O que esperam as mães de escola pública dessas eleições municipais?

Brasil de Fato

Estamos mais uma vez diante de uma disputa eleitoral em que pouco se discute os reais problemas da cidade e as propostas de cada candidato para enfrentá-los. A educação passou quase despercebida nos debates, e no geral as propostas se apresentam parecidas, deixando eleitores um tanto em dúvida. É preciso olhar nas entrelinhas e na experiência prática vivenciada na cidade pelos usuários dos serviços públicos.

O que as mães esperam da escola pública é um espaço seguro, de proteção integral da infância e da juventude, onde crianças e adolescentes possam exercer o seu direito à educação com qualidade, se desenvolvendo, aprendendo e convivendo com seus pares, livres de preconceitos, estigmas e violências. Um lugar que possibilite um desenvolvimento pleno da pessoa, com direito à infância, ao brincar e à expressão de si, na perspectiva de um futuro melhor para a sociedade como um todo.  

Concretizar isso todos os dias a gente já sabe que não é tarefa fácil. Depende de um conjunto de fatores estruturantes, como transporte gratuito para garantir a frequência regular, alimentação balanceada, material escolar, uniforme, livros, equipe de limpeza, professores qualificados e valorizados em número suficiente, espaços físicos bem desenhados e cuidados e por aí vai. É preciso garantir uma base sólida, para que cada escola possa desenvolver o seu projeto político pedagógico.

O prefeito Ricardo Nunes enaltece a sua gestão pela fila zerada nas creches; pelo aumento de aporte de verbas para as APMs; pelas reformas nas unidades; e pela implementação do ensino integral em 50% das turmas de 1º ano. O que ele não fala em seu programa, obviamente, é que os CEIs conveniados não tem a mesma qualidade das unidades diretas, tanto em termos de espaço físico, quanto em termos de valorização profissional; que as reformas foram feitas sem consulta das prioridades de cada escola, no meio do ano letivo; e que para implementar as turmas integrais de primeiro ano descumpriu o princípio da gestão democrática ao passar por cima das decisões de diversos conselhos de escola.

A gestão Nunes na educação é marcada por ações que seguem um padrão de serem superficiais, sem planejamento e sem diálogo com a comunidade escolar, enquanto se abandona e precariza o que sustenta de fato a educação. Excesso de professores contratados temporariamente, equipe de limpeza terceirizada insuficiente e estagiários sem formação adequada para cuidar das crianças com deficiência são alguns exemplos dessa realidade.

Os mais de 500 mil tablets, entregues após pressão das famílias no pior momento da pandemia, sem um programa de manutenção adequado resultaram em insegurança e lixo eletrônico nas escolas. Temas fundamentais como educação antirracista e educação ambiental são apresentados em seu plano de governo na forma de projetos pontuais, como compra de bonecas étnicas e “rolê ecológico”.

Por falar em pandemia, a convivência, tão impactada pelos quase dois anos de isolamento dos estudantes, foi deixada de lado em detrimento da recuperação de aprendizagens a qualquer custo. Após episódios de violência nas escolas, a prefeitura não abriu diálogo com as unidades, e implementou ações que não tocam em aspectos necessários desse problema, como questões de gênero.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA), tão necessária após esse período de intensa evasão escolar, sofreu com o fechamento progressivo das turmas de EJA por parte da gestão Nunes. Não há incentivo para que as pessoas voltem aos estudos, muito menos divulgação nas grandes mídias. Guilherme Boulos, por sua vez, trouxe como prioridade o direito à educação durante toda a vida, incluindo em seu programa uma proposta para erradicar o analfabetismo na cidade. 

Ambos os candidatos trazem em suas propostas a educação integral. Quem vivencia a escola hoje sabe que não há estrutura para uma educação integral de qualidade para todos os alunos. As instalações prediais estão desatualizadas, com poucas áreas livres e de lazer, as turmas estão muito cheias e há falta de trabalhadores da educação de um modo geral. Para que uma educação integral se efetive sem precarização, é fundamental que seja implementada gradualmente, com investimento, construção de novas escolas e participação de outras secretarias como a de esporte e cultura. Além disso, o mais importante: que haja consulta à comunidade escolar e permanente diálogo com trabalhadores, estudantes e familiares nesse processo.

Acreditamos que a escuta e o respeito pelas diversas vozes presentes na escola deve ser a peça chave pra gente decidir nosso voto. É muito importante que a gente vá votar e escolha o candidato que esteja aberto à participação popular, assim como valorize a gestão democrática e os conselhos de escola. Uma política pública efetiva deve ser realizada de baixo pra cima, e nós estaremos atentas para que tenhamos voz e vez nessa nova gestão que está por vir na prefeitura de São Paulo. 

*Ciça Teixeira é mãe de dois adolescentes que estudam na rede municipal de São Paulo e milita pelos direitos de mães, crianças e adolescentes com o Coletivo Rema.

**Este é um artigo de opinião e não representa necessariamente a linha editorial do Brasil de Fato.

Da Redação