‘Trumpista’ e anticomunista: Quem é o bilionário chinês condenado por fraude nos EUA 

Brasil de Fato

O empresário chinês Guo Wengui foi condenado na última terça-feira (16) por fraudes que somariam US$ 1 bilhão em danos a seus seguidores na internet. Wengui foi considerado culpado de nove das 12 acusações que incluem lavagem de dinheiro e fraude bancária, eletrônica e de valores imobiliários em negócios, além de esquemas em criptomoedas, que teriam sido cometidos entre 2018 e 2023, segundo o procurador dos EUA do Distrito Sul de Nova York. Ele já estava preso desde março de 2023.

Guo Wengui está foragido da Justiça chinesa desde 2014. Desde que chegou aos EUA se transformou em uma das principais vozes chinesas de ataques ao Partido Comunista da China (PCCh), ecoando fake news como a da suposta extração forçada de órgãos de pessoas na Região Autônoma de Xinjiang.

A procuradoria dos EUA afirmou que centenas de milhares de seguidores online de Guo foram vítimas de seu esquema pelo qual ele pedia investimentos através de diversas entidades e programas fazendo “declarações e representações falsas”. Todos os esquemas tinham como centro a crítica ao PCCh.

Guo ostentava sua riqueza e prometia a seus seguidores que ficariam ricos ou que fariam parte de grupos com pessoas muito importantes e celebridades.

O site do G|CLUBS, um dos esquemas fraudulentos, se apresenta como “um programa de associação exclusivo e de alto nível que oferece uma gama completa de serviços para membros internacionais de elite”. Mas os serviços não existiam e o dinheiro da fidelidade foi destinado a compra de uma mansão, móveis e itens de decoração e luxo e um carro da marca Bugatti no equivalente a quase R$ 4,5 milhões, segundo a procuradoria.

A defesa de Guo argumentou que ele é “um dissidente fervoroso” e que “ostentava a sua riqueza como parte da sua crítica política ao Partido Comunista Chinês (PCCh)”. Segundo a agência de notícias Reuters, Sidhardha Kamaraju, advogado de Guo, teria dito no julgamento que ele “não se importava com o dinheiro” e sim “com o movimento”.

Ainda segundo a Reuters, a promotora Juliana Murray afirmou em resposta que ele estava certo em se preocupar com o movimento contra o PCCh, já que “era seu cofrinho pessoal”.

Fugitivo da China

O empresário deixou a China em 2014, quando passou a enfrentar acusações de corrupção. Antes de sair definitivamente do país, Wengui já tinha fugido algumas vezes por problemas com dívidas.

Guo Wengui foi um dos empresários que se beneficiou do boom da construção dos últimos anos. Quando enfrentava problemas financeiros, hipotecava andares de prédios para conseguir empréstimos bancários.

Em 2002, uma sentença do Supremo Tribunal Popular chinês determinou que uma das empresas de Guo (a Yuda Company) pagasse 31,29 milhões de yuans (mais de R$ 23 milhões) por atrasos de projetos à estatal da construção civil. Os processos na Justiça que Guo enfrenta por projetos imobiliários em Pequim somam 17 bilhões de yuans (mais de R$ 13 bilhões).

Após sua saída, Wengui construiu seu perfil de “dissidente” na mídia Ocidental e se tornou uma das vozes mais reconhecidas críticas ao Partido Comunista da China. Ele dizia ter acesso a documentos internos que revelariam crimes de corrupção e outros no governo. O governo chinês descobriu em 2017 o esquema que Guo havia criado para forjar esses documentos falsos, que seriam o centro de suas denúncias de suposta corrupção envolvendo políticos na China.

Segundo o Departamento Municipal de Segurança Pública de Chongqing, ele teria aliciado dois irmãos gêmeos, Chen Zhiyu and Chen Zhiheng, para forjar os documentos. Os irmãos foram processados e em seus computadores e discos externos foram encontrados falsos documentos oficiais de áreas como defesa nacional, diplomacia e políticas financeiras da China.

Embora já condenado, a sentença final de Guo nos Estados Unidos acontecerá no dia 19 de novembro e pode incluir desde décadas de prisão até a deportação para a China.

Trumpismo

Guo é parceiro do ex-assessor de Donald Trump e articulador da extrema direita global, Steve Bannon. Uma investigação da mídia estadunidense Mother Jones revelou que o magnata gastou mais de US$ 400 mil para financiar a participação de centenas de seguidores de Trump se manifestarem em Washington no dia 14 de novembro de 2020 para denunciar fraude eleitoral, após a vitória de Joe Biden.

Guo e Bannon criaram o GTV e GNews, canais pelos quais o empresário chinês escoava suas falas anti-PCCh.

Quando Bannon foi preso em 2020, ele estava com Guo em um iate, de propriedade do chinês, em Nova Iorque. Bannon foi preso sob acusação de um crime similar ao de Guo. Ele criou a campanha “We Build The Wall” (“Nós construímos o muro”), que pedia doações para financiar a construção de forma privada do muro na fronteira entre EUA e México.

Bannon foi acusado de mentir ao prometer que o dinheiro seria destinado à construção do muro. Segundo os promotores de Justiça, os fundos foram utilizados para enriquecimento ilícito de Bannon e outros.

Antes de deixar a Presidência, Trump concedeu indulto a Bannon, mas o perdão só se aplica aos crimes federais, não os de nível estadual. O processo de julgamento continua em andamento e a próxima instância deve acontecer em setembro. No entanto, Bannon está preso desde o dia 28 de junho deste ano, por ter desacatado a ordem do Congresso de colaborar com as investigações da invasão ao Capitólio no dia 6 de janeiro de 2021. 

*Com informações de Reuters, Xinhua, Caixin, Mother Jones

Da Redação