Debate na Record: entre acusações e ‘pauta moral’, propostas aparecem, mas discussão não decola; apagão também é destaque

Brasil de Fato

Em encontro marcado por troca de acusações e embates sobre “pautas morais”, os temas educação e apagão também apareceram. Guilherme Boulos (Psol) e Ricardo Nunes (MDB) participaram do segundo debate eleitoral após o primeiro turno neste sábado (19), organizado pela TV Record e pelo jornal Estadão.

Buscando assumir a ofensiva, logo no primeiro bloco do programa Nunes utilizou do expediente da “pauta moral”, caro a candidatos da extrema direita. “Boulos, vou fazer uma pergunta muito objetiva, que eu gostaria que você pudesse falar sim ou não. Você já foi a favor da liberação das drogas? Você já foi a favor do fim da Polícia Militar? Você já foi a favor da legalização do aborto? Sim ou não?”, questionou o candidato, utilizando temas importantes para eleitores de seu principal apoiador, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Eu defendo o modelo de polícia que dá certo na Europa, que é um modelo que trata o crime com rigor, mas trata igual quem mora na periferia e quem mora no centro, trata igual rico ou pobre. Diferente do que você e seu vice defendem”, respondeu Boulos, lembrando do vice de Nunes, Ricardo Mello Araújo, ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), conhecida como uma das unidades policiais mais violentas de São Paulo.

À frente do destacamento, Mello chegou a defender que policiais façam abordagens diferentes em bairros com moradores ricos, como Jardins e Vila Olímpia, e na periferia.

“É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele (policial) abordar tem que ser diferente. Se ele for abordar uma pessoa (na periferia) da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins, ele vai ter dificuldade”, disse Mello Araújo em uma entrevista ao site UOL em 2017, pouco depois de assumir o comando da Rota.

Boulos também respondeu sobre a questão do aborto, defendendo a obrigação legal da Prefeitura de garantir acesso ao procedimento nos casos previstos em lei. “O prefeito tem que cumprir a lei. Eu defendo a vida, da criança, da mãe, da menina, e a lei diz de forma muito clara que uma mulher pode interromper a gravidez em caso de estupro, de risco de vida ou quando o feto não vai sobreviver. Lei que você não cumpriu no Hospital Cachoeirinha”. disse o psolista.

O Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da capital, é uma unidade de referência na cidade para a realização de procedimentos de interrupção da gravidez em casos previstos em lei. O serviço foi interrompido pela gestão Nunes em janeiro deste ano, obrigando meninas vítimas de estupro a buscar atendimento em outras regiões. A retomada do serviço foi determinada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), após ação movida por parlamentares do Psol.

Boulos lembrou ainda do apoio de partidos da extrema direita ao projeto de lei 1904/24, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que ficou conhecido como PL do Estupro. A proposta previa o aumento da pena para mulheres e meninas que realizassem o procedimento inclusive nos casos previstos pela lei atual.

“Os partidos do seu campo defendem o PL do Estupro, defenderam que a menina estuprada teria uma pena maior se interromper a gravidez do que o estuprador. Imagino que você defenda também”, afirmou o deputado.

A proposta gerou grande reação contrária da sociedade, incluindo uma série de manifestações de rua puxadas por movimentos feministas.

Temas da cidade

Como aconteceu no primeiro debate do segundo turno, ocorrido na terça-feira (15), Boulos explorou as fragilidades de Ricardo Nunes em relação ao apagão ocorrido na cidade. Após uma tempestade na última sexta-feira (11), São Paulo enfrentou transtornos generalizados causados pela falta de energia elétrica, causada, em grande parte, pela queda de árvores nos fios da rede.

“O apagão em SP tem uma mãe e um pai. A mãe é a Enel, que presta um serviço horroroso. O pai do apagão é o Ricardo Nunes, que não fez o básico, a poda e o manejo de árvores.” O psolista também lembrou do acordo entre prefeitura e Enel sobre a poda de árvores, em que a empresa pode repassar à prefeitura a responsabilidade sobre retirada de árvores que afetam a rede elétrica. Para ler o termo, clique aqui.

