O que são os estados-pêndulo e como eles podem definir as eleições nos EUA?

Brasil de Fato

Na corrida para a votação de 5 de novembro, nos Estados Unidos, a vice-presidente e candidata democrata Kamala Harris e o ex-presidente e candidato republicano Donald Trump estão em uma disputa acirrada nos sete estados-pêndulo, ou  swing states  Ambos os candidatos disputam uma parcela crítica do eleitorado cujos votos podem determinar quem será o próximo presidente nas eleições de novembro. Mas, o que significa esse termo?

Os “swing states” ou “estados pêndulos” em português, são aqueles que não apresentam um padrão fixo de votos e podem alternar entre os partidos (Democratas ou Republicanos) em diferentes eleições. A competição por esses estados costuma ser intensa, pois seus resultados podem alterar completamente a dinâmica de uma eleição, assim chamados porque não se inclinam para nenhum dos partidos, mas escolhem com base no candidato.

O próximo presidente do país será aquele que somar 270 dos 538 votos do Colégio Eleitoral. Cada um dos 50 estados, mais a capital, Washington DC, tem um número pré-determinado de colégios eleitorais. A Califórnia é o maior deles, com 54 votos, seguido do Texas, com 40 votos. Já os menores, que são estados como Alaska e Wyoming, têm 3 votos cada. 

Os estados que votaram no atual presidente democrata Joe Biden em 2020 e no ex-presidente republicano Donald Trump em 2016 são frequentemente destacados como estados decisivos são: Arizona, Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin.

Margens apertadas nas disputas também indicam que um estado poderia ter sido vencido por qualquer partido. Em 2020, sete estados foram vencidos por uma margem de três pontos percentuais ou menos. Esses estados incluem os cinco estados acima, além da Carolina do Norte e Nevada.

A disputa eleitoral deste ano pode ser decidida pelos sete estados-pêndulos, onde a disputa está aberta: Arizona, Nevada, Michigan, Wisconsin, Geórgia, Carolina do Norte e a tão cobiçada Pensilvânia.

Pênsilvania

Com quase 13 milhões de habitantes e o maior colégio eleitoral entre os chamados “estados pêndulos”, a Pensilvânia é historicamente uma parada obrigatória na corrida à Casa Branca já que, das últimas 12 eleições, o estado elegeu 10 presidentes

Um levantamento feito pelo estatístico dos EUA Nate Silver mostra que, se Kamala Harris vencer na Pensilvânia, suas chances de chegar à presidência são de 91%. Caso Donald Trump leve a melhor no estado, então o republicano tem 96% de chances de voltar a ocupar o Salão Oval. 

Geórgia

Talvez o mais importante dos estados-pêndulo, junto com a Pensilvânia.  No coração do sul religioso e conservador, a Geórgia tradicionalmente confia os seus 16 delegados ao candidato republicano. 

Na sequência dos movimentos antirracistas, este estado, com sua grande comunidade negra, preferiu o democrata Biden há quatro anos. 

Filha de pai jamaicano e mãe indiana, Harris tem 59 anos, quase 20 anos mais nova que Trump, é um perfil mais atraente a jovens e minorias de centros urbanos e universidades. Porém, o eleitorado religioso elogia Trump como o arquiteto da suspensão do direito federal ao aborto. 

Um feito pelo qual parecem inclinados a esquecer a acusação do ex-presidente de tentar alterar os resultados das eleições na Geórgia em 2020.

Michigan

Localizado no norte do país, fazendo fronteira com o Canadá, o estado do Michigan é sede das “três grandes” fabricantes de automóveis (Ford, General Motors e Chrysler). Reduto democrata com 15 delegados, o estado foi conquistado por Trump em 2016 contra Hillary Clinton e reconquistado por Joe Biden em 2020.

Neste berço da indústria automotiva, também em declínio, Harris têm recebido forte apoio do principal sindicato do setor (UAW), mas não dos muitos eleitores árabes-americanos e muçulmanos indignados com o apoio dos Estados Unidos a Israel na guerra de Gaza. 

Na década de 1970, as crises econômicas levaram muitos moradores do chamado “cinturão industrial” a deixarem Michigan, mas os conflitos no Oriente Médio atraíram migrantes libaneses, iraquianos, iemenitas e palestinos para a região. 

A comunidade muçulmana tradicionalmente vota nos democratas, mas sua indignação com o apoio da Casa Branca às operações militares de Israel em Gaza e no Líbano ameaçou reduzi-la.

Trump aposta especialmente no custo de vida para mobilizar a classe média contra Harris, que apresenta como herdeira de um mandato marcado pela inflação. 

Em visita ao estado em outubro, Kamal Harris prometeu reequipar as fábricas, contratar localmente e trabalhar “com os sindicatos para criar empregos bem remunerados, incluindo empregos que não exijam um diploma universitário”. Ela prometeu, caso seja eleita, examinar os empregos federais para avaliar aqueles “que não deveriam ter esse requisito” de título universitário, e disse que desafiará “o setor privado a fazer o mesmo”.

“Nunca lhes direi que tipo de carro devem dirigir”, acrescentou, para se diferenciar de Trump, que defende os veículos à gasolina. Desde que Elon Musk, dono da Tesla, aderiu à sua campanha, porém, ele parece ter suavizado sua oposição aos carros elétricos.

