Prestes participou da primeira de uma série de revoltas tenentistas, conhecida como a Revolta dos 18 do Forte, ocorrida no dia 5 de julho de 1924. A ação tinha por finalidade demonstrar a insatisfação dos militares de baixa patente com a forma pela qual o Brasil era governado. Foi por meio desse descontentamento que se originou a Coluna Prestes.
Em 1927, a marcha foi encerrada e seus integrantes se dividiram entre o exílio no Paraguai e na Bolívia. Prestes passou um tempo na Bolívia e, em seguida, viajou para a Argentina, onde começou a estudar o marxismo. A Coluna lhe rendeu o apelido de “Cavaleiro da Esperança”.
Em seu tempo exilado, Prestes recebeu incontáveis convites do secretário-geral e cofundador do Partido Comunista do Brasil (PCB), Astrojildo Pereira, para se filiar ao partido, porém, rejeitou todos. A sua adesão ao socialismo ocorreu somente em 1931, quando Prestes mudou-se para Moscou a convite do governo soviético. Três anos depois, a Internacional Comunista decidiu que Prestes retornaria ao Brasil clandestino para liderar uma revolução comunista no país.
Com Prestes, foi enviada Olga Benário, uma agente do serviço de espionagem do Exército Vermelho, que havia recebido a missão de realizar a sua segurança pessoal. Durante a viagem ao Brasil, Olga e Prestes se apaixonaram e se casaram.
Resgate histórico
Para celebrar os cem anos da Coluna Prestes (1924-1927), a editora Boitempo relançou a obra de Anita sobre o tema. Baseado em sua tese de doutorado defendida em 1989 na Universidade Federal Fluminense (UFF), o livro representa a pesquisa mais abrangente e a síntese mais completa sobre a Coluna, alicerçada em uma sólida formação teórica e em um vasto acervo documental, grande parte inédito na época de sua primeira publicação.
“Anita enfrentou o desafio da fonte oral – o herói invencível narrando sua própria história – e obteve grande êxito, demonstrando uma notável imparcialidade ao observar o evento histórico, superando o vínculo afetivo com aquele que era, ao mesmo tempo, o principal protagonista e a fonte primordial de seu relato. Esse é o primeiro e significativo mérito da obra: evitar a armadilha de seu próprio método”, afirma Maria Yedda Leite Linhares no prefácio.
Além disso, um manuscrito inédito de Prestes, guardado por 39 anos por Luiz Carlos Prestes Filho, foi divulgado destacando o lado estrategista militar do revolucionário. O documento descreve como Prestes se organizou para o rompimento do cerco governista na cidade de São Luiz Gonzaga (RS), iniciando uma jornada rumo ao norte em busca de se encontrar com as tropas paulistas e tentar derrubar o governo de Artur Bernardes.
Como encerramento das comemorações do centenário, será realizado, entre os dias 13 e 15 de dezembro, em São Luiz Gonzaga, no noroeste do estado, um acampamento inspirado nos moldes da histórica Coluna Prestes. A atividade remonta à passagem do movimento revolucionário que permaneceu na cidade por 60 dias antes de partir em sua marcha pelo Brasil. A proposta do acampamento é não só relembrar essa trajetória marcante da história política do país, mas também proporcionar momentos de reflexão e troca de experiências entre os participantes, conectando o passado ao presente em um espaço de resistência e aprendizado.