Movimento dos Atingidos por Barragem vê insuficiência em acordo de Mariana e cobra: ‘Até hoje ninguém foi preso’
Brasil de Fato
Prestes a completar nove anos, o crime das empresas Vale e BHP Billington na cidade de Mariana (MG) passou por um momento histórico ao receber um novo acordo de reparação às vítimas e recuperação do território atingido, que envolve áreas de Minas Gerais e Espírito Santo.
Apesar de reconhecer avanços, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), afirma que o acordo “tem muitos limites”, defende Thiago Alves, membro da coordenação nacional da entidade.
O novo acordo tem previsão de um total de R$ 170 bilhões, considerando que já foram gastos pela Fundação Renova, R$ 38 bilhões, o provisionamento imediato de outros R$ 32 bilhões, e outros R$ 100 milhões que serão pagos pelas empresas durante os próximos 20 anos.
Deste valor, R$ 3,75 bilhões será para o pagamento de um auxílio mensal a pescadores e agricultores atingidos por até quatro anos. O benefício terá valor inicial de 1,5 salário-mínimo nos três primeiros anos e 1 salário nos últimos 12 meses.
Para Letícia Oliveira, também integrante da coordenação nacional do MAB, a “indenização individual foi muito abaixo do necessário para atingir um valor realmente justo para todos e todas atingidas”.
Em 5 de novembro se completam nove anos do rompimento da barragem do Fundão, localizada em Mariana (MG). O crime causou a morte de 19 pessoas e liberou 40 milhões de metros cúbicos de resíduos e lama tóxicos no Rio Doce, que percorreram o afluente até chegar no mar, em Linhares (ES).
“Só estamos aqui porque as mineradoras Samarco, Vale e BHP Billington provocaram a morte de 19 pessoas. Depois de tantos anos de luta, o MAB segue firme, moblizando o povo, fazendo marchas para garantir um acordo justo até o último momento. E reafirmamos que vamos seguir em luta, fiscalizando para garantir que que o dinheiro chegue nos atingidos, na reparação, não para outros objetivos.”
Londres
Em paralelo ao novo acordo, o MAB acompanha de perto o julgamento contra a empresa anglo-australiana BHP, que acontece em Londres. O processo começou na segunda-feira (21) e deverá se estender até 5 de março de 2025.
Desde o primeiro dia, integrantes do MAB estiveram presentes em frente ao local do julgamento e pretendem acompanhar o processo para garantir “uma reparação integral para que todos e todas consigam retomar suas vidas adequadamente”, explica Letícia Oliveira.
A integrante do MAB reforça outra reinvindicação do Movimento
“Vamos continuar fazendo a luta para criminalizar as empresas, punir as empresas que cometeram esse crime, até hoje elas não foram punidas, não tem ninguém preso. O processo criminal precisa avançar.”