Uruguai homenageia desaparecida na ditadura cujos restos mortais foram encontrados em quartel militar

Brasil de Fato

O Uruguai homenageou nesta quinta-feira (6) a militante comunista Amelia Sanjurjo, detida e desaparecida durante a última ditadura (1973-1985), cujos restos mortais foram encontrados há exatamente um ano em um quartel militar, embora só tenham sido identificados na semana passada. 

A homenagem foi realizada no prédio central da Universidade da República, administrada pelo Estado, e os restos mortais de Sanjurjo foram enterrados no Cemitério La Teja, em Montevidéu. 

“Nesta quinta-feira, Amelia retorna à sua casa, à sua família e ao seu povo”, disse a associação de Mães e Parentes de Uruguaios Detidos e Desaparecidos ao pedir uma homenagem pública a ela. 

Os registros oficiais contabilizam 197 pessoas desaparecidas por ações atribuídas ao Estado uruguaio entre 1968 e 1985, a maioria delas detidas na Argentina durante o período do Plano Condor de cooperação entre os regimes vizinhos. De acordo com um recente levantamento da Usina de Percepção Cidadã, 56% da população no Uruguai considera as medidas do Estado para localizar os desaparecidos insuficientes.

Amelia Sanjurjo

Amelia Sanjurjo Casal tinha 40 anos de idade quando foi presa em 2 de novembro de 1977 nas ruas de Montevidéu. Ela era funcionária de uma editora, membro do Partido Comunista do Uruguai e estava grávida há pouco tempo. 

De acordo com informações oficiais, ela morreu seis dias após seu sequestro, espancada quando foi levada para uma sessão de tortura em “La Tablada”, a sede de um órgão que coordenava a repressão contra militantes de esquerda. 

Em 28 de maio, o promotor especializado em crimes contra a humanidade, Ricardo Perciballe, confirmou que os restos humanos encontrados em 6 de junho de 2023 no Batalhão 14 do Exército, a 25 km de Montevidéu, eram de Sanjurjo.

Marcha do silêncio

No último dia 20, dezenas de milhares de pessoas marcharam no Uruguai demandando verdade e justiça para os desaparecidos durante a ditadura, uma causa à qual se uniram nas redes sociais figuras públicas como o jogador de futebol Luis Suárez.

A Marcha do Silêncio acontece anualmente em 20 de maio, data em que, em 1976, foram assassinados em Buenos Aires os legisladores uruguaios Zelmar Michelini e Héctor Gutiérrez Ruiz, junto com os membros da guerrilha tupamara Rosario Barredo e William Whitelaw.

Na ocasião, a Instituição Nacional de Direitos Humanos e Defensoria do Povo (INDDHH), que apoiou a concentração, aguardava “novidades” sobre a identidade dos restos de uma mulher encontrados em junho de 2023 no Batalhão de Infantaria 14, atribuídos a uma detida desaparecida – que se confirmaram como sendo de Amalia Sanjurjo.

O ex-presidente José Mujica, que participou da luta armada contra governos democráticos nos anos 1960 e 1970 e passou 12 anos na prisão, a maior parte durante a ditadura, esteve presente, mas não marchou devido ao tratamento de radioterapia contra o câncer de esôfago.

“Muitos pensavam que isso terminaria quando todos nós desaparecêssemos. Estavam errados. Passei pela Espanha e encontrei novas gerações revolvendo ossos”, declarou Mujica, referindo-se às vítimas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e da ditadura de Francisco Franco, que perdurou até 1975.

*Com AFP

Da Redação