Famílias sem-teto ocupam quatro prédios no centro de SP durante eleição e são despejadas pela PM
Brasil de Fato
Neste domingo (27), enquanto saía o resultado das urnas confirmando a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) contra a candidatura de Guilherme Boulos (Psol), famílias da Frente de Luta por Moradia (FLM) ocupavam quatro prédios na região central da capital paulista. Todas as ocupações foram despejadas pela Polícia Militar (PM).
As famílias sem-teto, com dezenas de crianças, ocuparam prédios na av. Brigadeiro, na rua Major Quedinho, na av. Nove de Julho e na rua São Bento. Nesta última, foram despejadas pela Tropa de Choque, sob o sobrevoo de um helicóptero da PM, aos gritos de “o povo na rua, prefeito a culpa é sua”.
Na rua Major Quedinho, onde o prédio foi ocupado por cerca de 80 pessoas no fim da tarde, “as pessoas foram recebidas com bomba de gás, estilhaço, alguns se feriram”, de acordo com Osmar Borges, da coordenação da FLM. “Em todas as ocupações foi usada a Tropa de Choque para retirar os sem-teto na marra, mesmo sem liminar de reintegração de posse”, afirma.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, comandada pelo ex-policial da Rota Guilherme Derrite, três homens foram detidos na ocorrência da Bela Vista. Em nota, a pasta do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) informou que a PM foi acionada “para atuar em ocorrências de invasão de propriedade entre o final da tarde e a noite de domingo (27)” e que “a situação foi controlada”.
Por volta das 22h o 3º pelotão de Choque se posicionou em frente ao prédio na av. Nove de Julho que, até então abandonado, tinha sido ocupado três horas antes por cerca de 60 pessoas. Um vídeo mostra policiais se posicionando na porta de entrada, enquanto outro agente aponta a arma de bala de borracha para uma janela. “Tem crianças aí dentro”, alerta uma pessoa atrás da câmera.
“A tropa invadiu o prédio, fazendo a identificação de todas as famílias, como se fossem criminosas, mães, crianças”, narra o coordenador da FLM. Durante a retirada da área, os sem-teto estenderam uma faixa com os dizeres “Nenhuma mulher sem casa”.
O despejo do prédio na rua da Mooca aconteceu nesta segunda-feira (28), com participação da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Por acesso à moradia no centro
Apesar de terem sido feitas no domingo em que Nunes venceu segundo turno com 59,35% dos votos contra 40,65% de Boulos, deputado federal e liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Osmar Borges explica que as quatro ocupações não ocorreram por conta da eleição municipal.
“Fazem parte de uma agenda que a FLM realiza todos os anos para falar sobre a questão da moradia no centro da cidade, dialogar com os poderes locais, reivindicar a retomada de políticas como locação social e programas habitacionais que assegurem o acesso à moradia por famílias que ganham de um até três salários-mínimos”, pontua Borges.
“Reivindicamos o aumento desses investimentos, principalmente nessas regiões mais privilegiadas de estrutura para a população de menor renda, que é a grande maioria que gera riqueza nos centros urbanos da cidade”, afirma o coordenador da FLM. “Agora vamos nos reorganizar a prepara novas jornadas de luta”, ressalta.