Em resposta, Nunes afirmou que a Enel é responsável pela poda de árvores em contato com a rede elétrica.  

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Boulos também relembrou a resposta de Nunes, após o apagão ocorrido na cidade em 2023, de propor uma taxa para a população para o enterramento de fios. À época, Nunes afirmou que a cidade possuía R$ 200 milhões no fundo de iluminação pública para custear uma pequena parte das obras e que o enterramento dependeria da criação de uma taxa. Após repercussão negativa, ele voltou atrás e disse que se referia a uma “contribuição opcional” para quem pudesse pagar pelo enterramento em sua região.

Em outro momento, os candidatos foram questionados pela jornalista Roseann Kennedy sobre o custo do enterramento dos fios de eletricidade. Boulos defendeu que as ações a respeito sejam iniciadas em áreas de maior risco de queda de energia e afirmou que vai buscar recursos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com o governo federal, caso seja eleito. Na réplica, Nunes não abordou o tema.

Já no tema da educação, Boulos lembrou os Centros de Educação Unificados (CEUs), projeto de educação bem avaliado pela população criado por sua vice, Marta Suplicy (PT), quando foi prefeita da capital, entre 2001 e 2004. O psolista questionou Nunes por não ter construído nenhum novo CEU em sua gestão. O plano da gestão Nunes era construir 12 unidades, mas apenas quatro tiveram as obras iniciadas e nenhuma foi concluída.

O prefeito respondeu que “todos os CEUs que eu prometi, já estarão com alunos na sala de aula no ano que vem”, e afirmou que vai construir mais dez unidades em um eventual próximo mandato.

Boulos retrucou, reafirmando que Nunes não entregou nenhum CEU durante sua gestão. “Ele não entregou nenhum CEU, e teve tempo e dinheiro, três anos e meio no cargo. O primeiro prefeito, desde que os CEUs foram criados, a não entregar nenhum. Até o [João] Dória [ex-prefeito pelo PSDB], amigo dele, entregou”, disse.

Boulos também prometeu construir 22 unidades em seu mandato, caso seja eleito. Além disso, o candidato citou a proposta dos CEUs Profissões, com foco em capacitação profissional para jovens acima de 15 anos. “Os CEUs deram uma oportunidade para as crianças até 14 anos. Agora, a gente vai fazer o 2.0, que é cuidar dos jovens de 15 pra cima”, explicou. Segundo o candidato, o projeto vai trazer cursos ligados a áreas como economia criativa e digital.

Experiência

Além da “pauta moral”, Nunes buscou se diferenciar de Boulos apresentando-se com um bom gestor. O atual prefeito, que não foi eleito para o cargo – assumiu após a morte de Bruno Covas, em 2021 – e foi vereador por dois mandados, entre 2013 e 2020, usou a palavra “inexperiente” para se referir ao deputado federal em diversos momentos do debate.

O candidato do MDB também usou a ocorrência de um acidente de trânsito sem vítimas para atacar reiteradamente o psolista. “[O Boulos] bate o carro, aí chega para o cara, fala, bati o carro, toma meu celular que eu vou pagar. O cara ficou ligando, ligando, ligando, ele não atendia. Sabe quem pagou a conta O papai, ele com 35 anos.” 

Em resposta, Boulos lembrou que Marta Suplicy não tinham experiência em cargos executivos antes de ser prefeita de São Paulo. “A Marta, antes de ser prefeita, nunca tinha tido um cargo no e Executivo. Então é importante a gente dizer que isso não é condição. Aliás, a experiência do meu adversário em se meter com coisas suspeitas, em só trabalhar em tempo de eleição, essa eu quero bem longe de mim”, retrucou.

“A experiência de compromisso com as pessoas, que é o meu propósito, um propósito de vida. Juntei um time de primeira linha de especialistas, fui conhecer experiências, tive com a prefeita de Paris, a prefeita de Santiago, em Nova Iorque, em Xangai conhecendo soluções de inovação de sustentabilidade das maiores metrópoles do mundo”, finalizou.

Da Redação