Morre cineasta Vladimir Carvalho, ícone do documentário brasileiro e guardião da memória nacional

Brasil de Fato

O Brasil perde hoje um de seus mais importantes cineastas, Vladimir Carvalho, que faleceu na manhã desta quinta-feira (24), aos 89 anos, em Brasília. O cineasta estava internado no Hospital Santa Helena desde a semana passada, após sofrer um infarto. Ele enfrentava complicações de saúde, incluindo a parada dos rins, o que levou à necessidade de hemodiálise.

Nascido em Itabaiana, na Paraíba, em 1935, Carvalho dedicou sua vida à produção cinematográfica, tornando-se uma das principais referências do documentário brasileiro. Morador de Brasília desde 1970, ele se tornou uma figura fundamental para o registro videográfico da construção e do desenvolvimento da capital.

Ao longo de sua carreira, dirigiu mais de 10 filmes que abordavam temas políticos e históricos, consolidando-se como um dos guardiões da memória e da história do cinema nacional. O documentário Conterrâneos Velhos de Guerra (1991) é considerado seu grande clássico, abordando a trajetória dos trabalhadores que edificaram os prédios centrais de Brasília e o posterior processo de expulsão e segregação desses operários nos anos seguintes.

Ele também dirigiu outros filmes importantes para a memória do Distrito Federal, como Brasília segundo Feldman (1979), que retrata o massacre dos trabalhadores da Pacheco Fernandes, Barra 68 – Sem Perder a Ternura (2000), sobre a invasão militar à UnB, e Rock Brasília – Era de Ouro (2011), que discute a geração rockeira da capital nos anos 80.

Além de cineasta, Vladimir Carvalho atuou como professor do curso de Cinema na Universidade de Brasília (UnB), onde influenciou gerações de alunos e amantes do cinema. Sua dedicação ao ensino e à pesquisa cinematográfica reforçou seu legado, formando cineastas e críticos que continuam a moldar a cena cultural brasileira. Em 2012 ele recebeu o título de Professor Emérito da UnB.

Em janeiro deste ano, o cineasta celebrou seu aniversário de 89 anos no Cine Brasília, onde exibiu O País de São Saruê, seu primeiro longa-metragem. No dia 30 de abril, o Centro Tradicional de Invenção Cultural havia homenageado o cineasta em comemoração ao Dia do Trabalhador, em reconhecimento à importância de sua atuação para a comunidade operária da cidade.

Nos últimos anos de sua vida, Vladimir transformou sua casa em um museu do cinema brasileiro, exibindo peças particulares de suas obras e relíquias que acumulou de outros cineastas e amigos pesquisadores.

Homenagens

Em nota publicada nas redes sociais, o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB) manifestou pesar pela morte de Vladimir Carvalho e decretou luto de três dias no Distrito Federal. “Referência do cinema brasileiro, o professor Vladimir Carvalho dedicou sua arte para denunciar injustiças e dar voz aos desassistidos numa época de censura e de perseguição política”.

A deputada federal Érika Kokay (PT-DF) disse em uma rede social que Vladimir Carvalho foi um mestre. “Depois de tanto nos encantar com sua extensa obra, ele que se encantou hoje, mas seguirá eterno. Deixa grande legado na história do cinema brasileiro e um grande amor por Brasília. Um exemplo de artista, de cidadão e um grande humanista”.

Os deputados distritais Fábio Félix (Psol) e Gabriel Magno (PT) também manifestaram pesar. “Um dos nomes mais importantes do cinema nacional, deixando um legado de documentários sobre a política e a história do nosso país”, pontuou Félix. “Cineasta comprometido com a memória e a história do nosso país, Vladimir foi um verdadeiro guardião da cultura e da identidade nacional”, disse Magno.

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Da Redação