Cinco fazendeiros e duas empresas são responsáveis por quase metade da área queimada em Corumbá (MS), no centro do Pantanal

Brasil de Fato

Cinco fazendeiros, uma empresa de logística e uma construtora são responsáveis por quase metade da devastação em Corumbá (MS), o segundo município mais incendiado do Brasil em 2024. O valor das multas aplicadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) aos responsáveis chega perto de R$ 220 milhões.

Ademir Aparecido de Jesus, cujo nome está vinculado à fazenda Vitória, e o advogado e proprietário de terras Luiz Gustavo Battaglin Maciel, da fazenda Astúrias, receberam multas no valor de R$ 50 milhões cada, conforme noticiou o Brasil de Fato. Eles foram considerados responsáveis por um incêndio que devastou uma área de 339 mil hectares – duas vezes o tamanho da cidade de São Paulo – em setembro. O fogo atingiu outras 135 propriedades rurais, de acordo com o Ibama.

Além deles, outras multas em valores menores – mas ainda milionários – foram aplicadas para Armando Pereira Ferreira (R$ 10.630.500 milhões), Dendry Nery Oliveira Azambuja (R$ 1.057.500 milhões) e Felizardo do Carmo Filho (R$ 1.012.500 milhões). No sistema de autuações do Ibama, os nomes deles estão vinculados às fazendas Nossa Senhora de Fátima, Nixinica e Mamoeiro, respectivamente. Juntos, os cinco autuados pelo Ibama são responsáveis pelo incêndio em uma área de aproximadamente 360 mil hectares.

Corumbá é responsável pela metade dos incêndios no Pantanal, liderando a lista dos municípios que mais devastaram o bioma. Foram, até setembro, 741 mil hectares incendiados. Em todo o Pantanal, a área consumida em 2024 chegou a quase 1,5 milhões de hectares.

O município é o maior do bioma e um dos mais extensos do Brasil. Com a economia centrada na pecuária, tem o segundo maior rebanho bovino do país. O primeiro está em São Félix do Xingu (PA), que ficou em primeiro lugar entre os mais incendiados do Brasil em 2024.

De acordo com um levantamento do Ibama, os outros municípios que mais tiveram focos de incêndio no bioma são Cáceres (MT), Barão do Melgaço (MT), Aquidauana (MS) e Poconé (MT), onde outro fazendeiro recebeu uma multa de R$ 50 milhões. Marcelo Pereira Alves é apontado como o responsável por um incêndio que consumiu 7,5 mil hectares de vegetação nativa no Pantanal, na fazenda Cambarizinho I, no município matogrossense.  


Arte: Brasil de Fato

Gigante da logística acumula multas

Outras duas multas no valor de R$ 50 milhões foram aplicadas para as empresas Rumo Malho Oeste SA e Trill Construtora LTDA, ambas vinculadas a um incêndio que consumiu quase 18 mil hectares do Pantanal, em Corumbá, no mês de agosto.

De acordo com informações da Repórter Brasil, as chamas tiveram início a partir de uma faísca durante a manutenção de trilhos da empresa do grupo Rumo, maior administrador de ferrovias do Brasil. A empresa é responsável por 24% do volume de grãos exportados pelo país e opera 14 mil quilômetros de malha ferroviária.

Além dos R$ 50 milhões, a Rumo foi autuada no valor de R$ 7 milhões pelo descumprimento das condicionantes do licenciamento para operar na região, atendendo os ramos de commodities agrícolas, combustíveis e minérios, entre outros produtos.

Em 2023, a Rumo Malha Oeste foi multada em R$ 15,5 milhões por lançar resíduos de madeira e trilhos no córrego Piraputanga, em Corumbá. Os processos referentes às multas estão em trâmite na justiça.

A empresa Trill, responsável pela manutenção dos trilhos, também foi multada em R$ 50 milhões pelo incêndio no Pantanal.

Fogo chegou à aldeia 

No dia 14 de setembro, quando o Brasil de Fato publicou uma reportagem sobre os incêndios no entorno da aldeia Barra do São Lourenço, do povo Guató, as chamas avançavam pela mata ao redor território. Agora, já chegaram perto das casas. “O fogo já adentrou o nosso território e já começou a cercar a nossa aldeia. Muito terrível”, lamenta o cacique Negré, em áudio enviado pelo Whatsapp no dia 16 de outubro.

A aldeia é morada de 30 famílias indígenas, que vivem da pesca e do plantio de milho, abóbora, batata e outros alimentos. Com a seca intensa, os agricultores não têm conseguido manter as lavouras que garantem o sustento. “A mandioca a gente tá conseguindo ainda, está plantando na praia, né?  Um pouco de mandioca”, conta o cacique.

A praia, na beira do rio Paraguaia, onde fica a aldeia, ficou tomada pela fumaça que vem da mata. “Não dá pra ver nada, muita fumaça. Tô muito preocupado.”

De acordo com um levantamento publicado pelo Mapbiomas, o Pantanal é o bioma que mais secou nos últimos 39 anos.

Da Redação