Colômbia cria título de investimento da biodiversidade durante a COP16 e cientistas alertam para espécies em risco

Brasil de Fato

A Colômbia criou nesta segunda-feira (28) um título de investimento voltado para a proteção à biodiversidade. O objetivo é arrecadar 50 milhões de dólares (R$ 285 milhões, aproximadamente) para financiar projetos de produção sustentável e de economia circular, gestão de recursos, desenvolvimento agrícola e energia. O projeto foi anunciado durante a COP16, realizada na cidade colombiana de Cali.

Segundo a ministra do Meio Ambiente do país e presidente da Conferência, Susana Muhamad, o programa coloca como perspectiva a possibilidade de bancar a proteção ao meio ambiente pelo mercado financeiro. De acordo com ela, o levantamento dos setores prioritários para essa recuperação foram feitos pelo Sistema Nacional Ambiental.

“É um marco financeiro para a recuperação da natureza. Tem três características: primeiro, gera um processo de financiamento para setores absolutamente estratégicos e priorizados pelo governo a partir do que o Sistema Nacional Ambiental identificou como chaves para a recuperação da integridade ecológica. Segundo, gera um processo que mostra que a recuperação da natureza é possível e que é financiável, ou seja, que também é produtiva. Terceiro, se alinha com as metas de proteção estabelecidas pelo país”, afirmou.

O título partiu de um acordo entre o Banco Davivienda e a Corporação Financeira Internacional (IFC). O anúncio foi feito no dia dedicado aos Mecanismos de Financiamento e Implementação da COP. Esse é o segundo projeto para financiar a proteção ao meio ambiente por meio da venda de títulos. Em 2023, o Brasil lançou uma iniciativa semelhante na Bolsa de Valores de Nova York. Os chamados títulos verdes são títulos da dívida externa com orientação para projetos sustentáveis.

No caso colombiano, a emissão dos títulos vai durar quatro anos e cumpre uma meta do presidente Gustavo Petro, que colocou a preservação do meio ambiente como bandeira prioritária de seu governo. O programa também vai custear a restauração de solos degradados, sistemas de tratamento de águas residuais, iniciativas de restauração de zonas úmidas e áreas marinhas.

O ministro das Finanças da Colômbia, Ricardo Bonilla, disse que o governo precisa ter critérios definidos para enquadrar projetos que sejam realmente considerados “verdes”.

“Em matéria financeira, a grande dificuldade que todos temos tido é identificar exatamente o que significa verde, o que significa que se enquadra na taxonomia verde, o que significa que está agora incluído na biodiversidade e por que desenvolver a colocação deste tipo de títulos para ter condições financeiras mais favoráveis ​​e menos onerosas e para aproveitar perfeitamente os recursos para desenvolver projetos específicos”, afirmou.

Risco de extinção

Durante o dia, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) divulgou relatório afirmando que 34% das árvores do planeta estão em risco de extinção. A organização levantou 166.061 espécies e identificou que 46.337 estão ameaçadas de extinção e 10.235 estão em perigo crítico. Ainda segundo a UICN, mais de 900 já desapareceram.

O grupo é filiado à Unesco e foi fundado em 1948. Fazem parte da UICN 84 governos, além de ONGs. A União é responsável por fazer a chamada lista vermelha, elencando espécies vegetais e animais que estão em risco. Na atualização feita nesta segunda, foram incluídas 16.425 espécies na classificação “ameaçadas”. Mais de um quarto do relatório é composto por árvores. O número de espécies vegetais ameaçadas é mais que o dobro de todas as aves, mamíferos, répteis e anfíbios em risco somados.

A maior diversidade de árvores do mundo está na América do Sul, com 13.668 espécies. Dessas, 3.356 estão ameaçadas de extinção.

A diretora-geral da UICN, Grethel Aguilar, explica no relatório que “as árvores são essenciais para manter a vida na Terra devido ao seu papel vital nos ecossistemas e milhões de pessoas dependem delas”. O texto destaca também que as mudanças climáticas ameaçam cada vez mais árvores, especialmente nos trópicos, pelo aumento do número de eventos climáticos extremos como tempestades e o aumento do nível do mar.

“A maior proporção de árvores ameaçadas encontra-se nas ilhas devido ao desmatamento para o desenvolvimento urbano e a agricultura em todas as escalas, assim como a espécies invasoras, pragas e doenças”, diz o texto. 

Impacto para as pessoas

Outro levantamento apresentado durante a COP16 foi da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), entidade da ONU focada na biodiversidade. De acordo com a organização, ao menos 75% da superfície da Terra passou por uma “degradação significativa” devido à ação humana, principalmente pelo desmatamento.

Os biomas mais afetados são os de zonas úmidas, que chegaram a perder 87% da área total em 300 anos. De acordo com a plataforma, a degradação promovida pela atividade humana impacta de forma direta na vida de 3,2 bilhões de pessoas. O levantamento também indica que a população que vive em terras áridas vai quase dobrar em 40 anos: passará de 2,7 bilhões em 2010 para 4 bilhões em 2050.

A IPBES também complementa as estimativas da UICN e afirma que são 1 milhão de espécies animais e vegetais que estão ameaçadas dentre as 8 milhões existentes. A plataforma considerou que 10% das espécies de insetos estão em risco, ou seja, quase 600.000.

De acordo com a ONU, a perda da biodiversidade é resultado de 5 aspectos: “a destruição do habitat, a sobre-exploração dos recursos, a mudança climática, a poluição e as espécies invasoras”.

A COP16 é a Conferência das Partes organizada pela ONU com foco na biodiversidade. Participam desse evento os países que são signatários da Convenção da Biodiversidade. A diferença com a COP das Mudanças Climáticas, bem mais conhecida, é que nessa última participam os países signatários do acordo de mudanças climáticas da ONU.

A COP16 recebe 23 mil delegados de mais de 190 países, a maior participação para o evento.

Da Redação