Os sindicatos contribuem com “justiça básica” e “dignidade”, defendeu Kamala, apoiada por simpatizantes com faixas dizendo “trabalhadores”.

Em Detroit, antigo reduto da indústria automobilística americana, Trump prometeu impor “tarifas gigantescas, 100% e, se isso não funcionar” de “200%” com o objetivo de impedir que as companhias fabriquem carros no exterior para depois vendê-los nos Estados Unidos.

Arizona

Único dos estados-pêndulo que faz fronteira com o México, o Arizona, localizado no sudoeste do país com 11 delegados tem se tornado um foco de imigração ilegal – tema que tem sido trabalhado por ambas as campanhas. Um a cada eleitores do Arizona são latinos. 

Em visita ao Arizona, o candidato republicano retomou seu discurso anti-imigração, acusando os democratas de terem “importado um exército de ilegais” das “masmorras de todo o mundo”.

A esperança da atual vice-presidente está no fato de que nas eleições de meio de mandato de 2022 o estado escolheu um democrata para governador, em detrimento de um candidato trumpista.

Neste estado, o candidato republicano não contará com o apoio de alguns republicanos de longa data, que fazem campanha contra o magnata com cartazes onde se lê: Republicanos do Arizona por Harris.

A derrota apertada de Trump neste estado em 2020 por uma diferença de 10.500 votos para o democrata Joe Biden, foi a primeira dos republicanos no Arizona desde 1996 e ocorreu, em boa medida, ao afastamento de uma parte dos republicanos da figura do magnata.

O movimento anti-Trump no Arizona teve menos apoio em 2020. Este ano, os ativistas dizem ter arrecadado US$ 120 mil (R$ 658 mil, na cotação atual) de pequenos doadores, o dobro do que nas últimas eleições.

Grande parte do eleitorado no Arizona apoia a rigidez fiscal dos republicanos, mas se consideram “moderados socialmente”, em consonância com a figura de John McCain, ex-senador do estado e candidato republicano à presidência em 2008, que morreu de câncer há seis anos. O prefeito de Mesa, o republicano John Gile, participou da convenção democrata para apoiar Kamala Harris, onde lembrou que McCain “era conhecido por dizer ‘o país antes do partido'”.

“Preciso lembrar aos republicanos do Arizona que sigam o exemplo do senador McCain e não sejam leais a um partido que perdeu o rumo”, disse o prefeito.

Carolina do Norte

Estado do sul com 16 delegados, a Carolina do Norte não vota nos democratas desde Barack Obama em 2008, mas seu governador é democrata desde 2017. Porém, assim como na Geórgia, Harris conta com a população negra (cerca de 20%) e jovens. 

Os democratas se esforçam para aumentar o número de eleitores inscritos na esperança de melhorar sua participação.

No estado devastado pela passagem do furacão Helene, Trump repetiu teorias conspiratórias que acusam o governo do presidente Joe Biden e a Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês) de redirecionarem os fundos para desastres para trazer migrantes ilegais e impulsionar os votos nos democratas.

Winscosin

Junto com Pensilvânia e Michigan, é o terceiro estado que rompeu o “blue wall” (parede azul) em 2016, um bloco de cerca de vinte estados considerados fortemente democratas. Hillary Clinton perdeu seus dez delegados, que Biden reconquistou em 2020. 

Como sinal de sua importância, os republicanos realizaram sua convenção no estado em julho, em Milwaukee. Aos moderados, os democratas apelam à “ameaça existencial à democracia” representada por Trump.

Nevada

Este estado do oeste dos EUA, com seis delegados, conhecido pelos cassinos de Las Vegas, não vota em um republicano desde George Bush, em 2004. No entanto, os conservadores acreditam que podem conseguir isso graças, em parte, aos latinos. 

Os apoiadores de Harris esperam que a chegada de novos habitantes (trabalhadores mais jovens e com melhor formação, que muitas vezes vêm da vizinha Califórnia para trabalhar no setor da tecnologia ou na transição energética) a favoreça.

Eleições anteriores

Eleições de 2000 (Flórida): As eleições presidenciais de 2000 entre George W. Bush e Al Gore são um dos exemplos mais notórios. A Flórida tornou-se o estado-pêndulo decisivo, com Bush vencendo o estado por uma margem extremamente apertada de apenas 537 votos, depois de uma controvérsia legal sobre a contagem dos votos. A vitória na Flórida garantiu a Bush a presidência, apesar de Gore ter recebido mais votos no total nacional.

Eleições de 2016 (Wisconsin, Michigan e Pensilvânia): Donald Trump venceu Hillary Clinton em 2016 ao conquistar três estados do Cinturão Industrial que tradicionalmente apoiavam os democratas: Wisconsin, Michigan e Pensilvânia. A vitória por margens estreitas nesses estados, junto com uma estratégia focada em trabalhadores de classe média e questões econômicas, foi crucial para sua vitória no Colégio Eleitoral, apesar de ter perdido o voto popular.

Eleições de 2020 (Arizona, Georgia e Wisconsin novamente): Na eleição de 2020, Joe Biden conquistou estados que Trump havia vencido em 2016, como o Arizona e a Geórgia, além de manter Wisconsin. A mobilização dos eleitores, a participação recorde e a mudança nas dinâmicas demográficas contribuíram para que Biden vencesse esses estados-pêndulo, resultando na sua vitória geral.

*Com AFP

Da Redação